A virtude da ordem

São Josemaria Escrivá dava muita importância à virtude da ordem para a vida cristã. Para ele, a ordem não é apenas uma questão de organização externa, mas uma virtude interior que reflete a harmonia e a paz da alma. «Quando tiveres ordem, multiplicar-se-á o teu tempo e, portanto, poderás dar mais glória a Deus, trabalhando mais ao seu serviço».

Um aspeto da prudência a que São Josemaria atribui grande importância é a ordem: a “ordem interior” nos pensamentos, intenções e afetos, da qual deriva a “ordem exterior” na conduta (como virtude, não simplesmente como mecanismo).

No campo da atividade humana[1], a ordem implica o reconhecimento de uma prioridade ou não, das ações em relação a um princípio. Há dois elementos aqui.

Em primeiro lugar, a ordem deve estar presente em todas as ações. Assim lemos em Caminho: «Virtude sem ordem? – Estranha virtude!»[2]. São Josemaria considera que a ordem é necessária para que qualquer ato seja um ato virtuoso e isso é próprio da prudência, cujo objetivo é indicar a “medida” das ações. Nesse sentido, a ordem é um aspeto da virtude da prudência, que consiste em indicar o “lugar” das ações ou “ordená-las”.

O segundo elemento é o princípio ordenador ou orientador do comportamento. Para o cristão, esse princípio é a caridade, o amor a Deus. São Josemaria destaca que a vida do cristão comum requer, antes de tudo, «procurar o verdadeiro centro da vida humana, o que pode dar uma hierarquia, uma ordem e um sentido a tudo: a intimidade com Deus»[3]. Somente à luz desse foco central é possível descobrir o lugar de cada coisa, a ordem nos bens procurados pela vontade, nos afetos e nas ações: o que tem prioridade e o que deve esperar. A ordem é, portanto, em suma, um ato da virtude da prudência informada pela caridade.

A importância dessa virtude é grande para os fiéis comuns que são solicitados por várias ocupações. «Quando há muitas coisas a fazer, é necessário estabelecer uma ordem, impõe-se organizar a vida. Muitas dificuldades provêm da falta de ordem, da carência deste hábito»[4].

Entre os conselhos de São Josemaria na prática dessa virtude, o mais importante, e de longe o mais frequente, é dar prioridade, ao longo do dia, às práticas de piedade que cada um planeou: em primeiro lugar está a relação com Deus, e isso geralmente expressa-se, quando a caridade não exige outra coisa, em colocar o cumprimento amoroso do “plano de vida espiritual” antes das outras ocupações habituais. Depois disso, seguem-se muitas outras recomendações, sobre as quais não nos podemos deter, relacionadas com a pontualidade, a ordem material nos instrumentos de trabalho e até mesmo na maneira de se apresentar: «Que o teu porte exterior seja o reflexo da paz e da ordem do teu espírito»[5].

A ordem dará harmonia à tua vida e brindar-te-á a perseverança. A ordem proporcionará paz ao teu coração e gravidade à tua compostura.

Os efeitos interiores e exteriores da prática dessa virtude encontram-se resumidos nas palavras de Forja: «A ordem dará harmonia à tua vida e brindar-te-á a perseverança. A ordem proporcionará paz ao teu coração e gravidade à tua compostura»[6].


Este artigo apresenta algumas ideias do livro Vida cotidiana y santidad en la enseñanza de San Josemaría tomo II, dos Professores E. Burkhart e J. López.


[1] Não nos vamos deter em outros usos do termo ordem. Veja-se São Tomás de Aquino, In I Sent., d. 20, q. 1, a. 3, sol. 1; S.Th. IIII, q. 26, a. 1.

[2] São Josemaria, Caminho, n. 79.

[3] São Josemaria, Entrevistas a São Josemaria, n. 88.

[4] Ibid.

[5] São Josemaria, Caminho, n. 3.

[6] São Josemaria, Forja, n. 806. “Perseverança” aqui significa perseverança no amor a Deus, no caminho da vocação à santidade.