Quinta-feira Santa de 2018: homilia do Prelado

“Se abrirmos bem os olhos, apurarmos o ouvido e, sobretudo, prepararmos o nosso coração, descobriremos nestes dias como Jesus nos ama até ao fim também a nós”, disse Mons. Fernando Ocáriz.

Homilia de Quinta-feira Santa. Santa Maria da Paz, 29 de março de 2018

Liturgia da Palavra: Ex 12,1-8.11-14; Sal 115; 1Cor 11,23-26; Jo 13,1-15

1. «Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim» (Jo 13, 1). Estas palavras do Evangelho de S. João são como que o pórtico de entrada do Tríduo Pascal. Chegamos ao centro do ano litúrgico, e a Igreja quer recordar-nos que tudo o que iremos reviver nestes dias – a Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus – são manifestação desse amor imenso de Nosso Senhor por nós. Se abrirmos bem os olhos, apurarmos o ouvido e, sobretudo, prepararmos o nosso coração, descobriremos nestes dias como Jesus nos ama até ao fim também a nós, até ao extremo de por nós dar a sua vida.

Viestes a Roma para viver a Semana Santa; uns dias em que todos devemos procurar contemplar e, de algum modo, reviver a Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo. Nestes momentos, é lógico cada um de nós perguntar-se: que lugar ocupa Jesus na minha vida? Quem é Ele para mim? Para responder a essas perguntas, comecemos por outra, mais fundamental: quem sou eu para Jesus? Ele próprio no-lo diz com as palavras e os gestos que contemplamos na Última Ceia. Para Ele, nós somos seus amigos, de quem gosta como são: com defeitos, e necessitados de purificação, tal como os Apóstolos ao celebrar com Jesus a Páscoa no Cenáculo. O Senhor admite em sua companhia homens limitados, e a esses introduz na intimidade da sua vida, e torna-os seus amigos.

A EUCARISTIA É O PRÓPRIO CRISTO, REALMENTE PRESENTE E ENTREGUE POR NÓS

2. A nossa vida tem tal valor aos olhos de Cristo que, para nos tornar seus amigos, quis entregar o seu corpo e deixar o seu sangue ser derramado. Mais ainda: quis perpetuar esta entrega nos sacramentos, de modo especial na Eucaristia, cuja instituição comemoramos hoje. S. Paulo, na segunda leitura da Missa, recorda-nos esse momento: «O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão, e dando graças, partiu-o e disse: “Este é o meu corpo, entregue por vós; fazei isto em memória de Mim”. E, do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o cálice, dizendo: “Este cálice é a nova aliança no meu sangue; todas as vezes que o beberdes, fazei-o em memória de Mim “. A Eucaristia é o próprio Cristo, realmente presente e entregue por nós. Neste sacramento manifesta-nos de um modo especial a sua amizade, e o seu desejo de nos acompanhar em cada dia da nossa vida. Oxalá que, perante esta proximidade de Nosso Senhor, tenhamos a reação que S. Josemaria nos sugere : “Pasma ante a bondade de Deus, porque Cristo quer viver em ti..., também quando percebes todo o peso da pobre miséria, desta pobre carne, desta vileza, deste pobre barro. - Sim, também nessa altura, tem presente esse chamamento de Deus: Jesus Cristo que é Deus, que é Homem, entende-me e atende-me, porque é meu Irmão e meu Amigo.” (Forja, n. 182).

Jesus quer tornar-se presente nas nossas vidas. Mas nós sabemos corresponder, oferecendo-lhe a nossa companhia, participando na Santa Missa, passando também tempo com Ele quando está no sacrário ou nalgum momento de adoração eucarística? Que lugar ocupa a Eucaristia na nossa existência? Esta tarde, em que tradicionalmente velamos Jesus Sacramentado na Reserva eucarística, é também uma ocasião especial para O acompanhar e demonstrar assim a nossa amizade.

ELE MOSTRA-NOS QUE QUER DIZER SER VERDADEIRAMENTE AMIGOS

3. O Evangelho de hoje termina dizendo: «Dei-vos o exemplo…» (Jo 13,15). O Senhor ensinou-nos qual é o caminho do amor, que é o caminho do serviço, da compreensão, da ajuda aos outros para serem melhores. Ele mostra-nos o que quer dizer ser verdadeiramente amigos, e dá-nos forças para que o que fez connosco o façamos também com os outros (cf. Jo 13,15). Experimentar a companhia de Jesus na Eucaristia impele-nos a sair do nosso egoísmo, do medo de complicar a nossa vida em favor dos outros. Convido-vos, assim, a ouvir essa chamada que Deus nos faz para acompanharmos os nossos amigos: dedicando-lhes tempo, escutando os seus problemas ou estando simplesmente ao seu lado quando passam por algum momento de desânimo ou de sofrimento. O Senhor também nos pedirá que estejamos abertos a deixar-nos ajudar por eles. Deste modo, tornar-nos-emos capazes de amar até ao fim os outros, como Cristo fez connosco.

A Virgem Maria é a Mãe de Jesus, o Amigo que está sempre connosco. Peçamos-lhe para saber reconhecer a Sua presença nas nossas vidas, especialmente na Eucaristia, eque animemos os que nos rodeiam a acompanhá-Lo dia a dia.