A canonização de Escrivá de Balaguer: entrevista ao prelado do Opus Dei

Entrevista com D. Javier Echevarría, publicada pela agência de notícias MISNA (Missionary Service News Agenzy), especializada em informação sobre o Sul do planeta e que tem como fonte privilegiada os milhares de missionários espalhados por esses países. O prelado do Opus Dei adianta que “será numerosa e significativa a presença da parte meridional do mundo” na canonização de Josemaría Escrivá.

O Centro Médico Monkole, inspirado nos ensinamentos do beato Josemaría, iniciou as suas actividades na R. D. do Congo em 1987.

África é sobretudo conhecida pelas grandes tragédias humanas, os milhões de deslocados, a grande epidemia da SIDA, as guerras sem fim, em especial nas zonas tropicais. O Opus Dei, que celebra dentro de pouco tempo a canonização do seu fundador, que iniciativas tomou em prol da juventude tendo em vista abrir o caminho a novas esperanças nos países africanos mais problemáticos? Dessas iniciativas, quais foram directamente incentivadas pelo fundador, Escrivá de Balaguer, especialmente para o desenvolvimento de um laicado responsável? Como se pode promover a solidariedade entre os chamados Norte e Sul?

O trabalho mais importante da Prelatura é o que cada um dos seus fiéis, com liberdade e responsabilidade, realiza pessoalmente no seu ambiente e dentro das suas possibilidades. Os fiéis africanos do Opus Dei, que graças a Deus são já alguns milhares, esforçam-se antes de mais – tal como os asiáticos, os americanos, os europeus ou os da Oceania – por viver coerentemente a sua fé. Esse empenho pessoal leva-os a desenvolver, com colegas e amigos, projectos encaminhados a resolver as necessidades materiais e espirituais dos seus povos. Sofrem perante os problemas da SIDA, da pobreza, das rivalidades tribais e procuram fazer tudo o que podem por erradicá-las. Como cristãos, sentem-se chamados a santificar-se no meio do mundo, desse mundo concreto de África, com as suas luzes e as suas sombras.

Para além deste esforço pessoal, a prelatura do Opus Dei promove em África numerosas iniciativas, principalmente de âmbito educativo e sanitário: hospitais, universidades, escolas, centros de formação profissional para a mulher.

A partir de 1957, um bom número de fiéis do Opus Dei procedentes de muitos países quiseram mudar-se para África, para aí realizar o seu trabalho profissional e para servir os seus concidadãos como médicos, veterinários, enfermeiras, professores, engenheiros agrónomos. Eles e elas deram a conhecer o espírito que anima o Opus Dei: a santificação do trabalho profissional. Hoje em dia são muitos os africanos que também servem os seus concidadãos deste modo. Porque, a meu ver, é o trabalho profissional e apostólico dos próprios africanos, não o dos que vêm de fora, a autêntica medida das esperanças de um continente onde os horizontes são tão vastos e promissores, se se trabalhar a sério.

Gostaria ainda de acrescentar que a África pode enriquecer muito a Europa com a sua abertura à transcendência, com a alegria que os africanos mostram na vida quotidiana, também nas dificuldades, com a sua capacidade de comunicação e a estima pelos valores da família e da amizade, com a nobreza que sabem manifestar como reflexo da dignidade humana, com a sua maneira de viver o tempo.

Como prelado do Opus Dei, trabalha sobre as linhas traçadas pelo fundador e pelo seu primeiro sucessor. Poderia assinalar, sobretudo nos países missionários e em especial nos países do Sul, iniciativas que, durante as últimas décadas, tenham aberto novas oportunidades? Que critérios inspiram essas iniciativas? Poderia fazer um balanço das iniciativas mais desenvolvidas?

Como repetia Mons. Escrivá de Balaguer, o mundo inteiro é terra de missão; por isso, em todos os lugares a Igreja está chamada a uma intensa actividade apostólica. Em África, entre as iniciativas que os fiéis do Opus Dei puseram em funcionamento – junto com outras muitas pessoas, também não cristãs – nestes quarenta e cinco anos de presença no continente africano, mencionaria o Centro Médico Monkole, em Kinshasa, um hospital que desenvolve um notável trabalho de cuidados básicos de saúde num meio onde as pessoas carecem até do mais elementar, e que tem já várias núcleos de expansão no Congo. Gostaria também de referir a Lagos Business School, na Nigéria, para a formação de empresários africanos, a quem se pretende dar uma boa preparação sobre gestão empresarial, ao mesmo tempo que se fomenta a preocupação pelas necessidades da comunidade. Porque para incentivar o desenvolvimento e combater a pobreza e a corrupção é indispensável uma boa formação moral, também na doutrina social da Igreja, e uma sólida formação empresarial.

Neste momento, nas vésperas da canonização, não posso deixar de mencionar o projecto Harambee 2002, um fundo destinado a apoiar programas educativos em África, que foi criado com donativos dos fiéis que irão assistir à canonização de Josemaría Escrivá, e de todas as pessoas e entidades que queiram colaborar. Harambee 2002 é um monumento em homenagem às ideias fundamentais que referi: o que é importante são as pessoas; neste caso os africanos, que têm de ser os artífices do progresso em África. Por esse motivo, a educação converte-se num elemento imprescindível do desenvolvimento, pois abre o acesso ao trabalho e ao progresso, tanto material como espiritual. A educação é um modo, se me permite a expressão, de semear esperança. O projecto Harambee 2002 quer ser um grão de areia neste compromisso colectivo.

Neste contexto, parece-me de justiça que todos recordemos com gratidão os milhares de missionários e missionárias que desde há muitos séculos se dedicam generosamente às actividades educativas, gastando toda a sua vida ao serviço dos outros. E que grande é o seu amor a África, e aos africanos!

Federico Mandillo // MISNA