“Marcelo Câmara dá um rosto a milhões de pessoas que buscam a santidade no quotidiano”

Hoje, sábado, 6 de abril, será realizada a solenidade de conclusão da fase Arquidiocesana da Causa de Beatificação de Marcelo Câmara, em Florianópolis, Brasil. No dia 20 de março de 2008, numa Quinta-feira Santa, faleceu o servo de Deus Marcelo Câmara. Apresentamos uma entrevista a Maria Zoê Bellani, autora da biografia “No Caminho da Santidade: a vida de Marcelo Câmara, um Promotor de Justiça”.

No dia 6 de abril, no Santuário Sagrado Coração de Jesus, em Florianópolis, no Brasil, acontece a Solenidade de Encerramento da Fase Arquidiocesana da causa de Beatificação e Canonização do Servo de Deus Marcelo H. Câmara, presidida pelo Arcebispo D. Wilson Tadeu Jönck. No âmbito desta celebração, entrevistámos Maria Zoê Bellani Lyra Espindola, autora da biografia “No Caminho da Santidade: a vida de Marcelo Câmara, um Promotor de Justiça”. Ela conta-nos detalhes sobre este processo, que poderá levar mais um brasileiro aos altares.

1. Como e quando começaram as manifestações de graças alcançadas pela intercessão do Marcelo Câmara?

Após o falecimento do Marcelo em 2008, algumas pessoas que o conheceram e que viam a sua santidade começaram a pedir espontaneamente a sua intercessão para as mais diversas necessidades. Durante um período de 5 anos os relatos de graças alcançadas eram comunicados de uma pessoa para outra apenas verbalmente; não havia uma estrutura organizada para captação e registo. Somente com a aprovação da oração para devoção privada pelo Arcebispo de Florianópolis D. Wilson Tadeu Jönck, em 2013, organizou-se o site com um e-mail para comunicação dos favores. É importante mencionar que nesse período dos primeiros anos após o falecimento, devotos anónimos colocaram placas de graças alcançadas no túmulo de Marcelo no cemitério onde ele estava sepultado.

A esquerda: Maria Zoê e Marcelo Câmara

2. Quais foram as etapas mais importantes deste processo?

Iniciámos com uma fase preparatória e mais oculta de investigação da vida de virtudes e elaboração da biografia (que é requisito essencial para a instauração do processo), período que durou de 2012 a 2017. O primeiro marco significativo foi a Missa em ação de graças nos 10 anos da Páscoa do Marcelo com o lançamento oficial da sua biografia, em março de 2018. Em seguida a criação da Associação Marcelo Henrique Câmara, promotora da causa, com a entrega do pedido de abertura do processo ao Arcebispo, no dia 25 de novembro de 2018, numa Missa campal em frente à Catedral Metropolitana de Florianópolis na festa de Santa Catarina de Alexandria, padroeira do estado e encerramento do ano do laicado no Brasil. Após o recebimento do nihil obstat da Santa Sé, destaco o marco importantíssimo da convocação da primeira sessão solene do tribunal eclesiástico para a abertura do processo de beatificação, em 8 de março de 2020. E agora, finalizando 4 anos de instrução do inquérito diocesano com a junção de documentos e audição de depoimentos, aguardamos a sessão solene de encerramento da fase arquidiocesana em 6 de abril de 2024, na oitava da Páscoa, festa da Divina Misericórdia.

3. Já há algum milagre para a beatificação?

Nós, os da Associação Marcelo Henrique Câmara, já consideramos um verdadeiro milagre chegarmos ao final desta etapa. Quando me perguntam sobre isso, gosto de dizer que já recebemos muitos relatos com evidente caráter sobrenatural, com a inequívoca assinatura do Marcelo. Mas um relato que atenda aos rigorosos (e necessários) requisitos para servir ao processo, ainda não temos. E não precisamos de ter pressa; esta causa é obra de Deus, respondemos ao que Ele nos pede a cada etapa. Confiamos que no tempo oportuno o milagre para a beatificação ocorrerá. Até lá vamos evangelizando, divulgando a vida do Marcelo e celebrando as inúmeras graças que vão sendo derramadas ao longo deste caminho.

4. O prelado do Opus Dei quer que a prelatura esteja ao serviço e ao lado de outras realidades da Igreja Católica. Como a devoção ao Marcelo tem aproximado outros católicos do Obra?

    É impressionante como no testemunho do Marcelo se concretiza de forma muita clara este desejo do prelado, Mons. Fernando Ocáriz, este aspeto do espírito da Obra. Marcelinho soube harmonizar a diversidade dos carismas que tocavam e constituíam a sua vocação, consciente de que na Igreja esses dons do Espírito Santo se complementam e se somam. Promoveu a unidade, jamais a divisão e o encerramento, conciliando, na medida do possível, o serviço na paróquia e no Movimento de Emaús com o compromisso da sua vocação ao Opus Dei como fiel supranumerário. Observamos então um duplo movimento: ao mesmo tempo que aqueles que tomam contacto com a vida do Marcelinho se encantam pela santificação do quotidiano e buscam aprofundar o conhecimento acerca de São Josemaria Escrivá e do Opus Dei, a Obra é chamada nesta causa a trabalhar lado a lado com a realidade eclesial da Arquidiocese de Florianópolis e com as suas pastorais e movimentos, especialmente com a paróquia do Sagrado Coração de Jesus e o Movimento de Emaús. Estamos unidos ao serviço da Igreja.

    5. Qual mensagem que gostaria de deixar sobre a vida do Marcelo?

      Para nós do Opus Dei a vida do Marcelo confirma, ratifica a mensagem de São Josemaria Escrivá e do Concílio Vaticano II. É possível ser “santo de altar” vivendo a grandeza da vida corrente. A santidade é difícil, mas acessível a todos nós. É possível ser um homem de leis, e um servo de Deus, um cidadão do tempo que, através das realidades mais comuns e aparentemente sem qualquer transcendência, peregrina para a eternidade. Marcelo dá um rosto a milhões e milhões de pessoas que procuram viver santamente a sua vida corrente, os deveres e circunstâncias de cada dia.