Workshop Internacional Família: «Não há famílias ideais»

Facilitar o acompanhamento das famílias num contexto cultural pós-moderno: é a ambição do Workshop Internacional sobre o acompanhamento das famílias que terá lugar em Barcelona de 13 a 15 de maio de 2022. Diretora adjunta do ramo de ensino no Instituto de Estudos Superiores da Família (IESF), implicada neste evento, Pilar Lacorte Tierz aceitou responder às nossas perguntas.

Pilar Lacorte Tierz, Diretora adjunta do ISEF

TRAZER UM NOVO OLHAR SOBRE “A FAMÍLIA”

Como nasceu a ideia deste workshop?

No IESF, trabalhamos há vários anos sobre as necessidades das famílias e a forma de as acompanhar. No âmbito da nossa experiência em ensino e investigação, constatámos que às mudanças culturais operadas ao longo dos últimos decénios não se seguiu nenhuma mudança na forma de acompanhar as famílias nas suas novas circunstâncias. Mas estamos convencidos que é urgente lançar um novo olhar sobre “a família”, realizar uma espécie de “mudança cultural”, lembrar que não há famílias ideais” e compreender o que são as “famílias reais” e de que necessitam. Por isso pareceu-nos oportuno partilhar esta experiência com os que estão na primeira linha junto das famílias, convocando um workshop, quer dizer, uma reunião com uma vertente prática sobre o acompanhamento das Famílias.

NÃO HÁ "FAMÍLIAS IDEAIS" . PROCURAMOS COMPREENDER O QUE SÃO AS "FAMÌLIAS REAIS" E DE QUE NECESSITAM

A celebração do Ano da Família Amoris laetitia, promovida pelo Santo Padre, foi evidentemente para nós uma motivação suplementar. Com efeito, o Papa Francisco insistiu particularmente na necessidade de se estar perto das famílias, duma forma prática e realista. E é precisamente isso que nos propomos fazer.

O PAPA FRANCISCO INSISTE NA NECESSIDADE DE ESTAR PRÓXIMO DAS FAMÌLIAS; DE MODO PRÁTICO E REALISTA

Quais são exatamente os objetivos do workshop?

O workshop tem como objetivo geral promover uma mudança de abordagem na forma de acompanhar as famílias. Não se trata de introduzir novas estruturas ou de proceder a mudanças radicais, mas de compreender as dificuldades reais que as famílias enfrentam e de as ajudar numa nova perspetiva e com um novo olhar.

MUDANÇA DE ABORDAGEM NO MODO DE ACOMPANHAR AS FAMÍLIAS

Concretamente, trata-se de ao longo destes dias facultar uma formação sobre o que é este acompanhamento das famílias e sobre a maneira de o levar a cabo a partir de diferentes planos (educativo, pastoral, de gabinetes profissionais, de redes sociais, etc.).

FACULTAR UMA FORMAÇÃO SOBRE O ACOMPANHAMENTO DAS FAMÍLIAS

Desejamos que este workshop sirva de ponto de encontro para dar a conhecer as iniciativas de acompanhamento que já se realizaram e permitir sinergias entre os participantes favorecendo a criação de novas iniciativas nos diferentes países. Temos a alegria de constatar que, no momento em que falo, temos inscrições de participantes de cerca de 40 países dos cinco continentes!

Aspiramos a que este workshop seja:

  • um ponto de encontro para dar a conhecer as iniciativas de acompanhamento existentes;
  • uma fonte de sinergias entre os participantes para criar novas iniciativas nos diferentes países.

Porque é que hoje o acompanhamento das famílias é tão importante?

No IESF, as nossas investigações sobre as famílias de hoje revelam uma nítida tendência no Ocidente para a criação de sociedades muito individualistas. Não gostamos de estar juntos, temos necessidade de respostas e de ações imediatas, e quando surge um conflito, vemo-lo como um sinal de fracasso irreparável. Neste contexto, é difícil compreender a importância dos laços familiares e a necessidade de os fortalecer.

