Homilia da Missa de Ordenação Diaconal (Novembro de 2011)

Homilia proferida por D. Javier Echevarría, Prelado do Opus Dei na Basílica de Santo Eugénio (Roma) no passado dia 5 de Novembro

Queridos irmãos e irmãs

Queridíssimos filhos que vão receber o diaconado.

1. Cada vez que se celebra uma ordenação diaconal ou presbiteral, a Igreja universal dá graças a Deus e reza pelos que vão ser diáconos, incardinando-se na Prelatura da Santa Cruz e Opus Dei. Não há dúvida que, em todos os lugares da terra, milhares de pessoas estão unidas espiritualmente conosco e nos transmitem a força da sua oração. Junto a nós, pedem que o Senhor derrame abundantemente sua graça sobre os novos diáconos.

Todos juntos nos associamos ao canto de louvor dos bem-aventurados que contemplam e amam a Santíssima Trindade no Céu, assim como a oração das almas que se purificam no Purgatório. Admiremos esta maravilhosa realidade da Igreja, a Comunhão dos Santos, que se manifesta de modo especial no mês de Novembro, no qual a memória dos defuntos se acha mais presente. Tratemos, pois, de aumentar a intensidade deste colóquio com o Céu, participando profundamente na Santa Missa hoje e, se podemos, frequentemente, para prolongar a  nossa oração durante toda a jornada, em união com o sacrifício de Cristo.

      

Cumprimento com muito carinho e gratidão as famílias dos ordenandos e seus amigos. Peço-vos que rezeis mais por eles, com a certeza de que eles rezarão por vocês. Façamos um esforço nesta cerimónia para que nossas súplicas confluam no canto de adoração e ação de graças que é a Santa Missa.

2. Em todas as celebrações eucarísticas, a Oração Coleta expressa de modo sintético o que a Igreja pede a Deus. No caso de hoje diz assim: Ó Pai, que na escola do seu Filho Jesus ensina aos seus ministros não a ser servidos, mas a servir aos irmãos; concede a estes eleitos para o diaconado a graça de ser incansáveis no dom de si, vigilantes na oração, alegres e acolhedores no serviço à comunidade [1].

     

Ao administrar o diaconado, primeiro grau do sacramento da Ordem, o próprio Jesus, por meio da Igreja, concede a quem o recebe, o triplo encargo de pregar com autoridade a Palavra de Deus, ajudar o Bispo e os presbíteros, e pôr-se a serviço do povo cristão nas obras de caridade. Hoje, deter-me-ei a considerar uma condição essencial que está na base da eficácia de todo o ministério eclesiástico, e também no fundamento de cada existência cristã: uma intensa vida de oração.

A Igreja pede-vos, queridíssimos ordenandos, que sejam vigilantes na oração. Um dos encargos confiados a vocês consiste precisamente em dar voz ao Corpo místico de Cristo por meio da Liturgia das Horas. Com a recitação dos salmos e das demais orações do breviário, será elevada ao Céu a oração de louvor em nome da Igreja e em favor da humanidade. Por isso, tratem de cumprir este encargo com aquela piedade e aquele amor que vi na vida de S.Josemaria, que recolheu num ponto de Forja: Era assim que um sacerdote desejava dedicar-se à oração, enquanto recitava o Ofício divino: “Terei por norma dizer no começo: quero rezar como rezam os santos, e depois convidarei o meu Anjo da Guarda a cantar, comigo, os louvores ao Senhor” [2]. E logo acrescenta, estendendo o conselho à oração de todos os fiéis: Experimenta este caminho para a tua oração vocal e para fomentares a presença de Deus no teu trabalho [3].

3. Todos os baptizados têm a missão de colaborar na difusão da mensagem evangélica pelo mundo inteiro, na santificação de todas as realidades humanas. Para cumprir este encargo é indispensável a oração. O próprio Jesus nos ensina a comportar-nos deste modo. Os Evangelhos mostram que dedicava momentos concretos da jornada – às vezes, a noite inteira – para falar em filial oração com seu Pai celestial. Embora a oração não se esgote na recitação de orações vocais, estas são muito oportunas sempre que se reze com pausa e atenção. Logicamente, o cristão não deveria contentar-se somente com este modo de dirigir-se a Deus: é preciso manter um diálogo pessoal com Ele, cara-a-cara; um diálogo feito de escutar a sua voz e de dirigir a Ele nossas palavras.

