Santo Agostinho de Hipona: biografia e comentários ao Evangelho

28 de agosto é dia de Santo Agostinho de Hipona (354-430). Nascido em Tagaste (Numídia), o chamado «Doutor da Graça» foi um dos maiores pensadores do cristianismo no primeiro milénio. O Papa Leão XIV, nas suas primeiras palavras, comentou: «Sou um filho de Santo Agostinho – um agostiniano –, que disse: “Convosco sou cristão, para vós sou bispo”. Nesse sentido, podemos caminhar juntos rumo à pátria que Deus nos preparou».

Neste artigo, disponibilizamos uma série de homilias e sermões de Santo Agostinho, bem como a sua biografia e alguns textos de São Josemaria nos quais faz referência a este Padre da Igreja


Sermões de Santo Agostinho:

  1. Quando Cristo passa: sobre a cura dos cegos de Jericó
  2. A tempestade na barca: comentário à passagem do Evangelho de São Mateus.
  3. Elogio de Maria: colaboradora de Cristo na Redenção.
  4. As pescas milagrosas: figuras da Igreja no tempo presente e na vida eterna.
  5. O serviço dos pastores: sobre a missão ministerial dos bispos.
  6. Elogio da caridade: segundo a doutrina do Apóstolo São Paulo.

Biografia de Santo Agostinho de Hipona

Depois da sua conversão e Batismo, enquanto ensinava Retórica em Milão, decidiu regressar à sua pátria com o desejo de servir melhor a Igreja. Aí foi ordenado presbítero no ano 391 para ajudar o velho bispo de Hipona, a que sucederia na sede episcopal pouco tempo depois. A sua atividade de Bispo foi, em grande parte, dirigida a defender a fé contra diversas heresias, como o maniqueísmo, o donatismo, o pelagianismo, o arianismo, etc.

Santo Agostinho tem uma personalidade complexa e profunda: é filósofo, teólogo, místico, poeta, orador, polemista, escritor, pastor. Qualidades que se complementam entre si e que convertem o Bispo de Hipona – com palavras de Pio XI – num homem “ao qual quase ninguém, ou apenas uns poucos, de quantos viveram desde o início do género humano até hoje, se podem comparar”.

Santo Agostinho tem uma personalidade complexa e profunda: é filósofo, teólogo, místico, poeta, orador, polemista, escritor, pastor

Santo Agostinho, no entanto, é antes de mais nada um Pastor que se sente e se define como “servo de Cristo e servo dos servos de Cristo”, e vive-o nas suas consequências extremas: plena disponibilidade aos desejos dos fiéis; desejo de não alcançar a salvação sem os seus (“não quero ser salvo sem vós”); roga a Deus para estar sempre pronto a morrer por eles; amor para com aqueles que estão à sua volta, embora não gostem dele, ou mesmo que o ofendam. Enfim, é Pastor no pleno sentido da palavra.

A pregação de Santo Agostinho foi abundantíssima. Chegaram até nós mais de quinhentas homilias suas, pregadas de viva voz, entre as quais se incluem o seu Comentário aos Salmos (Enarrationes in Psalmos), ao Evangelho de São João (In Ioannis Evangelium tractatus), e os Sermões, título com que os estudiosos agruparam os 363 discursos isolados, considerados autênticos.

O público que escutava os seus sermões é do mais heterogéneo. Patrícios e escravos, pobres e ricos, homens do povo com a sua cultura rudimentar e letrados, bons cristãos, hereges e indiferentes juntam-se para escutar o grande orador. O Bispo de Hipona esforça-se por apresentar com clareza e, ao mesmo tempo, com simplicidade a Palavra divina, entabulando com os seus ouvintes um diálogo de amor e de fé.

Para Santo Agostinho, que expôs a sua teoria da pregação no livro IV De doctrina christiana, o pregador é em primeiro lugar o doutor e entendido na Sagrada Escritura, que sabe expor ao povo de modo que o entendam. Daí o seu profundo conhecimento da palavra de Deus revelada, com que está sazonada toda a sua pregação.

Na sua pregação, entretecida de textos bíblicos, serve-se dos mais usados na liturgia do norte de África. As citações do Evangelho correspondem à versão da Vulgata, embora retoque algumas passagens quando a ocasião o requeira ou quando, depois de consultar o texto original, a tradução o não convence.


São Josemaria e Santo Agostinho

  • Não nos enganemos: na nossa vida, se contamos com brio e com vitórias, devemos também contar com quedas e derrotas. Essa foi sempre a peregrinação terrena do cristão, incluindo a daqueles que veneramos nos altares. Recordais-vos de Pedro, de Agostinho, de Francisco? Nunca me agradaram as biografias dos santos em que, com ingenuidade, mas também com falta de doutrina, nos apresentam as façanhas desses homens, como se estivessem confirmados na graça desde o seio materno. Não. As verdadeiras biografias dos heróis cristãos são como as nossas vidas: lutavam e ganhavam, lutavam e perdiam. E então, contritos, voltavam à luta.

(...) Não existem os fracassos, se agimos com retidão de intenção e queremos cumprir a vontade de Deus, contando sempre com a sua graça e com o nosso nada.

(Cristo que passa, n. 76).

  • «O Padre disse-me que se pode chegar a ser “outro” Santo Agostinho, depois do meu passado. Não duvido, e hoje mais do que ontem quero tratar de prová-lo».

Mas tens de cortar valentemente e de raiz, como o santo bispo de Hipona.

(Sulco, n. 838).

  • Não peças perdão a Jesus apenas das tuas culpas; não O ames com o teu coração somente…

Desagrava-O por todas as ofensas que Lhe têm feito, que Lhe fazem e Lhe hão de fazer…; ama-O com toda a força de todos os corações de todos os homens que mais O tenham amado.

Sê audaz: diz-Lhe que estás mais louco por Ele que Maria Madalena, mais que Teresa e Teresinha… mais apaixonado que Agostinho e Domingos e Francisco, mais que Inácio e Xavier.

(Caminho, n. 402).

  • É verdade que foi pecador. – Mas não faças dele esse juízo inabalável. – Abre o coração à piedade, e não te esqueças de que ainda pode vir a ser um Agostinho, enquanto tu não passas de um medíocre.

(Caminho, n. 675)

«Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, e com toda a tua mente Que resta do teu coração – comenta Santo Agostinho – para que possas amar-te a ti mesmo? Que resta da tua alma, da tua mente? Ex toto» – afirma. «Totum exigit te, qui fecit te»; Quem te fez exige tudo de ti.

(Cristo que passa, n. 59).

  • Recordai as palavras de Santo Agostinho: «Se disseres basta, estás perdido. Procura sempre mais, caminha sempre, progride sempre. Não permaneças no mesmo sítio, não retrocedas, não te desvies»

(...) Avanço na minha fidelidade a Cristo? Em desejos de santidade? Em generosidade apostólica na minha vida diária, no meu trabalho quotidiano entre os meus companheiros de profissão?

Cada um que responda a estas perguntas, sem ruído de palavras, e verá como é necessária uma nova transformação para que Cristo viva em nós, para que a sua imagem se reflicta limpidamente na nossa conduta.
(Cristo que passa, n. 58).