Lisboa: António, médico voluntário nas Missionárias da Caridade durante a pandemia

Na semana em que a Igreja recorda a Madre Teresa de Calcutá, apresentamos o testemunho de António, supranumerário do Opus Dei que colabora em Chelas na Casa "Dom do Amor de Maria" onde vivem 20 Residentes com idades entre os 29 e os 97 anos. Uma coincidência no ano dedicado a S. José.

António (à esquerda) com as Missionárias e voluntários no Lar de Chelas

Desconhecia a existência da Congregação das Irmãs Missionárias da Caridade, em Lisboa, mas aconteceu que, depois de me aposentar, fiz o Mestrado de Cuidados Paliativos na Universidade Católica Portuguesa e rezei a São José para encontrar um trabalho. Mais tarde vim a saber que as Irmãs rezavam pedindo a São José um médico. Da convergência das nossas orações e, acima de tudo, da preciosa intercessão do Patriarca São José, surgiu a possibilidade de contactar a Casa das Irmãs.

depois de me aposentar, fiz o Mestrado de Cuidados Paliativos e rezei a São José para encontrar um trabalho

Em outubro de 2020, comecei a trabalhar como médico voluntário na Casa Dom do Amor de Maria, das Irmãs Missionárias da Caridade (também conhecidas como Irmãs de Calcutá), em Marvila.

A Capela é o centro da Casa e tem na parede, a Cruz com Cristo vivo e, ao lado, as palavras “I thirst” ("Tenho sede"), sede de Amor e de almas: recordam o chamamento de Jesus à Fundadora da Congregação das Missionárias da Caridade, a Santa Teresa de Calcutá, quando, em 10 de Setembro de 1946, viajava de comboio, de noite, de Calcutá para Darjeeling, na Índia. Na Capela podemos ver uma linda estátua da padroeira, o Imaculado Coração de Maria. Destacam-se a devoção a São José e à Fundadora com imagens à entrada da Casa e, na porta principal, o pedido: “Querido São José protege esta Casa e todas as pessoas que entram e saem”. Aliás, logo no início da pandemia, as Irmãs fizeram a Consagração da Casa a São José pedindo a sua especial proteção.

no início da pandemia, as Irmãs fizeram a Consagração da Casa a São José pedindo a sua especial proteção

Os 20 Residentes, com idades entre os 29 e os 97 anos, são pessoas pobres, rejeitadas, marginalizadas, abandonadas, miseráveis, deficientes, doentes, que são acolhidas e tratadas com a dignidade de Filhos de Deus. Muitas padecem de doenças crónicas, há doentes do foro psiquiátrico, alguns deslocam-se com dificuldade, outros estão acamados. A maioria tem biografias impressionantes, comoventes, dramáticas, por vezes chocantes, e encontram naquela Casa, quiçá pela primeira vez, um porto de abrigo, um gesto de carinho, uma palavra de compreensão.

Os Voluntários estão presentes desde manhã cedo e ajudam no que for necessário
Recordam-nos o Papa Francisco e o Cardeal Patriarca de Lisboa quando nos urge “a sair com Cristo ao encontro de todas as periferias” e nos fala da Igreja como um “Hospital de campanha”. Também S. Josemaria nos ensinou que “a caridade, mais do que em dar, está em compreender”(Carta de 9.1.1932).

Os voluntários estão presentes desde manhã cedo e ajudam no que for necessário, do levante à higiene, de vestir a cuidar de um doente, da alimentação a fazer as camas ou à limpeza dos espaços, da deslocação em casa à ida para consultas, tratamentos ou exames; ao mesmo tempo, promovem atividades lúdicas para distrair e alegrar os Residentes. É de relevar, com admiração e respeito, o apoio das jovens COmVIDdas principalmente durante o período mais grave da pandemia pelo SARS – Cov 2; e o excelente, e inestimável trabalho de duas Fisioterapeutas e de uma Enfermeira do Centro de Saúde.

As 6 Irmãs, uma das quais é Enfermeira, são os pilares e o motor da Casa, todas conheceram e conviveram com a Fundadora e já fizeram os votos perpétuos incluindo o célebre 4º voto, isto é, “levar o serviço gratuito de todo o coração aos mais pobres dos pobres”. São “contemplativas no coração do Mundo”, “levam Jesus ao Mundo e o Mundo a Jesus”, amam “até que doa”, estão disponíveis e levantam-se de noite para ver os seus doentes, para, como uma Mãe, dar a mão e fazer companhia a um doente mais grave; têm bom humor — esse admirável atributo dos Santos, são alegres, pacíficas, compreensíveis, simples, afetuosas no trato, resolvem as dificuldades com bom senso e sentido prático.

