“Que a solidariedade se torne uma pandemia”

“Você já parou para pensar como é a realidade dos moradores de rua? Muitas vezes nos solidarizamos, mas não sabemos o que fazer para ajudar...”

“Você já parou para pensar como é a realidade dos moradores de rua? Muitas vezes nos solidarizamos, mas não sabemos o que fazer para ajudar. Pensando nisso, a Geladeira Solidária criou a Ação de Natal, com o intuito de amenizar a ausência de lar e proporcionar um tratamento digno e sensação de família para moradores de rua, para que essas pessoas celebrarem o Natal. Servimos um jantar completo para 200 pessoas em situação de rua, em mesa posta com toalhas e enfeite de Natal, música temática e oração feita pelo padre Caio, da Catedral de Campinas. A ação ocorreu no dia 11 de dezembro, em frente à igreja, e foi uma noite repleta de sorrisos, solidariedade e carinho. Obrigada a todos que estiveram conosco, que Deus abençoe cada um de vocês e suas famílias. Feliz Natal!”

Assim a FASC (Fomento à Assistência Social e Cultural) descrevia em sua conta do Instagram o seu evento de Natal, organizado em 2022 pela segunda vez. Uma voluntária relata a seguir algumas das atividades organizadas este ano em parceria com a Geladeira Solidária.


Quando se planta a semente do bem, nasce a árvore da solidariedade. Nesse jardim, há flores de carinho, pétalas de empatia e colhemos os frutos do amor, e, assim, uma ação puxando outra, e formamos uma verdadeira corrente do bem.

A pandemia trouxe mais fome para os moradores de rua de Campinas, e assim, nós da FASC seguimos nossa parceria com outras instituições. Explicando para vocês, ajudamos algumas entidades menores que já fazem algo, mas querem chegar a mais ou que se uniram a nós, e que assim, podem ter mais recursos para dar de comer a mais gente.

O nosso segundo jantar de Natal para os moradores de rua de Campinas, mais uma vez foi realizado na frente da Catedral de Campinas, com direito a bênção do pároco e coral de Natal cantando durante a refeição. Até a Prefeitura colaborou, embora indiretamente, pois a praça estava decorada para o Natal com iluminação nas palmeiras e outras árvores da praça.

Meses antes, Zita tinha organizado um evento em sua casa, na Primeira Comunhão de seu filho, e ao alugar mesas e toalhas, pediu à empresa que doassem as mesas e toalhas de festa para o Jantar dos moradores de rua. Vieram mesas redondas, de banquete, nas quais cabiam 10 pessoas. Nos meses anteriores confeccionamos enfeites de mesa, com luzinhas de led que ficaram acesas o tempo todo, iluminando a refeição em família.

Muitos voluntários colaboraram para a organização deste evento: crianças e jovens fizeram os cartões de Natal para cada um dos comensais; várias voluntárias com suas amigas se reuniram com uma professora de artesanato durante algumas semanas para confeccionar os enfeites de luzes que decorariam as mesas; as jovens do Centro Cultural Altavila prepararam duzentos kits de presente com produtos de higiene pessoal e um pequeno presente diferenciado para mulheres ou homens; pedimos mantimentos “extra” para este jantar (não podíamos deixar de entregar as cestas básicas mensais, que são esperadas pelos beneficiários antes do final do mês... é comum ligarem para as encarregadas para confirmar a entrega das cestas, pois dependem desse alimento para sobreviver com suas famílias).


Um “empurrão” de São Josemaria

Durante este ano que acaba, foram várias as refeições servidas, sempre que surgia alguma oportunidade. E também planejamos e organizamos eventos paralelos como o Varal Solidário – roupas que penduramos num varal perto do local de distribuição das cestas básicas. Assim os beneficiários cresciam em auto estima e até em espírito solidário entre eles e conosco, como na ocasião em que, depois de uma refeição servida, todos fizeram uma oração agradecendo a Deus pelo nosso trabalho.

No meio do ano, quando davam avisos em uma paróquia de Campinas pedindo colaboração para uma campanha de venda de pizzas em benefício das obras da igreja, um senhor se dirigiu à lojinha da paróquia e soube que ainda sobravam setenta pizzas, decidiu comprar todas, e logo perguntou se tinham alguma sugestão de lugar para onde poderia mandá-las.

A secretária da paróquia mostrou a ele um pequeno folder que nomeava a nossa parceria com a Geladeira Solidária, e com surpresa, esse senhor comentou: “A FASC de São Josemaria? Podem encaminhar para lá”.

O doador não quis identificar-se, recebemos as pizzas e foi um delicioso mutirão que, seguramente, alegrou a Josemaria, esquentamos, cortamos em fatias, e distribuímos as pizzas pela noite aos moradores de rua.

