João Paulo II começou por dizer que este Natal era para ele "especialmente significativo porque se insere no 25º ano do meu pontificado. Precisamente por isso faço-vos participantes do meu agradecimento ao Senhor - disse - pelos dons que me concedeu neste longo período de tempo ao serviço da Igreja universal".
"O nosso encontro - continuou - decorre num clima particular porque se celebra no Ano do Rosário. (...) A carta apostólica Rosario Virginis Mariae sublinhou o valor antropológico desta oração que, ajudando-nos a contemplar Cristo, leva-nos a olhar o ser humano e a história à luz do seu Evangelho".
O Santo Padre afirmou que não se pode esquecer que o rosto de Cristo "continua a apresentar um traço doloroso, de verdadeira paixão, pelos conflitos que ensanguentam tantas regiões do mundo, e por aqueles que ameaçam manifestar-se com renovada violência. A situação na Terra Santa continua a ser simbólica, como as guerras 'esquecidas', que não são menos devastadoras. O terrorismo continua ceifando vítimas e cavando mais fossos. Face a este horizonte banhado de sangue, a Igreja não cessa de fazer ouvir a sua voz, e sobretudo, continua a elevar a sua oração".
O Papa referiu-se posteriormente à beleza da criação, na qual se adverte "um raio do esplendor" do rosto de Cristo", mas também "a devastação que a negligência humana é capaz de causar no ambiente. (...) Por isso - acrescentou -, estou contente por ter podido testemunhar também este ano em diversas ocasiões o compromisso da Igreja no âmbito ecológico".
No que respeita às relações com os Estados, "recordei a todos - disse João Paulo II - a urgência de colocar no centro da política, nacional e internacional, a dignidade da pessoa humana e o serviço ao bem comum".
Depois de recordar a celebração da Jornada Mundial da Juventude, celebrada em Julho em Toronto (Canadá), o Santo Padre destacou "a presença tão numerosa de jovens", sem esquecer tantos outros "seduzidos por outras mensagens o desorientados por milhares de propostas diferentes . Os jovens têm o dever de evangelizar os seus coetâneos".
Depois o Papa recordou os progressos efectuados no caminho ecuménico, apesar de alguns "motivos de amargura". "Mas - prosseguiu - temos que fixar-nos mais nas luzes que nas sombras". E citou, além da declaração conjunta com o patriarca Bartolomeu I, a visita a Roma da Delegação da Igreja Ortodoxa da Grécia com uma mensagem do arcebispo de Atenas e de toda a Grécia, Sua Beatitude Christodoulos, o encontro com o patriarca ortodoxo romeno Teoctist com quem, no passado mês de Outubro assinou uma declaração comum.
"Quando chegaremos à comunhão plena com os irmãos ortodoxos?", perguntou. "A resposta permanece no mistério da Divina Providência, mas a confiança em Deus não nos dispensa do compromisso pessoal. Por isso é necessário intensificar acima de tudo o ecumenismo da oração e da santidade".
À santidade, "cume - destacou João Paulo II -, da paisagem eclesial", estiveram dedicados os últimos parágrafos do discurso do Pontífice, que deu graças a Deus pelas beatificações e canonizações deste ano: as de Pedro de São José Betancur, de Juan Diego e dos mártires de Oaxaca durante a sua viagem apostólica à Cidade de Guatemala e Cidade do México, e em Roma as do Padre Pio de Pietrelcina e de São Josemaría Escrivá de Balaguer, que suscitaram "um eco particular na opinião pública". "No sinal da santidade - concluiu - desenvolveu-se também a minha viagem apostólica à Polónia, para a dedicação do santuário da Divina Misericórdia em Cracóvia-Lagiewniki. Nessa ocasião recordei de novo ao nosso mundo, que se sente tentado pelo desânimo face a tantos problemas por resolver e às incógnitas ameaçadoras do futuro, que Deus é 'rico em misericórdia'. Para quem confia n'Ele nada está perdido definitivamente; tudo se pode reconstruir".