Vai e faz tu o mesmo (1): A Mim o fizestes

As necessidades sociais, os direitos e deveres dos cidadãos, as relações entre países, o diálogo e a ação política desafiam-nos, enquanto cristãos, filhos do mesmo Pai, a «estar ativa, livre e responsavelmente presentes na vida pública» (S. Josemaria).

Artigo sobre a Doutrina Social da Igreja na vida do cristão

Nós, cristãos, sabemos que fazemos parte da grande família dos filhos de Deus. A nossa identidade mais profunda, sendo filhos do Pai, configura-nos como irmãos e irmãs de todos os homens e mulheres, criados à sua imagem e semelhança. Contudo, também sabemos que as relações fraternas não são fáceis. Como resultado do pecado original, as nossas relações são marcadas pela ferida da primeira queda, que destrói a harmonia das relações entre os homens, bem como a relação do género humano com a criação[1]. Desde os primeiros irmãos de quem a Bíblia nos fala, Caim e Abel, e o fratricídio cometido pelo mais velho, sempre houve conflitos familiares: Esaú e Jacob lutaram pelo direito de primogenitura, José foi traído pelos seus irmãos mais velhos, Moisés sofreu por causa de Aarão e Miriam...

No Evangelho encontramos também irmãos entre os que estão próximos de Jesus: Pedro e André, Tiago e João, Maria, Marta e Lázaro. E também aí encontramos confrontos entre irmãos, tanto nos exemplos que Jesus propõe a quem o escuta –quando o filho pródigo da parábola regressa e o pai o felicita com uma festa, o irmão mais velho enfurece-se, recusando-se a entrar em casa (cf. Lc 15, 28)– como entre as pessoas à sua volta: «Mestre, diz ao meu irmão que me dê a minha parte da herança» (Lc 12, 13); «Senhor, não te importas que a minha irmã me tenha deixado só com o serviço da casa? Diz-lhe, pois, que me ajude» (Lc 10, 40).

Jesus, contudo, deu uma nova dimensão às relações humanas: «Em verdade vos digo, o que quer que tenhais feito a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o fizestes» (Mt 25, 40). Ao tornar-se um de nós, ele identifica-se com o mais fraco dos nossos semelhantes, aquele que mais sofre, aquele que mais injustiça sofre. Nenhum cristão pode ficar indiferente a outra pessoa, porque nele vê não só um igual, mas o próprio Cristo. «Em cada um deles temos de reconhecer Cristo, temos de ver em cada um deles Jesus como nosso irmão; e assim será mais fácil para nós prodigalizarmo-nos com serviço, atenção, afeto, paz e alegria»[2] encoraja S. Josemaria.

O primeiro mandamento

Comentando a parábola do Bom Samaritano, o Papa Francisco explica que ela recolhe um passado de séculos: «Pouco depois da história da criação do mundo e do ser humano, a Bíblia coloca o desafio das relações entre nós. Caim destrói o seu irmão Abel, e a pergunta de Deus ressoa: “Onde está o teu irmão Abel?”. A resposta é a mesma que damos frequentemente: “Sou eu o guardião do meu irmão?” (Gn 4, 9). Ao fazer a pergunta, Deus desafia qualquer tipo de determinismo ou fatalismo que procure justificar a indiferença como a única resposta possível. Pelo contrário, capacita-nos a criar uma cultura diferente que nos guia a superar as inimizades e a cuidar uns dos outros»[3].

Se nos perguntassem, provavelmente diríamos que tentamos ver nos estranhos outro Cristo. Mas o distanciamento do nosso irmão pode muitas vezes acontecer-nos em situações normais. Podemos criticar os políticos de que não gostamos assim que aparecem nas notícias, desconfiar daqueles que são diferentes na aparência ou comportamento, desprezar ou ignorar aqueles que pertencem a um estrato social diferente ou que têm uma situação económica diferente, discutir por causa de um resultado desportivo ou pela forma como os bebés devem dormir. Podemos até julgar duramente outros cristãos porque acreditamos –com ou sem razão– que eles não agem como cristãos.

Não podemos esquecer que a parábola do Bom Samaritano deriva da pergunta "Quem é o meu próximo?", colocada a Jesus por um mestre da lei, que queria justificar-se a si próprio depois de lhe ter perguntado sobre a vida eterna. A resposta à pergunta original já era conhecida dos seus ouvintes, pois estava na Torá: «Amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todas as tuas forças e com todo o teu entendimento, e o teu próximo como a ti mesmo» (Lc 10, 27; cf. Dt 6, 4 e Lv 19, 18). Jesus vai mais longe ao identificar ambos os mandamentos: «Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante a este: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas» (Mt 22, 38-40). No final da parábola, quando o mestre da lei reconhece que a atitude correta é a de quem tem misericórdia do homem que foi ferido, Jesus diz-lhe: «Vai e faz o mesmo».

