Texto e áudio da homilia do Pe. José Rafael de 19 de março (11 minutos)

O Vigário Regional pediu a todos que, seguindo e exemplo de S. José, saibam renovar o desejo de corresponder à vontade de Deus; e fez um apelo à confiança em Deus, que amorosamente nos acompanha em especial quando permite momentos difíceis, e a saber encontrar n’Ele consolo e força.

Áudio da homilia


Caríssimas irmãs e caríssimos irmãos:

Ouvimos no evangelho um dos momentos em que Deus deixou Nossa Senhora e S. José experimentarem a Cruz que acompanharia a vida de Jesus, até à entrega suprema do Calvário.

Diz: “eles não entenderam as palavras que Jesus lhes disse”. Mas um pouco mais adiante dirá o evangelho também: “Sua Mãe guardava todos estes acontecimentos em seu coração”. E podemos deduzir que o mesmo fez S. José.

Deus levou José por uma longa vida de alegrias e dores. O prelado do Opus Dei, o Padre, dizia numa mensagem deste mês, sobre S. José: “Ante o mistério da Encarnação, durante a fuga para o Egito, no regresso a Nazaré e quando Jesus perdido fica no Templo (…), S. José procura acolher com prontidão o que Deus lhe pede, mesmo que não seja o que ele inicialmente tinha pensado, e apesar da incerteza que isso podia trazer sobre o seu futuro” (Mons. Fernando Ocáriz, mensagem de 11 de Março de 2020). Não compreende, mas confia e põe tudo da sua parte para se identificar com o que Deus lhe pede.

olhamos para S. José e pedimos-lhe ajuda para sabermos ficar serenos, e confiarmos totalmente no nosso Pai Deus

É para todos nós um modelo. Em particular nos momentos que vivemos. Momentos de insegurança, incerteza, em que a nossa fragilidade pessoal e colectiva se manifesta de modo imponente. Por isso, olhamos para S. José e pedimos-lhe ajuda para sabermos ficar serenos, e confiarmos totalmente no nosso Pai Deus. Ontem, o Papa Francisco aconselhou-nos a invocar S. José com confiança, especialmente nos momentos difíceis, e a confiar-lhe a nossa existência.

Na nossa vida, por vezes, parece-nos que perdemos Jesus, que andamos angustiados à Sua procura. É altura de ouvir Jesus a dizer: “porque me procuras? Não sabias que Eu não te abandono?”. Talvez não compreendamos os caminhos de Deus: “mas sempre os podemos amar, com a certeza de que Deus quer o nosso bem, e esta convicção levar-nos-á a atuar com liberdade de espírito” (Mons. Fernando Ocáriz, mensagem de 11 de Março de 2020), e em consequência, com alegria.

O que é que significa amar e confiar em Deus? É saber que Deus, quando dá a carga, dá também a força, que “tudo concorre para o bem daqueles que O amam” (Rom 8, 28), que “Deus, dos males tira bens, dos grandes males, grandes bens” (cf. S. Josemaria, Instrucción 19-III-1934, n. 40). Agora, provavelmente vemos sobretudo os males, as ameaças, mas é preciso olhar para o Céu e abrir-nos já aos bens que Deus quer dar. S. José, meu pai e senhor, intercedei por mim!

Ajudemos os que estão à nossa volta a ter serenidade, alegria e paz. Mas, para isso, não nos deixemos dominar pelo nervosismo, a aflição, e a incerteza. Como? Em primeiro lugar, fazendo muitos actos de confiança em Deus. Quem confia, agradece tudo, também o que angustia. Depois, sendo sóbrios nas redes sociais. A avalanche de notícias alarmistas só inquieta, e não dá nenhuma solução. O dever de estar informados de forma responsável, exige bom senso, e não se dá bem com dramatismos desnecessários ou precipitados. E por outro lado, estando bem dispostos, com a visão positiva que é possível ter em tudo, sabendo passar por cima dos incómodos inevitáveis. E estando prevenidos para os momentos de saturação que o encerramento pode originar. Estou inquieto? Estou irritado, impaciente? Então o caminho é rezar mais. E parar um pouco para não reagir a quente, e procurar um modo de espairecer dentro do que está permitido.

Penso de um modo particular nos que estão numa situação de risco. Seja pela idade, pelas limitações de saúde, seja pelo que for. E penso nos que cuidam deles. Além de tomar as precauções devidas, é talvez a altura de dizer: “abandono-me, Senhor, totalmente nas tuas mãos: aconteça o que acontecer, o Teu amor, meu Deus, vai acompanhar-me”.

