A alegria de ser apóstolo

São Josemaria animava-nos a ser o próprio Cristo que passa ao lado das pessoas, a dar aos outros o mesmo amor de Cristo amigo. Por isso, é lógico que alimentemos na nossa oração este desejo humano e divino de ter sempre novos amigos, porque «Deus serve-se muitas vezes de uma amizade autêntica para realizar a sua obra salvadora», como afirma Mons. Fernando Ocáriz.

No Evangelho, o Senhor anima-nos a pôr os meios para que todo o mundo O conheça: «Ide por todo o mundo e anunciai o Evangelho». Mas como fazê-lo no século XXI? É realmente necessário “ir para outras partes do mundo”? O habitual é que não: em qualquer lugar encontramos pessoas que precisam de conhecer Deus ou de fortalecer a sua relação com Ele; e nós próprios necessitamos da ajuda de outras pessoas para viver com mais profundidade a nossa fé. Então, como posso ajudar os outros a encontrarem-se com Deus? Como posso ser apóstolo “aqui e agora”, e em que consiste realmente “ser apóstolo”?

São João conta-nos que o apóstolo Santo André, depois de ter encontrado Jesus e passado um dia inteiro com Ele, quando regressou a casa «encontrou primeiro o seu irmão Simão e disse-lhe: “Encontrámos o Messias” (...). E levou-o a Jesus»[1]. Este é o início da relação de São Pedro com Jesus, que o levará a dar a sua vida por Cristo.

A atitude de Santo André descreve a essência do apostolado cristão. Ele tinha passado aquele dia em casa de Jesus e, quando se vai, fala aos seus amigos desse novo Amigo que encontrou. Ser apóstolo consiste nisso: em estar muito próximo do Senhor, de tal forma que se torne natural levar Deus às pessoas que nos rodeiam. Por isso, o apostolado não é uma atividade que se leva a cabo em certas circunstâncias ou quando se está com algumas pessoas mais afastadas de Deus, mas é um traço essencial de quem experimenta a proximidade do Senhor: «Não fazemos apostolado, somos apóstolos!»[2].

Ser “brasa acesa”

Por isso, a primeira condição para ser apóstolo é cultivar uma profunda amizade com Deus. «A amizade com Jesus é indissolúvel. Ele nunca nos deixa, embora às vezes pareça calado. Quando precisamos d’Ele, deixa-Se encontrar por nós (cf. Jr 29, 14) e está ao nosso lado para onde quer que vamos (cf. Jos 1, 9). Porque Ele jamais quebra uma aliança. A nós, pede-nos que não O abandonemos: “Permanecei em Mim” (Jo 15, 4). Mas, se nos afastarmos, “Ele permanece fiel, porque não pode negar-Se a Si mesmo” (2Tm 2, 13)»[3]. Só através dessa amizade com Cristo é que o apóstolo se converte em «brasa acesa que pega fogo onde quer que esteja»[4].

São Josemaria costumava empregar a metáfora da brasa para se referir ao papel dos cristãos no mundo: «Tens de levar fogo, tens de ser algo que queime, que arda, que produza fogueiras de amor de Deus, de fidelidade, de apostolado»[5]. O cristão, quando está perto de Jesus, vivifica todos os ambientes em que se encontra, e fá-lo apenas com a sua presença, com o seu sorriso, com o seu serviço, com a sua dedicação aos outros, porque leva Deus consigo para todo o lado, e isso transmite-se às pessoas que o rodeiam, sem que o próprio saiba como isso acontece.

Mas a chave para tudo isso encontra-se na amizade pessoal com Cristo, que se cultiva através da oração: «“Et in meditatione mea exardescit ignis”: e na minha meditação ateia-se o fogo. – Para isso mesmo é que fazes oração: para te tornares uma fogueira, lume vivo que dê calor e luz»[6].

Por isso, São Josemaria recomendava aos que têm desejo de aproximar as almas do Senhor que cultivem uma profunda vida interior através da oração e do sacrifício: «Primeiro, oração; depois, expiação; em terceiro lugar, muito em “terceiro lugar”, ação»[7]. É o caminho que seguiram os Apóstolos: só depois de terem convivido com Jesus e cultivado a sua amizade, se lançaram por todo o mundo para proclamar a Palavra de Deus.

