A mulher na sociedade

São Josemaria sempre enalteceu o papel da mulher e a sua contribuição essencial na Igreja e na sociedade.

São Josemaria escreveu numerosos textos que ajudam os seus leitores a aproximar-se de Deus e a rezar. Mas soube também explicitar, com uma visão muito moderna, vanguardista, o lugar da família na sociedade, o sentido do amor humano, a importância da educação dos filhos e o papel da mulher.

Falou muitas vezes do lugar particular da mulher tendo em conta a missão específica a que está chamada a desempenhar na sociedade.

Face à evolução das sociedades e à presença sempre crescente da mulher no mundo profissional, São Josemaria reflectiu sobre a conciliação entre a vida profissional e a vida familiar.

«Em virtude dos dons naturais que lhe são próprios, a mulher pode enriquecer enormemente a vida social», constata ele.  

Escrevia em 1968:

- Em primeiro lugar, parece-me oportuno não opor estes dois mundos, profissão e família. Da mesma forma que na vida do homem, mas com nuances muito particulares, a família e o lar ocuparão sempre na vida da mulher um lugar central; dedicar-se às tarefas familiares constitui, é evidente, uma grande missão humana e cristã. Contudo, tal não exclui a possibilidade de se ocupar noutras actividades profissionais – a do lar é igualmente uma delas – nas diversas profissões e trabalhos dignos que existem na sociedade onde se vive. 

No plano pessoal, não se pode afirmar unilateralmente que a mulher não deve procurar a sua plenitude senão no seu lar, como se o tempo consagrado à sua família fosse um tempo “roubado” ao desenvolvimento e ao desabrochar da sua personalidade. O lar – seja qual for, porque a mulher não casada deve também ter um lar – é um meio particularmente propício ao desenvolvimento da personalidade. A atenção dada à família será sempre para a mulher a sua maior dignidade: desvelando-se pelo seu marido e pelos filhos ou, falando em termos gerais, trabalhando para criar à sua volta um ambiente acolhedor e formador, a mulher cumpre o que há de mais insubstituível na sua missão e, por consequência, ela pode aí aspirar à sua perfeição pessoal.

Como acabei de dizer, isso não se opõe a que ela participe noutras actividades da vida social, mesmo na política, por exemplo. Nestes sectores a mulher pode também dar uma contribuição preciosa enquanto pessoa, e sempre com as particularidades da sua condição feminina; e terá aí êxito na medida em que esteja preparada no plano humano e no profissional. É evidente que quer a família quer a sociedade têm necessidade do seu contributo particular, que é tudo menos secundário.

Desenvolvimento, maturidade, emancipação da mulher, tudo isso não deve significar uma pretensão de igualdade – de uniformidade – em relação ao homem, uma imitação do comportamento masculino. Tal não seria um sucesso mas, bem pelo contrário, um recuo para a mulher: não porque ela valha mais ou menos que o homem mas porque é diferente.

Sobre o essencial – que deve ter o necessário reconhecimento jurídico, quer no direito civil quer no direito canónico – é evidente que se pode falar de igualdade de direitos porque a mulher possui, exactamente ao mesmo nível que o homem, a dignidade de pessoa e de filha de Deus. Mas, a partir desta igualdade fundamental, cada um tem direito a realizar em si mesmo o que lhe é próprio; e neste plano, a palavra emancipação significa a possibilidade real de desenvolver inteiramente as suas próprias virtualidades, as que possui enquanto indivíduo e as que possui enquanto mulher. A igualdade perante o direito, a igualdade quanto às alterações da legislação não suprimem, antes implicam e favorecem esta diversidade que constitui uma riqueza para todos.

  A mulher é chamada a dar à família, à sociedade civil, à Igreja, o que lhe é característico, o que lhe é próprio e que só ela pode dar, a sua ternura delicada, a generosidade infatigável, o amor ao concreto, a finura de espírito, a intuição, a piedade profunda e simples, a sua tenacidade.  A feminilidade não é autêntica, se a mulher não sabe descobrir a beleza deste contributo insubstituível e incorporá-lo na sua própria vida.

Para cumprir esta missão, a mulher deve desenvolver a sua própria personalidade, sem se deixar seduzir por um espírito de imitação ingénuo que – em geral – a situará num plano de inferioridade e deixaria atrofiar as suas possibilidades mais originais. Se a mulher receber uma boa formação na procura de autonomia pessoal, de autenticidade, ela realizará eficazmente a tarefa, a missão para a qual se sente chamada, qualquer que seja, a sua vida e o seu trabalho serão então realmente construtivos e fecundos, cheios de sentido, quer passe o dia ocupada com o seu marido e os seus filhos quer se, tendo renunciado ao casamento por um motivo elevado, se dedica inteiramente a outras tarefas.

Cada uma no seu próprio caminho, sendo fiel à sua vocação humana e divina, pode esperar e consegue de facto o desabrochar da sua personalidade feminina. Não esqueçamos que a Virgem Maria, Mãe de Deus e Mãe dos homens, não é somente um modelo, mas muito mais do que isso, é a prova do valor transcendente que uma vida, na aparência sem relevo, pode ter.