As irmãs são “contemplativas no coração do Mundo”, “levam Jesus ao Mundo e o Mundo a Jesus”, amam “até que doa”, estão disponíveis e levantam-se de noite para ver os seus doentes

Observei na Capela que a Irmã Superiora tinha consigo um frasco com rebuçados que dava a algum doente que tivesse acessos de tosse e assim resolvia a situação. Todas falam inglês, a língua oficial da Congregação, e quase todas falam português. A sua atividade está assente na Oração e nos Sacramentos. São muito rezadoras e gostam de ir a Fátima visitar Nossa Senhora. “Nalguns sítios onde o trabalho é particularmente desafiante duas Irmãs ficam em Casa em Adoração ao Santíssimo Sacramento a interceder pelas outras duas Irmãs que saem para o apostolado”, confessa a Irmã Frances, atual superiora da congregação.

O ambiente da Casa é tranquilo, distendido, os Residentes ajudam no que podem, ouvimos uma Irmã que canta, outra que ri com gosto ou até dá uma gargalhada, há doentes conhecidos por um nome carinhoso como o “Paizinho”, o “Mano”, a “Mariazinha” ou o “Bispo de Chelas”. Há dias de festa, por exemplo, quando um Residente faz anos. Há pessoas que tocam à porta a pedir auxílio para a alimentação, a medicação ... para uma palavra amiga de conforto. E há conversões. O relacionamento é atento, amável e, como nos ensina o Papa Francisco, cheio de “bondade e de ternura”.

há doentes conhecidos por um nome carinhoso como o “Paizinho”, o “Mano”, a “Mariazinha” ou o “Bispo de Chelas”.

De manhã, nos momentos que antecedem a Missa das 8:30 horas, há uma certa confusão, apenas aparente, porque vemos a deslocação dos doentes que vêm com o andarilho ou em cadeiras de rodas, os que sobem pelas escadas ou pelo monta-cargas, ajudados pelas Irmãs e pelos voluntários, sempre presentes. Ouvimos um Residente em cadeira de rodas que nos chama com voz forte para o levarmos do monta-cargas para a Capela, pois está preocupado em chegar a tempo à Missa. Enfim tudo se passa de tal modo que é surpreendente ver como todos estão no seu lugar à hora certa para a Eucaristia. É uma Graça de Deus, um bálsamo para a alma, ver como tudo se resolve tão naturalmente bem.

Encontrei uma Casa de Família, uma escola de Caridade! Com efeito, toda a atividade está marcada pelo “bonus odor Christi” que se revela no espírito de serviço, na dedicação e entrega das Irmãs, na generosidade dos voluntários, na ajuda recíproca dos Residentes. Por isso nos diz a Irmã Frances que “não importa o que façamos, por mais pequeno ou insignificante que seja, é a Jesus que o fazemos. E exige de nós uma grande responsabilidade, pois o que fazemos aos mais pobres é a Jesus que o fazemos: o Corpo de Cristo, que nós tocamos nos doentes, nos que estão sós, nos que não são amados, nos que ninguém quer” (Irmã Frances, MC. Igreja do Cristo Rei da Portela, 23 de Novembro de 2019).

agradeço a São José a oportunidade como médico voluntário e lado a lado com as Irmãs e os outros Voluntários, cuidar das pessoas doentes na Casa Dom do Amor de Maria.

Agora, passados oito meses, agradeço a Deus-Pai e a São José a oportunidade, a honra e a felicidade de, como médico voluntário e lado a lado com as Irmãs e os outros voluntários, cuidar das pessoas doentes na Casa Dom do Amor de Maria.

No dia 26 de maio de 2021 fomos todos ao Santuário de Fátima pedir a bênção e em Ação de Graças pela proteção de Nossa Senhora durante a pandemia, em particular quando foram infetados praticamente todas as Irmãs e os Residentes e, também, alguns Voluntários; e ainda para pedir a intercessão da Mãe de Deus para o futuro.


Madre Teresa de Calcutá, religiosa que se distinguiu pelo serviço aos pobres, faleceu a 5 de setembro de 1997 em Calcutá, Índia. Foi canonizada pelo Papa Francisco, a 4 de setembro de 2016, no Vaticano, e recebeu o Prémio Nobel da Paz, em 1979.

Ver também:

Testemunho do João: Em Chelas às 7 da manhã para ajudar as Missionárias da Caridade

Para entender a Madre Teresa (artigo de D. Javier Echevarría em “La Vanguardia”)

Carta que o Prelado do Opus Dei enviou à Madre Superiora das Missionárias da Caridade por ocasião da canonização de Teresa de Calcutá.