Na noite da distribuição, o marido de uma das voluntárias, que se chama Márcia, foi escalado para ajudar, sua presença daria mais segurança ao trabalho, já que seria feito à noite, e o voluntário fez questão de levar sua filha adolescente e duas netas pequenas, Ceci e Fernanda, para que participassem do momento de solidariedade.

As pequenas ficaram encarregadas de distribuir chocolates para os comensais, como “sobremesa”, e, alguns dias depois, Cecília, a neta de 7 anos, estava indo para a escola com a mãe, e um morador de rua pediu ajuda quando pararam num semáforo. Hoje em dia com cartão de crédito, é raro que a gente tenha dinheiro em espécie, e Tábita, a mãe da menina, não tinha, mas Ceci abriu sua mochila e tirou dois reais que o pai tinha dado naquele dia para alguma necessidade pequena. Ao ver a atitude da criança, aquele senhor que pedia ajuda ficou emocionado e comentou que tinha visto que a ajuda tinha saído do fundo do coração. Mais tarde, Ceci confidenciou à sua mãe que tinha planejado fazer uma barraquinha de limonada para vender em algum evento, com a justificativa: “preciso de dinheiro para ajudar os pobres”.


Uma ação levando a outra

Depois do sucesso com as Pizzas de São Josemaria... Pensamos num rodizio de Pizza. Servimos todos os moradores de rua em mesas. Havia pizzas de calabresa, frango com catupiry, portuguesa e mozarela. De sobremesa pizza de brigadeiro com sorvete. Teve um participante que comeu 13 pedaços generosos de pizza. Nunca tinham comido pizza de brigadeiro. Ficaram maravilhados.

Teve a noite do nhoque. Para propiciarmos essa noite para pessoas em situação de vulnerabilidade, participamos de uma feira vendendo nhoque aos nossos conhecidos. Com a renda dessa venda fizemos um jantar com a mesma qualidade do nhoque que vendemos. O molho foi caseiro, receita tradicional de uma família italiana, feito de tomate, azeite e temperos, sem um pingo de água.

Outro evento foi a macarronada com linguiça, que atendeu um grupo de mais de 100 pessoas. Mais adiante as moças que frequentam o Centro Altavila se espelharam na ideia e prepararam marmitas quentes com macarrão e salsicha e saíram num domingo pela cidade entregando a quem necessitava. Havia famílias com crianças, de venezuelanos abrigados no Brasil, idosos e outras pessoas que se beneficiaram daquela comida quente, acompanhada de um refrigerante e de bolo com creme de sobremesa.


Uma ideia audaz nos inspirou a programar uma feijoada, prato mais custoso e trabalhoso. Um restaurante conhecido, que só funciona à noite tem cedido sua cozinha, panelas e gás para prepararmos os pratos. Vamos até lá um grupo de voluntárias bem lideradas para preparar em tempo recorde, com limpeza e muito sabor essas refeições regadas a amor e alegria.

Os alimentos são servidos em embalagens térmicas, para estar bem quentinhos. Um detalhe adicional de amor é que sempre vai uma mensagem breve escrita à mão nas tampas das embalagens.

Mantendo a fidelidade aos nossos propósitos, o alimento que levamos destina-se ao corpo e ao espírito, e assim, buscamos promover a dignidade das pessoas. Toda a nossa atividade é reflexo da influência de São Josemaria, que, com a sua mensagem de santificação na vida diária, com altos valores humanos, como o de procurar o progresso da sociedade e para o ordenamento justo das relações entre os homens. Sobretudo, buscamos refletir o amor de Deus para com as suas criaturas.

É muito gratificante levar o bem, e depois de cada refeição, fazer uma oração, e falar de Deus, e escutar, de muitos deles, a gratidão pelo nosso trabalho. Já podemos contar um pequeno fruto, que na verdade é um grande passo: conseguimos tirar um morador da rua, encaminhá-lo para reabilitação e depois conseguimos um emprego para ele. Esta é uma das nossas maiores satisfações. Foi somente uma ovelhinha resgatada. Mas para essa ovelhinha fez a diferença.


Sobre a FASC

A FASC impulsiona atividades de promoção social, cultural e humana beneficiando crianças de poucos recursos e a sociedade geral, com o foco em formar jovens e adultos como agentes transformadores da sociedade em que vivem através da realização de atividades de promoção social e humana.

Graças aos projetos de formação de voluntários, alunos do ensino médio e universitário são capacitados para ministrar cursos profissionalizantes e palestras em comunidades carentes das cidades onde a FASC atua.