Contemplação dos mistérios luminosos do Terço

Contemplar os mistérios luminosos com o livro "Santo Rosário". Numa manhã de dezembro de 1931, depois de celebrar a missa, S. Josemaria escreveu de uma tirada este pequeno livro. Depositava nessas páginas o seu modo de meditar os mistérios da vida de Jesus e de Maria e de recitar o terço com amor e piedade. Foi traduzido para vinte e três línguas e conta com mais de cem edições.

Textos de S. Josemaria sobre os mistérios luminosos do Apêndice do livro "Santo Rosário"


O livro "Santo Rosário" de S. Josemaria

Numa manhã de dezembro de 1931, depois de celebrar a Missa, S. Josemaria escreveu de uma tirada este pequeno livro. Depositava nessas páginas o seu modo de meditar os mistérios da vida de Jesus e de Maria e de recitar o terço com amor e piedade. Foi traduzido para vinte e três línguas e conta com mais de cem edições: números que falam por si do impacto espiritual das suas páginas em milhões de pessoas de todo o mundo: números que falam por si do impacto espiritual das suas páginas em milhões de pessoas de todo o mundo.

João Paulo II, na Carta apostólica "O Rosário da Virgem Maria", estabeleceu que, sendo Cristo o centro e a origem desta oração dirigida a Nossa Senhora, não podiam esquecer-se alguns dos capítulos fundamentais da vida do Senhor. «Passando da infância e da vida de Nazaré à vida pública de Jesus, a contemplação leva-nos aos mistérios que se podem chamar, por especial título, “mistérios da luz”. Na verdade, todo o mistério de Cristo é luz. Ele é a “luz do mundo” (Jo 8, 12)». (S. João Paulo II, O Rosário da Virgem Maria, n. 21).

Os comentários a estes mistérios não pertenciam ao livro original "Santo Rosário", escrito em 1931, por S. Josemaría. Mas, como explica D. Javier Echevarría, antigo Prelado do Opus Dei, o Fundador “contemplara-os e pregara sobre eles com amor, ao longo de toda a sua vida, como fizera aliás, com todas as passagens do Evangelho”.

Para facilitar aos leitores a meditação completa do Santo Rosário, recolheram-se das obras escritas do fundador do Opus Dei algumas passagens, entre muitas possíveis, que foram reunidas num apêndice.


1.º Mistério: O Batismo do Senhor no Jordão

Então, veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser batizado por ele. João opunha-se, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti, e Tu vens a mim?» Jesus, porém, respondeu-lhe: «Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça»

Evangelho de S. Mateus:

Então, veio Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser batizado por ele. João opunha-se, dizendo: «Eu é que tenho necessidade de ser batizado por ti, e Tu vens a mim?» Jesus, porém, respondeu-lhe: «Deixa por agora. Convém que cumpramos assim toda a justiça.» João, então, concordou.

Uma vez batizado, Jesus saiu da água e eis que se rasgaram os céus, e viu o Espírito de Deus descer como uma pomba e vir sobre Ele. E uma voz vinda do Céu dizia: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado».

(Mt 3, 13-17)

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Então foi Jesus da Galileia ao Jordão ter com João, para ser baptizado por ele. E eis uma voz do Céu, que dizia: Este é o meu Filho, o amado, no qual pus as minhas complacências (Mt 3, 13.17).

No Batismo o nosso Pai, Deus, tomou posse das nossas vidas, incorporou-nos na vida de Cristo e enviou-nos o Espírito Santo.

A força e o poder de Deus iluminam a face da Terra.

Faremos arder o mundo nas chamas do fogo que vieste trazer à terra!… E a luz da Tua verdade, ó nosso Jesus, iluminará as inteligências por dia sem fim!

Ouço-Te clamar, ó meu Rei, com a forte voz, que vibra: ignem veni mittere in terram, et quid volo nisi ut accendatur? – E respondo, com todo o meu ser, com os meus sentidos e as minhas potências: ecce ego: quia vocasti me!

Nosso Senhor pôs-te na alma um selo indelével, por meio do Batismo: és filho de Deus.

Criança, não ardes em desejos de fazer com que todos O amem?


2.º Mistério: as bodas de Caná

Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá

Evangelho de S. João

Ao terceiro dia, celebrava-se uma boda em Caná da Galileia e a mãe de Jesus estava lá. Jesus e os seus discípulos também foram convidados para a boda. Como viesse a faltar o vinho, a mãe de Jesus disse-lhe:

«Não têm vinho!»

Jesus respondeu-lhe:

«Mulher, que tem isso a ver contigo e comigo? Ainda não chegou a minha hora.» 

