Sumário
1. O Sacramento da Ordem na Igreja
2. O Sacerdócio da Antiga Aliança
3. O sacerdócio comum e o sacerdócio ministerial
4. O Sacramento da Ordem
Outros textos • Homilia de João Paulo II no Jubileo dos presbíteros (18.5.2000) • Sacerdote para a eternidade (Homilia de São Josemaria) • Especial sobre o Ano sacerdotal (2009), no site do Vaticano • Fidelidade ao sacerdócio (vídeo) • O que é a Sociedade Sacerdotal da Santa Cruz?
1. O Sacramento da Ordem na Igreja
Fiéis são aqueles que, por terem sido incorporados em Cristo pelo Batismo, foram constituídos em povo de Deus e por este motivo se tornaram, a seu modo, participantes do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo e, segundo a própria condição, são chamados a exercer a missão que Deus confiou à Igreja para esta realizar no mundo.
Devido à sua regeneração em Cristo, existe entre todos os fiéis verdadeira igualdade no concernente à dignidade e à atuação, pela qual todos eles cooperam para a edificação do Corpo de Cristo, segundo a condição e a função próprias de cada um.
AS PRÓPRIAS DIFERENÇAS QUE O SENHOR QUIS QUE EXISTISSEM ENTRE OS MEMBROS DO SEU CORPO (HIERARQUIA E LEIGOS) SERVEM A SUA UNIDADE E MISSÃO.
As próprias diferenças que o Senhor quis que existissem entre os membros do Seu Corpo (hierarquia e leigos) servem a sua unidade e missão. Porque «há na Igreja diversidade de ministérios, mas unidade de missão. Cristo confiou aos Apóstolos e aos seus sucessores o encargo de ensinar, santificar e governar em Seu nome e pelo Seu poder. Mas os leigos, feitos participantes do múnus sacerdotal, profético e real de Cristo, assumem na Igreja e no mundo a parte que lhes toca naquilo que é a missão de todo o povo de Deus».
Ninguém, nenhum indivíduo ou comunidade, pode anunciar a si mesmo o Evangelho. «A fé surge da pregação» (Rm 10, 17). Por outro lado, ninguém pode dar a si próprio o mandato e a missão de anunciar o Evangelho. O enviado do Senhor fala e actua, não por autoridade própria, mas em virtude da autoridade de Cristo; não como membro da comunidade, mas falando à comunidade em nome de Cristo. Ninguém pode conferir a si mesmo a graça; ela deve ser-lhe dada e oferecida. Isto supõe ministros da graça, autorizados e habilitados em nome de Cristo. É d'Ele que os bispos e presbíteros recebem a missão e a faculdade (o «poder sagrado») de agirna pessoa de Cristo Cabeça e os diáconos a força de servir o povo de Deus na «diaconia» da Liturgia, da Palavra e da caridade, em comunhão com o bispo e com o seu presbitério.
O SACRAMENTO DA ORDEM COMPREENDE TRÊS GRAUS: O EPISCOPADO, O PRESBITERADO E O DIACONADO.
A Ordem é o sacramento graças ao qual a missão confiada por Cristo aos Apóstolos continua a ser exercida na Igreja, até ao fim dos tempos: é, portanto, o sacramento do ministério apostólico. E compreende três graus: o episcopado, o presbiterado e o diaconado.
Catecismo da Igreja Católica n. 871-875;1536
Meditar com S. Josemaria
Pensando nos sacerdotes do mundo inteiro, tens de ajudar-me a rezar pela fecundidade dos seus apostolados.
- Sacerdote, meu irmão, fala sempre de Deus, porque, se és dEle, não haverá monotonia nos teus colóquios. Forja, 965
O sacerdote não é um psicólogo, nem um sociólogo, nem um antropólogo: é outro Cristo, o próprio Cristo, para cuidar das almas de seus irmãos. É Cristo que passa, 79
Numa palavra: pede-se ao sacerdote que aprenda a não estorvar a presença de Cristo nele, especialmente no momento em que realiza o Sacrifício do Corpo e Sangue e quando, em nome de Deus, na Confissão sacramental auricular e secreta, perdoa os pecados. A administração destes dois Sacramentos é tão capital na missão do sacerdote que tudo o mais deve girar à sua volta. Amar a Igreja, 43
2. O Sacerdócio da Antiga Aliança
O povo eleito foi constituído por Deus como «um reino de sacerdotes e uma nação consagrada». Mas, dentro do povo de Israel, Deus escolheu uma das doze tribos, a de Levi, segregada para o serviço.
