Catequese - Os vícios e as virtudes: 17. A vida da graça segundo o Espírito

Nesta nova catequese o Papa Francisco falou da vida da graça segundo o Espírito, sublinhando que «O Espírito Santo é concedido para que quantos O recebem possam distinguir claramente o bem do mal».

Estimados irmãos e irmãs, bom dia!

Nas últimas semanas, refletimos sobre as virtudes cardeais: prudência, justiça, fortaleza e temperança. São estas as quatro virtudes cardeais. Como já salientamos várias vezes, estas quatro virtudes pertencem a uma sabedoria muito antiga, precedente até ao cristianismo. Já antes de Cristo, a honestidade era preconizada como dever cívico, a sabedoria como regra das ações, a coragem como ingrediente fundamental para uma vida que tende para o bem, e a moderação como medida necessária para não se deixar dominar pelos excessos. Esta herança tão antiga, legado da humanidade, não foi substituída pelo cristianismo, mas esclarecida, valorizada, purificada e integrada na fé.

Portanto, no coração de cada homem e mulher existe a capacidade de procurar o bem. O Espírito Santo é concedido para que quantos O recebem possam distinguir claramente o bem do mal, ter a força de aderir ao bem evitando o mal e, agindo assim, alcançar a plena realização pessoal.

Mas no caminho que todos percorremos rumo à plenitude da vida, que pertence ao destino de cada pessoa - o destino de cada pessoa é a plenitude, ser cheia de vida - o cristão goza de uma ajuda especial do Espírito Santo, o Espírito de Jesus. Ela é implementada com o dom de outras três virtudes, distintamente cristãs, que nos escritos do Novo Testamento são frequentemente mencionadas juntas. Estas atitudes fundamentais, que distinguem a vida do cristão, são três virtudes que agora diremos juntos: fé, esperança e caridade. Digamo-las juntos: [juntos] Fé, esperança... não ouço nada, mais alto! [juntos] Fé, esperança e caridade. Muito bem! Os escritores cristãos chamaram-lhes depressa virtudes “teologais”, dado que são recebidas e vividas na relação com Deus, para as diferenciar das outras quatro virtudes chamadas “cardeais”, uma vez que constituem a “charneira” de uma vida boa. Estas três são recebidas no Batismo e derivam do Espírito Santo. Todas, tanto as teologais como as cardeais, confrontadas em muitas reflexões sistemáticas, compuseram assim um maravilhoso septenário, que muitas vezes é oposto ao elenco dos sete vícios capitais. É assim que o Catecismo da Igreja Católica define a ação das virtudes teologais: «Fundamentam, animam e caraterizam o agir moral do cristão. Informam e vivificam todas as virtudes morais. São infundidas por Deus na alma dos fiéis para os tornar capazes de proceder como filhos seus e assim merecerem a vida eterna. São o penhor da presença e da ação do Espírito Santo nas faculdades do ser humano» (n. 1813).

Enquanto o risco das virtudes cardeais consiste em gerar homens e mulheres heroicos na prática do bem, mas em última análise sozinhos, isolados, o grande dom das virtudes teologais é a existência vivida no Espírito Santo. O cristão nunca está sozinho. Pratica o bem não por um esforço titânico de empenhamento pessoal, mas porque, como discípulo humilde, caminha atrás do Mestre Jesus. Ele vai à frente ao longo do caminho. O cristão possui as virtudes teologais que são o grande antídoto contra a autossuficiência. Quantas vezes certos homens e mulheres moralmente irrepreensíveis correm o risco de se tornarem presunçosos e arrogantes aos olhos de quem os conhece! É um perigo contra o qual bem nos alerta o Evangelho, onde Jesus recomenda aos discípulos: «Também vós, quando tiverdes feito tudo o que vos foi ordenado, dizei: “Somos servos inúteis, fizemos o que devíamos fazer”» (Lc 17, 10). A soberba é um veneno, um veneno poderoso: basta uma gota para estragar toda uma vida marcada pelo bem. Uma pessoa pode ter praticado uma montanha de boas ações, pode ter recebido reconhecimentos e louvores, mas se fez tudo isto apenas para si própria, para se exaltar, ainda pode dizer-se uma pessoa virtuosa? Não!

O bem não é apenas um fim, mas também um modo. O bem precisa de muita discrição, de muita gentileza. O bem tem necessidade sobretudo de se despojar desta presença às vezes demasiado incómoda que é o nosso “eu”. Quando o nosso “eu” está no centro de tudo, estraga tudo. Se cada ação que realizarmos na vida for apenas para nós próprios, é realmente tão importante esta motivação? O pobre “eu” apodera-se de tudo e assim nasce a soberba.

Para corrigir todas estas situações, que às vezes se tornam penosas, as virtudes teologais são de grande ajuda. São-no sobretudo nos momentos de queda, pois às vezes até aqueles que têm bons propósitos morais caem. Na vida todos caímos, porque todos somos pecadores. Tal como até os que praticam diariamente a virtude às vezes erram - todos erramos na vida - a inteligência nem sempre é lúcida, a vontade nem sempre é firme, as paixões nem sempre são governadas, a coragem nem sempre vence o medo. Mas se abrirmos o coração ao Espírito Santo - Mestre interior - Ele reaviva em nós as virtudes teologais: assim, se perdemos a confiança, Deus reabre-nos à fé - com a força do Espírito; se estamos desanimados, Deus reabre-nos à fé, se estamos desencorajados Deus desperta em nós a esperança; e se o nosso coração está empedernido, Deus suaviza-o com o seu amor. Obrigado!

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