A amizade já é apostolado

Quando São Josemaria, nos anos 30 do século XX, iniciou o trabalho do Opus Dei com jovens em Madrid, esforçou-se por atender alguns estudantes universitários que levavam os seus amigos à primeira residência. Muitas das pessoas que começaram a frequentar aquele centro do Opus Dei não o faziam por convite expresso de outros, mas porque, atraídas pela amizade e alegria das pessoas que lá iam, queriam desfrutar desse ambiente e acabaram por se aproximar sem que ninguém lhes falasse diretamente disso.

Pedro Casciaro, um dos primeiros a pedir a admissão no Opus Dei naquela altura, narra uma conversa que teve com outro estudante da sua turma, Francisco Botella, que mais tarde pediria também a admissão na Obra: «No dia 11 de outubro, o Paco foi ter comigo a casa. Disse-me que sabia que eu falava com o Padre. (...) Eu disse-lhe que já tinha pensado em convidá-lo para vir à Residência e falei-lhe do trabalho apostólico que o Padre estava a promover. Pediu-me que marcasse um encontro e assim fiz: o Padre encontrou-se com ele dois dias depois, no dia 13 às cinco horas da tarde. Começou a vir aos Círculos todos os sábados e a nossa amizade foi-se tornando cada vez maior»[8].

Juntamente com os meios sobrenaturais (oração e vida de sacrifício), a amizade é o principal motor do apostolado. Quando uma pessoa leva o amor de Deus no coração, atua como uma brasa acesa, elevando a temperatura espiritual dos que tem à sua volta. Cada um fala das coisas que o entusiasmam e é capaz de as transmitir aos seus amigos, com a força que essa amizade tiver.

Por isso, a segunda chave para ser apóstolo está em procurar a proximidade com os outros, ser verdadeiros especialistas em humanidade. E isto é algo que se consegue, em primeiro lugar, procurando a amizade com Jesus: «Quanto mais perto de Deus está o apóstolo, mais universal se sente: e dilata-se-lhe o coração para que caibam todos e tudo no desejo de pôr o universo aos pés de Jesus»[9].

Se há amizade, o apóstolo fala de Deus aos seus amigos com naturalidade, como fez Santo André com o seu irmão Pedro: «Encontrámos o Messias»: encontrámos a melhor pessoa que podíamos encontrar e não posso deixar de te falar disso.

Por isso, o apóstolo deseja reforçar a sua amizade com os que o rodeiam, consciente de que «a amizade é, em si mesma, um valor»[10] que faz crescer as pessoas. «Os que encontram Cristo não podem fechar-se no seu ambiente. Triste coisa seria essa redução! Têm de abrir-se em leque para chegar a todas as almas»[11], como fizeram os primeiros discípulos do Senhor.

Em suma, quando estamos perto do Senhor e nos esforçamos por querer bem aos nossos amigos, tornamo-nos, quase sem nos darmos conta, verdadeiros apóstolos do Senhor, ajudando-O a estender o seu Reino por todo o mundo, começando pelas pessoas que nos rodeiam. Deste modo, tornam-se realidade em nós as palavras de São Josemaria em Caminho: «Ainda ressoa no mundo aquele clamor divino: “Vim trazer fogo à Terra, e que quero senão que se ateie?”. – E bem vês: quase tudo está apagado... Não te animas a propagar o incêndio?»[12].


[1] Jo 1, 41-42.

[2] Fernando Ocáriz, Carta, 14/02/2017, n. 9.

[3]Francisco, Christus vivit, n. 154.

[4] São Josemaria, Forja, n. 570.

[5] Ibid., n. 985.

[6] São Josemaria, Caminho, n. 92.

[7] Ibid., n. 82.

[8] Pedro Casciaro, Sonhai e ficareis aquém.

[9] São Josemaria, Caminho, n. 764.

[10] Fernando Ocáriz, Carta 01/11/2019, n. 18.

[11] São Josemaria, Sulco, n. 193.

[12] Ibid., Caminho, n. 801.