O Opus Dei, uma família

As relações de paternidade, filiação e fraternidade caracterizam a família humana e a Igreja, que é a “casa de Deus na qual habita a sua família”, e o Opus Dei é uma família na Igreja de Cristo.

O seguinte artigo, publicado no site collationes.org explica o espírito de família que existe no Opus Dei.


1. A família é uma comunidade na qual os membros estão unidos pelo amor. A unidade dos membros de uma família – e, com maior motivo se são filhos de Deus pelo Batismo – manifesta a unidade de Deus, seu Criador: “A família cristã é uma comunhão de pessoas, vestígio e imagem da comunhão do Pai, do Filho e do Espírito Santo”[1].

As relações de paternidade, filiação e fraternidade caracterizam a família humana e a Igreja, que é a “casa de Deus na qual habita a sua família[2]. Deus Pai ama todos os homens porque estão chamados a ser filhos no Filho Unigênito, Jesus Cristo. Por outro lado, os homens participam da paternidade de Deus “Pai, ao qual deve a sua existência toda família”[3]. Fazem-no colaborando na geração humana corporal (a alma é infundida diretamente por Deus) e também na regeneração espiritual e na educação dos filhos. Na comunidade dos batizados, o pai comum é o Papa, a quem se dá o título de Santo Padre. Exerce a potestade de santificar, governar e ensinar através do serviço a todos no amor.

Se olhamos a relação paterno-filial do ponto de vista do filho, pode dizer-se que ocorre algo semelhante: cada homem é filho de Deus porque foi amado, criado e salvo por Deus. Ao mesmo tempo, cada um é filho dos seus pais, fruto do amor humano. E é também filho da Igreja, nossa Mãe, na qual fomos gerados.

Por terem sido batizados em Jesus Cristo, “o primogênito entre uma multidão de irmãos”[4], todos os cristãos são irmãos, membros da mesma Igreja. Cristo rezou para que vivessem unidos: “Que todos sejam um, como tu, Pai, estás em mim, e eu em ti. Que eles estejam em nós”[5].

2. O Opus Dei é uma família na Igreja de Cristo. Desde a sua fundação – 2 de outubro de 1928 – estabeleceu-se uma relação de paternidade, que São Josemaria viveu e, depois da sua morte, os seus sucessores, e uma relação de filiação e de fraternidade entre todos os membros da Obra.

Os fiéis do Opus Dei, em palavras do Fundador, pertencem a “uma família de vínculo sobrenatural”[6].Estes vínculos ou laços de fraternidade sobrenatural derivam do fato de que todos os membros da Obra receberam, na Igreja, uma mesma vocação cristã – ser santos no Opus Dei – e uma mesma missão cristã – fazer o Opus Dei em suas vidas. Na Obra cumprem-se as palavras de Jesus Cristo, que se aplicam a toda a Igreja: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos. Todo aquele que faz a vontade de meu Pai que está nos céus, esse é meu irmão e minha irmã e minha mãe”[7].

São Josemaria explicava com frequência que o modelo da família do Opus Dei deve buscar-se na Sagrada Família de Nazaré. Gostava tanto de imaginar a relação pessoal e íntima que tiveram Jesus, Maria e José, que dizia às suas filhas e filhos espirituais: “a essa Família pertencemos”[8].

3. A consciência de ser Padre no Opus Dei, presente desde a fundação, ficou palpável na vida de São Josemaria quando Deus começou a enviar homens e mulheres para a Obra. E a mesma coisa sucedeu com os fiéis do Opus Dei, que entenderam o significado da paternidade, da filiação e da fraternidade, através da relação com o seu Fundador, e entre si.

Neste sentido, podemos enumerar alguns aspectos que se destacaram desde o começo da história da Obra e se mantiveram como características configuradoras do seu espírito de família:

- Nos lugares de formação dos fiéis do Opus Dei, como são os centros ou casas de retiro, procura-se que haja o quanto antes um sacrário, de modo que Jesus Cristo – verdadeiramente presente na Eucaristia – seja o centro e o eixo em torno do qual gire a vida em família.

- São Josemaria tinha necessidade de reunir seus filhos e filhas para formá-los no espírito do Opus Dei, concretamente na vida em família. Por este motivo – além de outros de natureza apostólica – logo abriu um centro do Opus Dei, ao qual sucederiam outros à medida em que se desenvolviam as atividades apostólicas. Neste sentido, os centros do Opus Dei são lugares de formação onde se respira um ar de família cristã que cada fiel vive de acordo com as suas circunstâncias.