Penso também nos pais e nas mães com filhos pequenos e que vivem em espaços apertados. Invoquem o Espírito Santo, rezem à Sagrada Família, recolham boas experiências, e façam desta circunstância uma ocasião para “crescer para dentro”, como refere S. Josemaria (cf. Caminho, n. 294), também no amor que sustenta a vida familiar. Hoje, dia do pai, é garantido que S. José ajudará todos os pais no seu papel. E estarão alegremente disponíveis e entregues para o que for necessário.

Estou inquieto? Estou irritado, impaciente? Então o caminho é rezar mais. E parar um pouco para não reagir a quente, e procurar um modo de espairecer dentro do que está permitido.

Penso também naqueles que têm o seu trabalho agora alterado, com dificuldades. São momentos para nós nos reinventarmos e confiar em Deus Nosso Senhor. E santificar estas circunstâncias em que estamos, porque está aí Deus, que quer que nós nestas circunstâncias também nos identifiquemos mais com Ele.

Faz hoje sete anos teve que teve o seu início solene o pontificado do Papa Francisco. Boa ocasião para nos ligarmos em união de sentimentos e intenções ao nosso pai comum. Na homilia desse dia de 2013, o Papa perguntou: “Como vive José a sua vocação de guardião de Maria, de Jesus, da Igreja? Numa constante atenção a Deus, aberto aos seus sinais, disponível mais ao projecto d’Ele (de Deus) que ao seu.” Como ouvíamos na primeira leitura: é Deus quem há de construir a nossa casa. “José é «guardião», porque sabe ouvir a Deus, deixa-se guiar pela sua vontade e, por isso mesmo, se mostra ainda mais sensível com as pessoas que lhe estão confiadas (...). Nele, queridos amigos,” diz o Santo Padre, “vemos como se responde à vocação de Deus: com disponibilidade e prontidão; mas vemos também qual é o centro da vocação cristã: Cristo. Guardemos Cristo na nossa vida, para guardar os outros, para guardar a criação!” (Francisco, homilia, 19 de Março de 2013).

Neste dia procuramos renovar a nossa disposição firme de corresponder à vontade de Deus para nós, à nossa vocação.

Neste dia procuramos renovar a nossa disposição firme de corresponder à vontade de Deus para nós, à nossa vocação. Pedimos a S. José que nos ajude a manter sempre viva a disponibilidade e a prontidão. Aqui estou, meu Deus, para começar de novo! Nas circunstâncias destes dias, semanas ou meses de confinamento, dentro das limitações, de fora e de dentro, quero, Senhor, com todo o coração corresponder plenamente. Sei que as minhas fraquezas e erros não são um obstáculo, porque és Tu Quem me guias, Quem me levantas. Como diz o Padre numa das suas cartas: “Como é libertador saber que Deus nos ama como somos, e nos chama, em primeiro lugar, a deixar-nos amar por Ele!” (Mons. Fernando Ocáriz, Carta, 9 de janeiro de 2018, n. 7). Deus ama-nos exactamente como somos, e chama-nos: conta connosco, aqui e agora, em primeiro lugar para nos deixarmos transformar por este Seu amor que se manifesta todos os dias.

Antes de terminar, umas palavras para as pessoas que participam na formação do Opus Dei e que connosco assumem o desafio que Deus nos confiou de pôr Cristo no cume de todas as actividades humanas. Procurem crescer no vosso amor a Deus e no vosso amor aos outros, com factos concretos e diários. Recorram a S. José, para que vos ajude a dizer “sim” ao amor que Deus tem por cada um. Não tenhas receio da tua debilidade: aprende a confiar em Deus. E se alguém sente a inquietação, boa e divina, de corresponder mais, eu digo-lhe: “faz-te ao largo”; estas circunstâncias são muito boas para começar uma aventura divina que encherá de alegria a tua vida, mesmo no meio de dificuldades grandes.

Recorram a S. José, para que vos ajude a dizer “sim” ao amor que Deus tem por cada um. Não tenhas receio da tua debilidade: aprende a confiar em Deus.

Que S. Josemaria, que viveu uma situação de confinamento forçado, parecido ao que vivemos, nos ajude a agarrar-nos a Nossa Senhora e a S. José, e a crescer assim todos os dias em santidade e apostolado.

Lisboa, 19 de Março de 2020