Instituído para anunciar a Palavra de Deus e para restabelecer a comunhão com Deus pelos sacrifícios e a oração, aquele sacerdócio é, no entanto, impotente para operar a salvação, precisando de repetir sem cessar os sacrifícios, sem poder alcançar uma santificação definitiva a qual só o sacrifício de Cristo havia de conseguir.
TODAS AS PREFIGURAÇÕES DO SACERDÓCIO DA ANTIGA ALIANÇA ENCONTRAM A SUA REALIZAÇÃO EM JESUS CRISTO
Apesar disso, no sacerdócio de Aarão e no serviço dos levitas, assim como na instituição dos setenta «Anciãos», a liturgia da Igreja vê prefigurações do ministério ordenado da Nova Aliança.
Todas as prefigurações do sacerdócio da Antiga Aliança encontram a sua realização em Jesus Cristo, «único mediador entre Deus e os homens». O sacrifício redentor de Cristo é único, realizado uma vez por todas. E no entanto, é tornado presente no sacrifício eucarístico da Igreja. O mesmo se diga do sacerdócio único de Cristo, que é tornado presente pelo sacerdócio ministerial.
Catecismo da Igreja Católica, 1539-1545
Meditar com S. Josemaria
O Sacerdote - seja quem for - é sempre outro Cristo. Caminho, 66
Tens de pedir a Deus para os sacerdotes - os de agora e os que virão - que amem de verdade, cada dia mais e sem discriminações, os seus irmãos os homens, e que saibam fazer-se querer por eles. Forja, 964
3. O sacerdócio comum e o sacerdócio ministerial
Os fiéis exercem o seu sacerdócio batismal através da participação, cada qual segundo a sua vocação própria, na missão de Cristo, sacerdote, profeta e rei. É pelos sacramentos do Batismo e da Confirmação que os fiéis são «consagrados para serem [...] um sacerdócio santo».
O sacerdócio ministerial ou hierárquico dos bispos e dos presbíteros e o sacerdócio comum de todos os fiéis – embora «um e outro, cada qual segundo o seu modo próprio, participem do único sacerdócio de Cristo» – são, no entanto, essencialmente diferentes ainda que sendo «ordenados um para o outro».
ENQUANTO O SACERDÓCIO COMUM DOS FIÉIS SE REALIZA NO DESENVOLVIMENTO DA VIDA BAPTISMAL, O SACERDÓCIO MINISTERIAL ESTÁ AO SERVIÇO DO SACERDÓCIO COMUM.
Em que sentido? Enquanto o sacerdócio comum dos fiéis se realiza no desenvolvimento da vida batismal – vida de fé, esperança e caridade, vida segundo o Espírito – o sacerdócio ministerial está ao serviço do sacerdócio comum, ordena-se ao desenvolvimento da graça batismal de todos os cristãos.
É um dos meios pelos quais Cristo não cessa de construir e guiar a Sua igreja. E é por isso que é transmitido por um sacramento próprio, que é o sacramento da Ordem.
O SACRAMENTO DA ORDEM COMUNICA «UM PODER SAGRADO», QUE NÃO É SENÃO O DE CRISTO.
Este sacerdócio é ministerial. «O encargo que o Senhor confiou aos pastores do Seu Povo é um verdadeiro serviço». Refere-se inteiramente a Cristo e aos homens. Depende inteiramente de Cristo e do Seu sacerdócio único, e foi instituído em favor dos homens e da comunidade da Igreja. O sacramento da Ordem comunica «um poder sagrado», que não é senão o de Cristo. O exercício desta autoridade deve, pois, regular-se pelo modelo de Cristo, que por amor Se fez o último e servo de todos.
Catecismo da Igreja Católica, 1546-1553
Meditar com S. Josemaria
Ser cristão - e de modo particular ser sacerdote; lembrando-nos também de que todos os batizados participamos do sacerdócio real - é estar continuamente na Cruz. Forja, 882
Pela Ordem sacerdotal, nosso Pai-Deus conferiu-nos a possibilidade de que alguns fiéis, em virtude de uma nova e inefável infusão do Espírito Santo, recebessem um caráter indelével na alma, que os configura com Cristo-Sacerdote, para atuarem em nome de Jesus Cristo, Cabeça do seu Corpo Místico. Através desse sacerdócio ministerial, que difere essencialmente - e não com uma simples diferença de grau do sacerdócio comum de todos os fiéis -, os ministros sagrados podem consagrar o Corpo e o Sangue de Cristo, oferecer a Deus o Santo Sacrifício, perdoar os pecados na confissão sacramental e exercer o ministério da doutrina in iis quae sunt ad Deum , em tudo e somente naquilo que se refere a Deus.