- Fruto da sua oração e experiência, São Josemaria compreendeu que a sua família originária precisava ter um papel ativo para plasmar o espírito do Opus Dei, transmitindo o seu próprio estilo de vida familiar, o seu modo de viver o calor de um lar. Por isso, o estilo de vida dos Escrivá Albás – a mãe, D. Dolores e os irmãos de São Josemaria, Carmen e Santiago – de certo modo influiu na vida de família dos membros da Obra. Da Avó e da Tia Carmen os primeiros fiéis do Opus Dei – tanto homens como mulheres – aprenderam o exercício de muitas virtudes cristãs, começando pelo carinho verdadeiro e pela alegria que se manifestam em mil detalhes de preocupação cotidiana por todos.

- Como em qualquer família, no Opus Dei todos contribuem para a vida familiar. De modo muito particular, a dedicação de algumas numerárias e das numerárias auxiliares, que trabalham na atenção doméstica dos centros do Opus Dei, configura a vida em família.

4. A unidade no Opus Dei – que tem a sua origem num mesmo caminho vocacional para se identificar com Cristo por amor – manifesta-se na Comunhão dos Santos, nos desejos de santidade e de apostolado que os fiéis da Obra vivem com o Padre e entre si, sempre unidos ao Romano Pontífice e aos Bispos. Por sua vez, a variedade de membros da Prelazia – numerários, adscritos e supernumerários – e o fato de que só alguns vivam em centros da Obra por motivo de apostolado, de formação ou de governo, não só não dificulta, mas expressa o modo próprio de vida em família do Opus Dei. São Josemaria explicava que cada fiel do Opus Dei tinha recebido a mesma chamada para levar o calor da caridade de Jesus Cristo ao ambiente em que vive, a sua vida em família, tanto na sede material dos centros da Obra como na família de cada um.

Cada fiel da Prelazia contribui para a unidade porque faz parte do mesmo corpo. Por outro lado, esta tarefa recai especialmente naqueles que receberam tarefas de formação, como é o caso dos diretores, dos zeladores de grupos de adscritos e de supernumerários, e dos sacerdotes.

5. “As relações dentro da família acarretam uma afinidade de sentimentos, de afetos e de interesses, afinidade essa que provém sobretudo do respeito mútuo entre as pessoas”[9]. Na Igreja, da qual o Opus Dei nasce e se desenvolve, a virtude sobrenatural da caridade é o fundamento do verdadeiro carinho humano. Querer, com todo o coração, o bem humano e sobrenatural dos outros tem múltiplas facetas. Sem pretender ser exaustivos, podemos mencionar:

- A oração pela saúde física e espiritual dos demais. Rezar é o primeiro e melhor modo de ajudar a que cada pessoa seja santa e se sinta feliz. “A oração é o fundamento de toda a atividade sobrenatural; com a oração somos onipotentes e, se prescindíssemos desse recurso, nada conseguiríamos”[10].

- O bom exemplo, realizado muitas vezes discretamente, na presença de Deus[11]. O exemplo é uma manifestação do espírito de serviço, que Deus premia sempre: o Espírito Santo enche de alegria e de paz a pessoa que busca tornar agradável a vida do próximo, através do “sincero dom de si”[12].

- São Josemaria considerava os doentes como o tesouro da Obra. Ao aceitarem com alegria a sua dor, os doentes estão especialmente unidos à Paixão do Senhor, e a sua oração tem um grande valor diante de Deus. Procuramos ter os doentes no coração, rezar por eles, e fazer todo o possível para que estejam serenos, contentes, bem atendidos espiritual e materialmente. São Josemaria expressava-o graficamente dizendo que “se fosse preciso, roubaríamos para eles um pedacinho do Céu, e o Senhor nos desculparia”[13].

- A delicadeza. Como sucede em qualquer boa família, no Opus Dei cada pessoa se sente querida, e é tratada de acordo com o seu caráter, idade e condições particulares. A delicadeza vai além da boa educação, do bom gosto no modo falar e de se vestir. Manifesta-se num comportamento simples e amável com todos e, ao mesmo tempo, evita qualquer comportamento pouco natural. São Josemaria insistia em que se amarmos de verdade a Deus, não devemos ter medo a amar muito, com carinho humano e sobrenatural, sem familiaridades. Neste sentido, é preciso ter um respeito especial aos idosos, comportamento tantas vezes louvado por Deus nas Escrituras.