Ao próximo como a si mesmo

No Novo Testamento, portanto, não há dúvida sobre o que é exigido àqueles de nós que querem seguir Jesus. «Ouvistes que foi dito aos antigos: 'Não matarás, e quem matar será submetido a julgamento'. Porém, digo-vos que todo aquele que se irar contra o seu irmão será sujeito a julgamento, e todo aquele que insultar o seu irmão será julgado perante o Sinédrio, e quem lhe chamar louco será condenado ao fogo da Geena». Alguns anos depois destes ensinamentos, João exortou os primeiros cristãos a viver a caridade fraterna como parte indispensável do amor a Deus: «Se alguém diz: 'Eu amo a Deus', e odiar o seu irmão, é um mentiroso. Pois quem não ama o seu irmão a quem vê, nem pode amar Deus a quem não vê» (1Jo 4, 20).

Queremos "ver" o nosso próximo, como diz S. João, e reconhecer nele o próprio Cristo, especialmente no caso daqueles que estão a sofrer. Por vezes, nós próprios já estivemos numa situação dolorosa ou vulnerável, outras vezes encontrámo-la: alguém sem abrigo com quem nos cruzamos regularmente na rua; colegas de trabalho que sofrem discriminação devido ao seu país de origem ou à sua cor de pele; conhecidos com uma doença degenerativa ou problemas de mobilidade que exigiriam um esforço e despesas extraordinárias para levar uma vida digna; mulheres que encontram obstáculos no seu percurso educativo ou profissional, só porque são mulheres; crianças e jovens que frequentam as aulas sem os recursos necessários para completar com sucesso os seus estudos; amigos viciados em pornografia, jogos de azar ou drogas... Já para não falar das guerras, fome, epidemias e catástrofes naturais que nos afetam ou poderão afetar-nos no futuro.

Dignidade humana e responsabilidade cristã

Ao longo dos séculos, muitos valores cristãos têm penetrado na sociedade e tornaram-na mais humana. Gradualmente fomos aprendendo a reconhecer nos outros alguém com dignidade, que merece ser tratado com respeito e cujos direitos valem tanto como os meus. Filosofia, sociologia e direito, entre outras disciplinas, têm vindo a aprofundar o valor de cada vida humana e a forma de a proteger, tanto individual como coletivamente. Os desenvolvimentos em campos como a engenharia, economia e medicina melhoraram as condições de vida de vastos setores da população mundial, mas ainda há muito a fazer e estão constantemente a surgir novos desafios.

Por vezes percebemos que muitas pessoas acusam os cristãos de falta de coerência entre os princípios evangélicos e a ação pública, ou consideram que a fé é um refúgio que nos permite fugir às responsabilidades. Como se rezar fosse sinónimo de passividade, ou esperar a vida eterna levasse à desvinculação do mundo, esquecendo aqueles que precisam de nós. «Na realidade, a fé completa o reconhecimento do outro por motivos inauditos, porque aqueles que acreditam podem vir a reconhecer que Deus ama cada ser humano com amor infinito e "assim lhes confere uma dignidade infinita". A isto podemos acrescentar que acreditamos que Cristo derramou o seu sangue por todos e cada um, para que ninguém seja deixado fora do seu amor universal. E se formos à fonte última, que é a vida íntima de Deus, encontramos uma comunidade de três Pessoas, a origem e modelo perfeito de toda a vida em comum»[4].

O mundo como herança

O prelado do Opus Dei encoraja frequentemente a ver o mundo inteiro, com tudo o que ele contém, como algo muito nosso, seguindo as palavras de S. Paulo: «quer o mundo, quer a vida, quer a morte, quer as coisas presentes, quer as coisas futuras, tudo é vosso; mas vós sois de Cristo, e Cristo é de Deus» (1Cor 3, 22-23).

«Perante esta realidade – tudo é vosso- alegramo-nos com as alegrias dos outros, desfrutamos de todas as coisas boas que nos rodeiam, e sentimo-nos interpelados pelos desafios do nosso tempo. Ao mesmo tempo, sentimos muito dentro da alma a situação do mundo, particularmente a triste realidade da guerra, e de outras situações com grandes carências e sofrimentos de tantas pessoas, especialmente as mais frágeis»[5].

Deus deu-nos o mundo como herança (cf. Sl 2, 8), por isso está nas nossas mãos transformá-lo. Não escolhemos o momento histórico ou o lugar em que vivemos, mas as circunstâncias que nos tocaram são precisamente aquilo com que Deus conta para que possamos concretizar o que Ele colocou nas nossas mãos.

