Étienne (França): «No jardim do meu pai…»

Depois de ter ensinado História e Geografia em escolas profissionais durante 10 anos, Étienne decidiu em 2016, pouco depois da publicação da Laudato si, recuperar a quinta hortícola do pai, dedicar-se à permacultura e vender os seus produtos no mercado. Uma nova vida profissional encarada como um lugar de encontro com Deus e com o seu próximo … À imagem da sua história que ele aceitou partilhar neste artigo.

Étienne a vender os seus produtos no mercado

Último de três filhos, cresci em Isère numa família que me transmitiu a fé. A minha infância foi marcada por um acontecimento importante. Em 1989, estive em coma no decurso de uma meningite fulminante. Uma provação que a minha família viveu com oração e depois em ação de graças após a minha cura. Consciente desde esse momento que a vida era um dom precioso, tive desde cedo o desejo de consagrar a minha alma a Deus e de testemunhar a minha fé junto das pessoas que conhecesse.

S. Josemaria ensinou-me a importância do trabalho habitual

Quando entrei na escola secundária, comecei a participar nas atividades propostas por um centro do Opus Dei em Grenoble. O ambiente era fantástico e tocou-me a mensagem de S. Josemaria sobre o trabalho habitual como meio de santificação e de cooperação para a Obra de Deus. Eu, que até esse momento não tinha interesse nenhum pelo trabalho, compreendi, ao ver os estudantes mais velhos do que eu a trabalhar com determinação e bom humor, a importância de cuidar os talentos que Deus me tinha dado para também eu ter alguma coisa que oferecer aos outros. Deste modo, a minha vida começou a mudar: entendi como uma evidência que se queria servir Deus, também o podia fazer pelo meu trabalho. Esta evidência permitiu-me realizar a unidade entre a minha fé e a minha vida quotidiana. Foi assim que naturalmente pedi a admissão ao Opus Dei enquanto fazia os meus estudos de História. Sinto que foi uma decisão que me permite estar onde devo estar desde sempre e assim conservar a minha fé e vivê-la.

O meu trabalho, lugar de encontro e de testemunho

Apesar de o meu percurso profissional ter tido uma grande viragem há uns anos, existe uma coisa que não mudou desde a época dos meus estudos: o meu desejo de transmitir a mensagem cristã à minha volta. Quando era estudante, os meus colegas intrigavam-se por causa do meu compromisso de celibato. Explicar-lhes as razões deste compromisso levou muitas vezes a discussões profundas e sinceras. Quando me tornei professor, foi através do profissionalismo do meu trabalho, a amizade com os meus colegas e a disponibilidade aos meus alunos que procurei testemunhar a minha fé. Lembro-me de um aluno que, tendo-se deparado por casualidade durante o seu estágio com As confissões de Sto. Agostinho, não tinha ninguém a quem fazer perguntas sobre este livro que o tinha desafiado. Recorreu então a mim e, graças a esta casualidade providencial, pudemos ter muitas discussões animadas e entusiasmantes.

A questão ecológica, uma porta de entrada para o essencial

Agora que sou agricultor e trabalho nos mercados, tenho oportunidade de conhecer pessoas muito diferentes, que encontro regularmente - sobretudo porque organizo frequentemente piqueniques e jantares de convívio para conhecer melhor algumas delas-, que me contam as suas alegrias e tristezas, pelas quais rezo e com as quais posso criar verdadeiras relações de amizade. Muitas vezes, é em torno da questão ecológica que nascem as nossas primeiras discussões. Percebo que se trata de uma questão que se torna tão existencial que algumas pessoas não hesitam em reconsiderar a sua vida em função desta variável – o que certamente dá muita profundidade às nossas discussões! Alguns clientes também me perguntam porque é que chamei à minha empresa Dans le jardin de mon père. Explico-lhes que, para mim, isso lembra o facto de ter retomado o trabalho do meu pai, mas também a minha forma de me considerar como um colaborador do trabalho de Deus (o Pai) e não como um proprietário. Uma forma de transmitir esta magnífica mensagem de S. Josemaria sobre a santificação do trabalho ordinário que me tinha tocado tanto quando era aluno no secundário e de constatar que ela continua a tocar cada pessoa a quem a transmito. E também de dar a conhecer o magnífico texto do Papa Francisco, Laudato si!