Por isso, o sacerdote deve ser exclusivamente um homem de Deus e repelir a idéia de brilhar em campos onde os demais cristãos não precisam dele. É Cristo que Passa,79
Nem como homem, nem como fiel cristão, o sacerdote é mais do que o leigo. Por isso é muito conveniente que o sacerdote professe uma profunda humildade, para entender como também no seu caso se cumprem plenamente, de modo especial, aquelas palavras de São Paulo: Que possuís que não tenhais recebido? O recebido... é Deus! O recebido é poder celebrar a Sagrada Eucaristia, a Santa Missa - fim principal da ordenação sacerdotal -, perdoar os pecados, administrar outros sacramentos e pregar com autoridade a Palavra de Deus, dirigindo os demais fiéis nas coisas que se referem ao Reino dos Céus. Amar a Igreja, 40
4. O Sacramento da Ordem
O rito essencial do sacramento da Ordem é constituído, para os três graus, pela imposição das mãos, por parte do bispo, sobre a cabeça do ordinando, bem como pela oração consecratória específica, que pede a Deus a efusão do Espírito Santo e dos Seus dons apropriados ao ministério para que é ordenado o candidato.
Os bispos validamente ordenados, isto é, que estão na linha da sucessão apostólica, conferem validamente os três graus do sacramento da Ordem.
O SENHOR JESUS ESCOLHEU HOMENS (VIRI) PARA FORMAR O COLÉGIO DOS DOZE APÓSTOLOS (...) A IGREJA RECONHECE-SE VINCULADA POR ESSA ESCOLHA FEITA PELO SENHOR EM PESSOA.
Só o varão (vir) baptizado pode receber validamente a sagrada ordenação. O Senhor Jesus escolheu homens (viri) para formar o colégio dos Doze Apóstolos, e o mesmo fizeram os Apóstolos quando escolheram os seus colaboradores para lhes sucederem no desempenho do seu ministério. O Colégio dos bispos, a que os presbíteros estão unidos no sacerdócio, torna presente e atualiza, até que Cristo volte, o Colégio dos Doze. A Igreja reconhece-se vinculada por essa escolha feita pelo Senhor em pessoa. É por isso que a ordenação das mulheres não é possível.
Ninguém tem direito a receber o sacramento da Ordem. Com efeito, ninguém pode arrogar-se tal encargo. É-se chamado a ele por Deus. Aquele que julga reconhecer em si sinais do chamamento divino ao ministério ordenado, deve submeter humildemente o seu desejo à autoridade da Igreja, à qual incumbe a responsabilidade e o direito de chamar alguém para receber as Ordens. Como toda e qualquer graça, este sacramento só pode ser recebido como um dom imerecido.
Todos os ministros ordenados da Igreja latina, à excepção dos diáconos permanentes, são normalmente escolhidos entre homens crentes que vivem celibatários e têm vontade de guardar o celibato «por amor do Reino dos céus». Chamados a consagrarem-se totalmente ao Senhor e às «Suas coisas» dão-se por inteiro a Deus e aos homens.
PELA ORDENAÇÃO, RECEBE-SE A CAPACIDADE DE AGIR COMO REPRESENTANTE DE CRISTO, CABEÇA DA IGREJA. NA SUA TRÍPLICE FUNÇÃO DE SACERDOTE, PROFETA E REI.
Nas Igrejas orientais vigora, desde há séculos, uma disciplina diferente: enquanto os bispos são escolhidos unicamente entre os celibatários, homens casados podem ser ordenados diáconos e presbíteros. Esta prática é, desde há muito tempo, considerada legítima: estes sacerdotes exercem um ministério frutuoso nas suas comunidades. Mas, por outro lado, o celibato dos sacerdotes é tido em muita honra nas Igrejas orientais e são numerosos aqueles que livremente optam por ele, por amor do Reino de Deus. Tanto no Oriente como no Ocidente, aquele que recebeu o sacramento da Ordem já não pode casar-se.
