Meditações: 6 de agosto, Transfiguração do Senhor

Reflexão para meditar no dia 6 de agosto, Festa da Transfiguração do Senhor. Os temas propostos são: a Transfiguração, uma mensagem de esperança; uma antecipação do paraíso; descer do Tabor renovado.


SEIS dias depois de ter anunciado a sua morte e ressurreição aos discípulos, o Senhor tomou consigo Pedro, Tiago e João, «e levou-os sozinhos a um alto monte. E transfigurou-se diante deles, o seu rosto resplandeceu como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz» (Mt 17, 1-2). Antes da Paixão, «Jesus manifesta a sua glória aos apóstolos, para que tenham força para enfrentar o escândalo da cruz (Mt 17, 1-2) e compreendam que é necessário passar por muitas tribulações para chegar ao reino de Deus»[1]. O acontecimento da Transfiguração é, portanto, uma mensagem de esperança para os momentos da cruz. Os sofrimentos, as pequenas e grandes contrariedades da vida quotidiana, são a porta que nos leva a acompanhar o Senhor na sua glória: «Jesus, ver-te, falar-te! Permanecer assim, contemplando-te, abismado na imensidão da tua beleza, e nunca, nunca cessar nessa contemplação!»[2].

A vida é um caminho para o céu. E o Senhor ensinou aos apóstolos que, nesse caminho, o sofrimento não é apenas uma paragem inevitável, um tributo amargo a pagar contra a nossa vontade, mas que o próprio Jesus carregou a cruz, carregou-a por amor aos seus ombros. Ele entregou-se porque quis. Deste modo, mostra-nos que o verdadeiro mal não é tanto a experiência de uma contrariedade, mas a ideia de que temos de a ultrapassar sozinhos, ou pretender viver como se a cruz não existisse. «Não é verdade que, quando deixas de ter medo da Cruz, daquilo a que as pessoas chamam cruz, quando pões a tua vontade em aceitar a vontade divina, és feliz, e todas as preocupações, todos os sofrimentos físicos ou morais desaparecem?»[3]. A esperança de contemplar Jesus na sua glória, como fizeram os Apóstolos na Transfiguração, encher-nos-á de força para podermos ver o reflexo do seu rosto nas dificuldades do quotidiano.


PEDRO, contemplando a glória da Transfiguração, dirigiu a Jesus algumas palavras emocionadas: «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para ti, outra para Moisés e outra para Elias» (Mt 17, 4). O Apóstolo tinha experimentado uma antecipação do paraíso, uma felicidade que ia muito além das suas próprias expectativas e vivências. Por isso, talvez como qualquer um de nós, ele queria que aquele momento durasse para sempre, que não desaparecesse tão depressa como tinha chegado, ou com a rapidez com que tantas outras alegrias desapareciam. Mas Cristo não o permitiu. Não o tinha feito participante da glória do céu para que fugisse da realidade, mas para que tivesse um guia nos dias sombrios da Paixão. «A beleza de Jesus não afasta os discípulos da realidade da vida, mas dá-lhes a força para o seguirem até Jerusalém, até à cruz. A beleza de Cristo não é alienante, leva-nos sempre adiante, não nos faz esconder»[4].

Também nós podemos experimentar na terra uma antecipação do paraíso, momentos em que sentimos a presença de Jesus de modo particularmente forte, sobretudo nas pessoas que amamos. Na nossa vida de piedade, podemos também passar por fases de maior fruição afetiva. No amor conjugal no matrimónio, na família, na amizade sincera ou no desejo de melhorar o nosso mundo, podemos começar a saborear uma parte do cêntuplo que Deus nos prometeu. E é natural que, como Pedro, desejemos que estas circunstâncias permaneçam assim para sempre ou que durem o mais possível. No entanto, o Senhor permite estas antecipações do Céu, não para as reter a todo o custo, mas para nos estimular. A recordação destes momentos iluminar-nos-á para os dias de escuridão e guiar-nos-á para uma felicidade muito mais duradoura do que a da Transfiguração: a glória da vida eterna. «Um grande Amor espera-te no Céu: sem traição, sem engano: todo o amor, toda a beleza, toda a grandeza, toda a ciência...! E sem fastio: saciar-te-á sem saciar»[5].


ALGUMAS das mais importantes manifestações de Deus tiveram lugar no cimo da montanha. Assim se pode observar em episódios como o da aliança que fez com Abraão no Monte Moriá ou o da entrega das tábuas da Lei a Moisés no Sinai. A própria morte de Jesus também teve lugar noutro monte, o Calvário. E, na Transfiguração, o evangelista salienta que os apóstolos tiveram de subir ao cimo do Tabor (cf. Mt 17, 1). Esta ascensão convida-nos a «refletir sobre a importância de nos separarmos das coisas do mundo, para fazer um caminho até ao alto e contemplar Jesus. Trata-se de uma escuta atenta e orante de Cristo, o Filho predileto do Pai, procurando momentos de oração que nos permitam um acolhimento dócil e alegre da Palavra de Deus»[6].

Nos momentos de repouso, temos a oportunidade de nos desligar do ritmo da vida quotidiana e de escutar a voz de Jesus. Com o corpo e o espírito renovados, podemos aprofundar a nossa relação com Deus e com os outros: rezar com mais calma e serenidade, ler o Evangelho, passar mais tempo com a nossa família e amigos. Depois, podemos descer da montanha «carregados com a força do Espírito divino, para decidir novos passos de conversão e para testemunhar constantemente o amor como lei da vida quotidiana. Transformados pela presença de Cristo e pelo ardor da sua palavra, seremos um sinal concreto do amor vivificante de Deus para todos os nossos irmãos»[7].

S. Josemaria considerava que o verdadeiro descanso não é evasão, nem tempo dedicado exclusivamente ao ócio, mas separação da realidade quotidiana para «recuperar forças, ideais, propósitos… Em suma: uma mudança de ocupação, para voltar depois – com novo vigor – ao trabalho habitual»[8]. Podemos pedir a Maria que nos ajude a viver esses momentos de repouso – quer sejam prolongados durante um período de tempo ou breves momentos no quotidiano – com o desejo de contemplar Jesus como fizeram os Apóstolos na Transfiguração.


[1] Bento XVI, Angelus, 17/02/2008.

[2] S. Josemaria, Santo Rosário, quarto mistério luminoso.

[3] S. Josemaria, Via Sacra, II estação.

[4] Francisco, Angelus, 05/03/2023.

[5] S. Josemaria, Forja, n. 995.

[6] Francisco, Angelus, 06/08/2017.

[7] Ibid.

[8] S. Josemaria, Sulco, n. 514.