- Buscar momentos de encontro nas refeições, no descanso, nas conversas. Os momentos de tertúlia são reuniões de família onde se contam as incidências e acontecimentos do dia de cada um com naturalidade. Uma tertúlia agradável facilita o descanso de todos e contribui para que todos rezem pelos acontecimentos que foram comentados.

- Os dias de festa – celebrações litúrgicas da Igreja, do calendário civil ou datas especiais, como um aniversário – celebram-se de acordo com a sua importância.

6. As sedes dos centros e as residências refletem o espírito e a vida do Opus Dei. São lares cristãos onde se respira “o perfume de Cristo”[14], o esforço de homens e mulheres comuns por serem santos.

Os centros do Opus Dei instalam-se como as outras casas de famílias cristãs do mesmo lugar. Esta característica corresponde à índole secular e laical do espírito do Opus Dei. São Josemaria dizia: “Os lares do Opus Dei são acolhedores e limpos, nunca luxuosos, embora procuremos que tenham aquele mínimo de bem-estar necessária para servir a Deus, para praticar as virtudes cristãs, para estar em condições de trabalhar e para que a personalidade humana se desenvolva, com dignidade e sem estridências. As nossas casas têm a simplicidade do lar de Nazaré, que foi testemunha da vida oculta de Jesus, e o calor – humano e divino – do lar de Betânia, que o Senhor santificou, procurando nele a amizade verdadeira, a intimidade, a compreensão”[15].

Por trás de qualquer casa cristã, há muitos cuidados que não chamam a atenção: a limpeza, a apresentação da comida, os consertos ou a ordem. O cuidado com as coisas materiais – fechar uma porta sem batê-la, arejar um quarto, arrumar os instrumentos do trabalho... – é um modo concreto de “materializar a vida espiritual”[16]. Deste modo, explicou São Josemaria, “cada uma das nossas casas será o lar que eu quero para os meus filhos. Os vossos irmãos terão uma fome santa de chegar em casa, depois de um dia de trabalho; e terão também vontade de sair par a rua, descansados e serenos, para a guerra de paz e de amor que o Senhor nos pede”[17].

J. L. González Gullón


Bibliografia básica

PEDRO RODRÍGUEZ – FERNANDO OCÁRIZ – JOSÉ LUIS ILLANES, El Opus Dei en la Iglesia, “La estructura del Opus Dei como familia” y “Fraternidad y espíritu de familia”, Rialp, Madrid, 1993, 1993, pp. 104-112 y 295-300

ÁLVARO DEL PORTILLO, Entrevista sobre el Fundador del Opus Dei, “Familia y milicia”, Rialp, Madrid, 1993, pp. 84-108

[1] Catecismo da Igreja Católica, n. 2205.

[2] Concílio Vaticano II, Constituição dogmática Lumen gentium, n. 6.

[3] Ef3, 15.

[4] Rom 8,29.

[5] Jo 17,21.

[6] São Josemaria, Carta 29/09/1957, n. 76, citado em p. RODRÍGUEZ, F. OCARIZ, J. L. ILLANES; O Opus Dei na Igreja.

[7] Mt 12, 49-50.

[8] Trad. de São Josemaria, citado en A. VÁZQUEZ, Como las manos de Dios: matrimonio y familia en las enseñanzas de Josemaria Escrivá, Palabra, p. 342.

[9] Catecismo da Igreja Católica, n. 2206.

[10] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 238.

[11] Cfr. São Josemaria, Caminho, n. 795.

[12] Concílio Vaticano II, Constituição pastoral Gaudium et spes, n. 24.

[13] Trad. de São Josemaria, citado en M. A. MONGE, San Josemaria y los enfermos. Sus enseñanzas sobre el dolor, los enfermos y el trabajo de los profesionales de la salud, Palabra, p. 111.

[14] 2Cor 2, 15.

[15] São Josemaria, citado em S. BERNAL, Mons. Josemaria Escrivá de Balaguer. Perfil do Fundador do Opus Dei, Quadrante, p. 388.

[16] Josemaria Escrivá, Entrevistas com Mons. Josemaria Escrivá, n. 114.

[17] São Josemaria , citado en A. Sastre, Tiempo de caminar, Rialp, p. 183.