Evangelho (Lc 10, 1-9)
Naquele tempo, designou o Senhor setenta e dois discípulos e enviou-os dois a dois à sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. E dizia-lhes:
«A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara. Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias, nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho. Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’. E se lá houver gente de paz, a vossa paz repousará sobre eles; senão, ficará convosco. Ficai nessa casa, comei e bebei do que tiverem, que o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa. Quando entrardes nalguma cidade e vos receberem, comei do que vos servirem, curai os enfermos que nela houver e dizei-lhes: ‘Está perto de vós o reino de Deus’».
Comentário
Na Missa prevista para o dia da festa de S. Cirilo e S. Metódio, padroeiros da Europa, podemos ler a passagem do Evangelho que narra o envio em missão dos setenta e dois discípulos. Esta escolha parece bastante lógica, uma vez que Pio XI nomeou os dois irmãos, Cirilo e Metódio, «filhos do Oriente, bizantinos pela sua pátria, gregos pela sua origem, romanos pela sua missão, eslavos pelos seus frutos apostólicos»[1], resumindo assim a sua vida exemplar ao serviço do Evangelho. São um exemplo clássico do que é designado por "inculturação". Cada povo deve introduzir na sua cultura a mensagem revelada e expor as verdades da Salvação na sua própria língua. Isto requer um trabalho de tradução exigente e delicado, procurando os termos adequados para expressar as riquezas da Palavra revelada, sem as distorcer.
Além disso, este passagem do Evangelho serviu de base para algumas orientações que os últimos soberanos pontífices, São João Paulo II, Bento XVI e Francisco deram à Igreja, a fim de a ajudar a entrar no terceiro milénio. Basta ler as suas numerosas intervenções, cartas apostólicas, homilias, audiências semanais, etc. Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, convocaram-nos a todos os católicos, para uma nova evangelização. «Mar adentro»[2], dizia S. João Paulo II na sua Carta Novo millenio ineunte, fazendo eco da ordem que Jesus deu a São Pedro junto ao lago de Genesaré. Por sua vez, Bento XVI dizia na carta com que criou o Conselho Pontifício para a Nova Evangelização: «A Igreja tem o dever de proclamar o Evangelho de Jesus Cristo em toda a parte»[3].
Por conseguinte, através da boca dos seus vigários na terra, Cristo continua a dizer-nos a todos: «A seara é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi ao dono da seara que mande trabalhadores para a sua seara» (cf. Lc 10, 2) Pedi, rezai! A oração é, sem dúvida, o nosso primeiro dever e o primeiro aspeto da missão de evangelizar de cada cristão. Nunca esqueçamos que, se a fé se espalhou pelos quatro cantos da terra, foi porque os nossos antepassados viveram fielmente este aspeto da missão. O trabalho de evangelização vem mais tarde, depois de o solo ter sido profundamente regado. S. Josemaria recordava, incansavelmente, a ordem a seguir no trabalho apostólico: «Primeiro, oração; depois, expiação; em terceiro lugar, muito em “terceiro lugar”, ação»[4].
Peçamos, pois, ao Senhor, que envie trabalhadores, especialmente vocações sacerdotais, tão necessárias em toda a parte. Mas peçamos-lhe também que todos os fiéis da Igreja, pais e mães de família, estudantes universitários, intelectuais, trabalhadores manuais e agrícolas, nunca esqueçam a dimensão apostólica do seu batismo. Como o Senhor nos tinha dito, sem dúvida para nos colocar de sobreaviso, é verdade que o trabalho envolve certos riscos: «Eis que vos envio como ovelhas no meio de lobos» (Lc 10, 3). Mas também é verdade que podemos sempre contar com o apoio seguro e firme do Senhor da colheita e com a intercessão materna da Virgem Maria, que deseja ardentemente que todos os seus filhos sejam salvos porque conheceram bem os ensinamentos do seu divino Filho, que é para todos, “Caminho, Verdade e Vida”.
[1] Pio XI, Quod S. Cyrrillum.
[2] S. João Paulo II, Novo Millennio Ineunte.
[3] Bento XVI, Ubicumque et semper.
[4] S. Josemaria, Caminho, n. 82.