Homilia do Prelado na festa do Beato Álvaro del Portillo (2023)

"Podemos pedir ao Senhor que saibamos cultivar estas mesmas atitudes de D. Álvaro: humildade e serviço à Igreja", disse Mons. Fernando Ocáriz na missa celebrada em 12 de maio de 2023 na basílica de Santo Eugénio (Roma).

Celebramos hoje a festa do Beato Álvaro del Portillo. Começámos esta santa Missa com umas palavras na Antífona de entrada que bem se poderiam aplicar a D. Álvaro: “Este é o servo fiel e prudente, que o Senhor pôs à frente da sua família”. Como pastor da família do Opus Dei, a sua principal preocupação foi cuidar das suas filhas e filhos. Deste modo, desempenhou o seu serviço à Igreja, chegando também a uma multidão de outras almas

As leituras da Missa mostram-nos a figura do Bom Pastor. Deus, por meio do profeta Ezequiel, assegura ao seu povo que, apesar das dificuldades, Ele não os abandonará. «Eu mesmo cuidarei das minhas ovelhas e me interessarei por elas (…); cuidarei a que está ferida e tratarei da que está doente» (Ez 34, 11-16). É Deus quem guia. É Deus quem salva. E isto D. Álvaro sabia-o bem. Era consciente de que tinha muitos talentos e, mais ainda, sabia que os tinha recebido do Senhor para colaborar no cuidado paternal das pessoas que lhe tinham sido confiadas. Nesta tarefa, além disso, tinha aprendido de S. Josemaria que a humildade é o verdadeiro caminho que leva à santidade, também como pastor: se reconhecemos a grandeza de Deus e como atua através de nós – com talentos e até com debilidades –, compreendemos que o seu infinito amor está muito próximo e que Ele não nos abandona nunca. A humildade abre os olhos à compreensão desse modo de fazer de Deus: através dos pastores, é também Ele que continua a procurar-nos.

Foi assim que D. Álvaro cuidou do rebanho do Opus Dei. Com a humildade e a responsabilidade do pastor, que deseja transmitir a bênção de Deus a todos. Viveu com os desvelos próprios de um pai que dá o melhor da sua vida pelos seus filhos. Afinal, D. Álvaro procurou amar como Cristo o fez: «Eu sou o bom pastor – lemos no Evangelho – conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-me» (Jo 10, 14). A sua atitude humilde, além disso, infundia paz e serenidade. Podemos aperceber-nos disso até nas imagens que dele conservamos. Confiava em Deus, e convidava os seus filhos a pôr a esperança em Quem nunca defrauda.

O Papa Francisco, na carta que escreveu na altura da beatificação de D. Álvaro, sublinhou outro aspeto que marcou a sua vida, além da humildade. «Destacava-se especialmente o seu amor à Igreja, esposa de Cristo, à qual serviu com um coração despojado de interesses mundanos, longe da discórdia, acolhedor para com todos e buscando sempre o lado positivo nos demais, o que une, o que constrói. Nunca uma queixa ou crítica, nem sequer nos momentos especialmente difíceis, quando, como aprendeu de S. Josemaria, respondia sempre com a oração, o perdão, a compreensão, a caridade sincera».

Recordando os benefícios que a sua vida nos reportou a nós e à Igreja, podemos pedir ao Senhor que saibamos cultivar estas mesmas atitudes de D. Álvaro: a humildade e o serviço à Igreja em todos os ambientes, na família, no trabalho e nas nossas amizades. Está ao alcance das nossas mãos procurar sempre o que há de positivo nos outros, pois sempre podemos reparar mais no que nos une e não tanto no que nos possa separar. A proximidade de Deus – principalmente nos sacramentos – permite-nos responder em cada momento com a compreensão e o perdão quando uma pessoa não se ajustar às nossas expetativas. Embora nalguns ambientes possa reinar por vezes a crispação ou a desunião, podemos reagir com oração, para descobrir como atuar com um estilo de vida marcado pelo Evangelho.

A expressão “obrigado, perdão e ajuda-me mais” era uma jaculatória que D. Álvaro costumava repetir com frequência. Podemos terminar considerando como tinha um coração agradecido a Deus por todos os bens que tinha recebido do Senhor. E como, fruto dessa atitude, sabia também pedir perdão. A consciência da sua fraqueza não lhe tirava a paz, mas levava-o a pedir mais ajuda. Levava-o a confiar mais na providência divina e também na proteção maternal da Virgem Maria. Podemos recorrer a Ela neste mês de maio para que, como D. Álvaro, sejamos pessoas agradecidas, humildes e com desejos de cuidar com delicadeza daqueles que nos rodeiam, como expressão do nosso serviço à Igreja.