Este sacramento configura o ordinando com Cristo por uma graça especial do Espírito Santo, a fim de servir de instrumento de Cristo em favor da Sua Igreja. Pela ordenação, recebe-se a capacidade de agir como representante de Cristo, cabeça da Igreja, na sua tríplice função de sacerdote, profeta e rei.
Tal como no caso do Batismo e da Confirmação, esta participação na função de Cristo é dada uma vez por todas. O sacramento da Ordem confere, também ele, um carácter espiritual indelével, e não pode ser repetido nem conferido para um tempo limitado.
O SACRAMENTO DA ORDEM CONFERE TAMBÉM UM CARÁCTER ESPIRITUAL INDELÉVEL
Uma pessoa validamente ordenada pode, é certo, por graves motivos, ser dispensada das obrigações e funções decorrentes da ordenação, ou ser proibido de as exercer: mas já não pode voltar a ser leigo, no sentido estrito, porque o carácter impresso pela ordenação fica para sempre. A vocação e a missão recebidas no dia da ordenação marcam-no de modo permanente. Uma vez que é Cristo, afinal, quem age e opera a salvação através do ministro ordenado, a indignidade deste não impede Cristo de agir.
Catecismo de la Iglesia Católica, n. 1572-1592
Meditar com S. Josemaria
Pelo sacramento da Ordem, o sacerdote torna-se efetivamente apto para emprestar a Nosso Senhor a voz, as mãos, todo o seu ser: é Jesus Cristo quem, na Santa Missa, com as palavras da consagração, transforma a substância do pão e do vinho no Seu Corpo, Alma, Sangue e Divindade.
Nisto se fundamenta a incomparável dignidade do sacerdote. Uma grandeza emprestada, compatível com a minha pequenez. Eu peço a Deus Nosso Senhor que nos dê, a todos os sacerdotes, a graça de realizar santamente as coisas santas, e de reflectir também na nossa vida as maravilhas das grandezas do Senhor. Nós, que celebramos os mistérios da Paixão do Senhor, temos de imitar o que fazemos. E então a hóstia ocupará o nosso lugar diante de Deus, se nós mesmos nos fizermos hóstias. (São Gregorio Magno, Dialog. 4, 59)
Se alguma vez encontrais um sacerdote que, exteriormente, não pareça viver de acordo com o Evangelho - não o julgueis, Deus o julga - , sabei que, se celebra validamente a Santa Missa, com intenção de consagrar, Nosso Senhor não deixa de descer até àquelas mãos, ainda que sejam indignas. Pode haver maior entrega, maior aniquilamento? Mais do que em Belém e no Calvário! Porquê? Porque Jesus Cristo tem o Coração oprimido pelas Suas ânsias redentoras, porque não quer que ninguém possa dizer que não foi chamado, porque se faz encontrar pelos que não O procuram. Amar a Igreja, 39
Não compreendo o empenho de alguns sacerdotes em se confundirem com os outros cristãos, esquecendo ou descuidando a sua missão específica na Igreja, aquela para a qual foram ordenados. Pensam que os cristãos desejam ver no sacerdote um homem como os outros. Não é verdade. No sacerdote, querem admirar as virtudes próprias de qualquer cristão e mesmo de qualquer homem honrado: a compreensão, a justiça, a vida de trabalho - trabalho sacerdotal neste caso -, a caridade, a educação, a delicadeza no trato. No entanto, juntamente com isto, os fiéis pretendem que nele se destaque claramente o carácter sacerdotal.
Esperam que o sacerdote reze, que não se negue a administrar os Sacramentos, que esteja disposto a acolher a todos sem se arvorar em chefe ou militante de partidarismos humanos, sejam de que tipo forem; que ponha amor e devoção na celebração da Santa Missa, que se sente no confessionário, que conforte os doentes e os aflitos, que ensine catequese às crianças e aos adultos, que pregue a Palavra de Deus e não qualquer tipo de ciência humana que - mesmo que a conhecesse perfeitamente - não seria a ciência que salva e leva à vida eterna; que saiba aconselhar e ter caridade com os necessitados. Amar a Igreja, 42
A Igreja precisa - e precisará sempre - de sacerdotes. Pede-os diariamente à Trindade Santíssima, através de Santa Maria.
- E pede que sejam alegres, operantes, eficazes; que estejam bem preparados; que se sacrifiquem com gosto pelos seus irmãos, sem sentir-se vítimas. Forja, 910