Sua mãe disse aos serventes:

«Fazei o que Ele vos disser!»

Ora, havia ali seis vasilhas de pedra preparadas para os ritos de purificação dos judeus, com capacidade de duas ou três medidas cada uma. 

Disse-lhes Jesus:

«Enchei as vasilhas de água.»

Eles encheram-nas até cima. Então ordenou-lhes:

«Tirai agora e levai ao chefe de mesa.»
E eles assim fizeram. O chefe de mesa provou a água transformada em vinho, sem saber de onde era - se bem que o soubessem os serventes que tinham tirado a água; chamou o noivo e disse-lhe:

«Toda a gente serve primeiro o vinho melhor e, depois de terem bebido bem, é que serve o pior. Tu, porém, guardaste o melhor vinho até agora!»

(Jo 2, 1-10)

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Entre tantos convidados de uma ruidosa boda rural a que vêm pessoas de muitos lugares, Maria dá pela falta de vinho. Repara nisso imediatamente – e só Ela. Que familiares se nos apresentam as cenas da vida de Cristo! Porque a grandeza de Deus convive com o humano – com o normal e corrente. Realmente, é próprio de uma mulher, de uma atenta dona de casa, reparar num descuido, estar presente nesses pequenos pormenores que tornam agradável a existência humana; e assim aconteceu com Maria.

Implete hydrias (Jo 2, 7), – enchei as vasilhas! –, e dá-se o milagre. Assim mesmo, com toda a simplicidade. Tudo normal: eles cumpriam o seu ofício, e a água estava ao seu alcance… E foi esta a primeira manifestação da divindade do Senhor! O que há de mais vulgar converte-se em extraordinário, em sobrenatural, quando temos a boa vontade de fazer o que Deus nos pede.

Quero, Senhor, abandonar todos os meus cuidados nas Tuas mãos generosas. A nossa Mãe – a Tua Mãe! – a estas horas, como em Caná, já fez soar aos Teus ouvidos: não têm!…

Se a nossa fé é débil, recorramos a Maria. Devido ao milagre das bodas de Caná que Cristo realizou a pedido de sua Mãe, acreditaram n´Ele os discípulos (Jo 2, 11). A nossa Mãe intercede sempre diante de seu Filho para que nos atenda e se nos mostre de tal modo que possamos confessar: – Tu és o Filho de Deus.

– Dá-me, ó Jesus, essa fé que de verdade desejo! Minha Mãe e Senhora minha, Maria Santíssima, faz com que eu creia!


3.º Mistério: o anúncio do Reino de Deus

Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo: «Completou-se o tempo e o Reino de Deus está próximo

Evangelho de São Marcos:

Depois de João ter sido preso, Jesus foi para a Galileia, e proclamava o Evangelho de Deus, dizendo: Está completo o tempo, e aproxima-se o Reino de Deus; fazei penitência, e crede no Evangelho. Passando ao longo do mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que lançavam as redes ao mar, pois eram pescadores. E disse-lhes Jesus:

«Vinde comigo e farei de vós pescadores de homens».

Deixando logo as redes, seguiram-no.

(Mc 1, 14-18)

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– Está completo o tempo, e aproxima-se o Reino de Deus; fazei penitência, e crede no Evangelho (Mc 1, 15).

E vinha a Ele todo o povo, e ensinava-o (Mc 2, 13).

Jesus vê aquelas barcas na margem, e sobe para uma delas. Com que naturalidade se mete Jesus na barca de cada um de nós!

Quando te aproximares do Senhor, lembra-te de que Ele está sempre muito perto de ti, dentro de ti: Regnum Dei intra vos est (Lc 17, 21). No teu coração O encontrarás.

Cristo deve reinar, em primeiro lugar, na nossa alma. Para que Ele reine em mim, preciso da sua graça abundante, pois só assim é que o mais imperceptível pulsar do meu coração, a menor respiração, o olhar menos intenso, a palavra mais corrente, a sensação mais elementar se traduzirão num hossana ao meu Cristo Rei.

Duc in altum – Ao largo! – Repele o pessimismo que te torna cobarde. Et laxate retia vestra in capturam – e lança as redes para pescar.

Devemos, confiar nessas palavras do Senhor: meter-se na barca, pegar nos remos, içar as velas e lançar-nos a esse mar do mundo que Cristo nos deixa em herança.

Et regni ejus non erit finis. – O Seu Reino não terá fim!

Não te dá alegria trabalhar por um reinado assim?