Bento XVI tem vindo a desenvolver uma catequese sobre a oração. Com ela, propõe animar os cristãos a conversar habitualmente com o Senhor, com Maria, com os Santos; e não somente nos casos de necessidade. A nossa aspiração há-de ser a de chegar a converter-nos em pessoas que se sabem sempre em presença de Deus e que, em consequência, procuram manter uma conversa com Ele em todas as circunstâncias.

      

Não devemos pensar que é uma coisa muito difícil. Rezar é dirigir o pensamento ao nosso Criador com espírito de adoração, de ação de graças, pedindo ajuda... A oração sai ao encontro dos desejos mais profundos do coração humano, por que fomos criados para amar e servir a Deus na terra, e depois, gozar d’Ele eternamente. Escreveste-me: “Orar é falar com Deus. Mas de quê?”—De quê? D’Ele e de ti: alegrias, tristezas, êxitos e fracassos, ambições nobres, preocupações diárias..., fraquezas; e ações de graças e pedidos; e Amor e desagravo. Em duas palavras: conhecê-Lo e conhecer-te – ganhar intimidade! [4].       

Hoje em dia encontramo-nos absorvidos por muitas atividades e trabalhos; por isso, hoje mais do que nunca, é necessário estabelecer momentos concretos para falar com Deus, “momentos para recolher-nos no silêncio e meditar sobre o que o Senhor nos quer ensinar, sobre como está presente e atua no mundo e em nossa vida: ser capazes de parar um momento para meditar” [5]. O Santo Padre recorda-nos que Santo Agostinho comparava a meditação à assimilação do alimento e utilizava um verbo que aparece em toda a tradição cristã: “ruminar”. Para que as passagens do Evangelho e os mistérios de Deus acabem por converter-se em algo familiar para nós, sejam guia de nossa vida e nos nutram espiritualmente, é necessário fazê-los ressoar em nosso interior.

A oração mental ou meditação consiste neste “ruminar” e pode ser feita de diversos modos. S.Josemaria ensina-nos de modo eloquente: A oração - recorda-o - não consiste em fazer discursos bonitos, frases grandiloquentes ou que consolem...Oração é, às vezes, um olhar a uma imagem de Nosso Senhor ou de sua Mãe; outras, um pedido com palavras; outras, o oferecimento das boas obras, dos resultados da fidelidade...[6]

E não esqueçamos que aproximar-se da confissão é outro modo de rezar, porque o perdão de Deus ajuda a fazer oração com paz.

Se, com a ajuda do Espírito Santo, levamos a sério os tempos dedicados à meditação, acabaremos maravilhados dos seus efeitos em nossa existência e na dos demais: estaremos mais serenos e contentes, por que as preocupações desaparecerão como a névoa à luz do sol; dedicaremos mais atenção ao serviço dos demais. Cumpriremos melhor o nosso trabalho e contribuiremos para a realização de uma semente abundante de paz e de alegria no mundo inteiro.

     

Aconselho-vos que levem à meditação e que ofereçam a oração vocal pela Pessoa e intenções do Papa, dos bispos, dos sacerdotes e seminaristas, dos religiosos, e rezem pela santidade das nossas irmãs e dos nossos irmãos que vivem no meio do mundo, como gostava de dizer o fundador do Opus Dei. 

Cumpriremos sem dúvida os nossos propósitos com a ajuda de Maria, Mestra de oração, que – como diz o Evangelho – conservava dentro de si as coisas que se referiam a Jesus e as meditava em seu coração [7]. 

Louvado seja o Senhor!

[1] Missa para a ordenação diaconal, Coleta.

[2] S.Josemaria, Forja, n. 747.

[3] Ibid.

[4] S.Josemaria, Caminho, n. 91.

[5] Bento XVI, Discurso na audiência geral, 17-VIII-2011.

[6] S.Josemaria, Forja, n. 73.

[7] Cfr. Lc 2, 19, 51.