NESTE CONTEXTO INDIVIDUALISTA, É DIFÍCIL COMPREENDER A IMPORTÂNCIA DOS LAÇOS FAMILIARES E A NECESSIDADE DE OS FORTALECER

Daí a importância de acompanhar as famílias. Ora, precisamente até há alguns anos pensávamos que era suficiente dar uma certa “formação” às famílias para as ajudar: quer dizer, dar-lhes umas ideias de como «devia ser» a família e como «devia fazer» as coisas, com aquilo a que podíamos chamar um estilo «diretivo». Hoje compreendemos que a formação não consiste apenas em dar ou receber informações. Exige a liberdade que permite a cada pessoa, a cada família, descobrir o seu papel único. É evidente que a formação é sempre necessária, mas não é suficiente e, sobretudo, devemos aprender a formar duma maneira diferente, com uma metodologia diferente e com um estilo diferente, de acordo com a cultura em que vivemos.

A FORMAÇÃO NÃO CONSISTE APENAS EM DAR OU RECEBER INFORMAÇÕES. EXIGE A LIBERDADE (…) DEVEMOS APRENDER A FORMAR DUMA MANEIRA DIFERENTE

É por isso que, quando nos propomos acompanhar as famílias, não esquecemos que acompanhar significa «estar com alguém», caminhar ao seu lado, para poder descobrir o seu próprio caminho e aprender a melhor maneira de resolver as dificuldades e os conflitos que as relações pessoais trazem consigo. Acompanhar é, antes de mais nada, estabelecer uma relação pessoal. Ora, toda a relação pessoal se baseia na confiança: não podemos impô-la, mas podemos proporcionar as condições que a tornam possível.

A quem se dirige este workshop sobre o acompanhamento das famílias?

Como não há “famílias ideais” ou “famílias perfeitas”, temos necessidade de ser acompanhados e todos nós podemos, de certa forma, ser famílias que acompanham outras famílias. Assim, todas as famílias unidas pela ajuda às famílias têm o seu lugar neste workshop. No entanto, para estruturar o nosso trabalho, identificámos quatro planos principais de alvos implicados no acompanhamento e, portanto, potencialmente interessados neste workshop:

  • o plano dos profissionais do aconselhamento familiar ou da mediação, que têm uma visão reparadora e positiva das relações familiares;
  • o plano pastoral, em que incluímos todas as iniciativas proporcionadas às famílias cristãs pela Igreja como tal e pelas suas diversas entidades (paróquias, associações, movimentos, etc.);
  • o plano educativo à volta da escola, em cujo quadro as famílias são naturalmente chamadas a encontrar-se e apoiar-se na sua tarefa de educadores;
  • o plano numérico onde, nomeadamente nas redes sociais, se desenvolvem novas formas de comunicar nas jovens famílias.

Nota: para facilitar a participação de todos neste workshop Internacional, propomos uma tradução simultânea das intervenções em inglês, francês e espanhol.

Qual será o programa destas jornadas?

Este workshop organiza-se em três tipos de atividades: conferências de manhã, por personalidades como Mariolina Ceriotti, Raphael Bonelli, Thierry Veyron la Croix, Juan José Pérez Soba, entre outros; mesas redondas que vão permitir a peritos dos quatro planos mencionadas dar a conhecer iniciativas e experiências de acompanhamento que deram resultado e em que podem inspirar-se para novas; momentos de troca de impressões e de diálogo com os intervenientes. No sábado à tarde, teremos o privilégio de assistir a uma celebração da Eucaristia na igreja da Sagrada Família, obra do grande arquiteto catalão Antonio Gaudí. Esta celebração comemorará o ano da família Amoris laetitia que acaba em junho. Coincide igualmente com a véspera de 15 de maio, Dia Internacional da Família.