4.º Mistério: a transfiguração do Senhor

Seis dias depois, Jesus tomou consigo Pedro, Tiago e seu irmão João, e levou-os, só a eles, a um alto monte. Transfigurou-se diante deles: o seu rosto resplandeceu como o Sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz. Nisto, apareceram Moisés e Elias a conversar com Ele. Tomando a palavra, Pedro disse a Jesus:

Evangelho de São Mateus:

«Senhor, é bom estarmos aqui; se quiseres, farei aqui três tendas: uma para ti, uma para Moisés e outra para Elias.» Ainda ele estava a falar, quando uma nuvem luminosa os cobriu com a sua sombra, e uma voz dizia da nuvem:

«Este é o meu Filho muito amado, no qual pus todo o meu agrado. Escutai-o.»

Ao ouvirem isto, os discípulos caíram com a face por terra, muito assustados. Aproximando-se deles, Jesus tocou-lhes, dizendo:

«Levantai-vos e não tenhais medo.»

Erguendo os olhos, os discípulos apenas viram Jesus e mais ninguém.
9Enquanto desciam do monte, Jesus ordenou-lhes:

«Não conteis a ninguém o que acabastes de ver, até que o Filho do Homem ressuscite dos mortos.

(Mt 17, 1-9)

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E transfigurou-Se diante deles. E o Seu rosto ficou refulgente como o Sol, e as Suas vestes tornaram-se brancas como a neve (Mt 17, 2).

Jesus: ver-Te, falar contigo! Permanecer assim, contemplando-Te; abismado na imensidade da Tua formosura, e nunca, mais deixar de Te contemplar! Ó Cristo, quem Te pudesse ver! Quem Te visse, para ficar ferido de amor por Ti!

E eis que da nuvem uma voz dizia: Este é o meu Filho dileto em quem pus toda a minha complacência: ouvi-O (Mt 17, 5)

Senhor nosso, aqui nos tens, dispostos a escutar tudo o que nos quiseres dizer. Fala-nos; estamos atentos à Tua voz. Que as Tuas palavras, caindo na nossa alma, inflamem a nossa vontade, para que se lance fervorosamente a obedecer-Te!

Vultum tuum, Domine, requiram (Sl 26,8) – buscarei, Senhor, o Teu rosto. Encanta-me cerrar os olhos, e considerar que chegará o momento – quando Deus quiser – em que poderei vê-lo, não como num espelho, e sob imagens obscuras…, mas face a face (1Cor 13, 12). Sim, o meu coração está sedento do Deus, do Deus vivo; quando irei e verei a face de Deus? (Sl 41, 3).


5º mistério da luz: a instituição da Eucaristia

«Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco, antes de padecer, pois digo-vos que já não a voltarei a comer até ela ter pleno cumprimento no Reino de Deus.»

Evangelho de S. Lucas:

Quando chegou a hora, pôs-se à mesa e os Apóstolos com Ele. Disse-lhes:

«Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco, antes de padecer, pois digo-vos que já não a voltarei a comer até ela ter pleno cumprimento no Reino de Deus.»

Tomando uma taça, deu graças e disse:

«Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até chegar o Reino de Deus.»

Tomou, então, o pão e, depois de dar graças, partiu-o e distribuiu-o por eles, dizendo:

«Isto é o meu corpo, que vai ser entregue por vós; fazei isto em minha memória.»

Depois da ceia, fez o mesmo com o cálice, dizendo: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue, que vai ser derramado por vós.»

(Lc 22, 14-20)

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Antes do dia da festa da Páscoa, sabendo Jesus que tinha chegado a sua hora de passar deste mundo ao Pai, tendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até ao fim (Jo 13, 1).

Caía a noite sobre o mundo, porque os velhos ritos, os antigos sinais da misericórdia infinita de Deus para com a humanidade iam realizar-se plenamente, abrindo caminho a um verdadeiro amanhecer: a nova Páscoa. A Eucaristia foi instituída durante a noite, preparando de antemão a manhã da Ressurreição.

Jesus ficou na Eucaristia por amor…, por ti.

Ficou, sabendo como o receberiam os homens… e como o recebes tu.

Ficou, para que O comas, para que O visites e Lhe contes as tuas coisas e, falando intimamente com Ele na oração junto do Sacrário e na receção do Sacramento, te apaixones cada dia mais e faças com que outras almas – muitas! – sigam o mesmo caminho.

– Menino bom: como beijam as flores, as cartas, as recordações de quem amam, os enamorados da terra!…

– E tu? Poderás esquecer-te alguma vez de que O tens sempre a teu lado… a Ele!? Esqueces-te… de que O podes comer?

– Senhor, que eu não volte a voar pegado à terra, que esteja sempre iluminado pelos raios do Teu divino Sol – Cristo – na Eucaristia, que o meu voo não se interrompa até encontrar o descanso do Teu Coração!