Nós, cristãos, queremos um coração que seja semelhante ao de Cristo, um coração que sinta as necessidades dos outros como próprias, e que nos leve a agir em conformidade. Este é um dom de Deus: «enchei os corações dos vossos fiéis e acendei neles o fogo do vosso amor»[6], pedimos ao Espírito Santo para nós e para todos na Igreja. Ao mesmo tempo, "obras é que são amores, e não boas palavras": um cristão comprometido com o amor de Deus é necessariamente um cristão que procura ativamente transformar a sociedade, esforçando-se por torná-la cada vez mais em conformidade com a lógica de Deus e o seu amor pela humanidade.

Pessoal e responsável

Este compromisso manifesta-se, antes de mais, numa oração ardente e constante, a insistência filial de quem pede algo de bom para as pessoas que ama: «Na oração devemos ser capazes de colocar diante de Deus o nosso cansaço, o sofrimento de certas situações, de certos dias, o compromisso quotidiano de O seguir, de ser cristãos, assim como o peso do mal que vemos em nós e que nos rodeia, para que Ele nos dê esperança, nos faça sentir a sua proximidade, nos dê um pouco de luz no caminho da vida»[7].

Além da atitude de apresentar a Deus todas estas necessidades, é um dever de justiça agir para transformar o mundo, torná-lo mais humano, mais cristão, mais divino, mostrando a verdade, o bem e a beleza do plano de Deus para a felicidade dos homens e das mulheres. Lado a lado com os outros, o cristão procura, com a criatividade do amor, novas formas para que a mensagem que Cristo nos deixou no Evangelho se torne realidade nas circunstâncias em que nos movemos, aqui e agora.

Isto pode ser feito de muitas maneiras: dependerá das circunstâncias do lugar, do momento histórico, do carácter pessoal, das possibilidades que se têm devido às circunstâncias familiares e de trabalho... e das próprias preferências políticas, económicas ou sociais ao ponderar as soluções. «Pela própria natureza da criação –ensina a Igreja–, todas as coisas são dotadas de consistência, verdade e bondade próprias, e de uma ordem própria, que o homem deve respeitar com o reconhecimento da metodologia particular de cada ciência ou arte»[8]; ao mesmo tempo, «todos os cristãos devem estar conscientes da vocação particular e própria que têm na comunidade política; em virtude desta vocação, são obrigados a dar exemplo de sentido de responsabilidade e de serviço ao bem comum»[9].

Há muitas formas de fazer o bem, e a Igreja encoraja os seus filhos a agir em liberdade e pluralidade, sem impor uma escola em particular. Motivados pelo mesmo ideal, os cristãos podem agrupar-se em associações religiosas ou civis; na maioria dos casos, porém, trabalham em iniciativas públicas ou privadas que não são promovidas por instituições católicas, mas que visam melhorar um certo aspeto social.

A caridade «dá verdadeira substância à relação pessoal com Deus e com o próximo; não é apenas o princípio das microrrelações, como as amizades, a família, o pequeno grupo, mas também das macrorrelações, como as relações sociais, económicas e políticas»[10]. Assim, cada pessoa procura formas de contribuir para a resolução dos problemas sociais que vê à sua volta. S. Josemaria encorajou aqueles que a ele se dirigiram a serem cidadãos responsáveis, capazes de transformar a sociedade, melhorando-a através do seu próprio trabalho. «A ação de cada um de nós, meus filhos, é pessoal e responsável»[11].

Muito de bom pode muitas vezes ser feito com pequenos gestos, que vão configurando uma atitude vital em relação aos outros. Estar disponível para escutar o filho adolescente pode facilitar a abertura ao diálogo com a cultura contemporânea. Tratar os avós idosos com atenção e afeto ajuda a educar o olhar para os frágeis e vulneráveis. Recusar-se a participar em conversas no trabalho que critiquem ou difamem aqueles que não estão presentes e não se podem defender fomenta um ambiente de respeito e confiança.

Outras vezes, a capacidade transformadora virá pela nossa formação profissional ou pela nossa posição na sociedade, através do nosso próprio trabalho, da mobilização dos cidadãos ou da decisão de nos dedicarmos à política: influenciando projetos de lei que facilitam o acesso das famílias aos recursos de que necessitam, denunciando abusos de corrupção económica, pondo fim aos costumes que segregam algum setor da população... Um médico, um membro do parlamento, o CEO de uma empresa ou um jornalista podem fazer bem o seu trabalho sem "arranjar problemas", mas também podem "complicar as suas vidas" para contribuir através do seu trabalho para a construção de um mundo mais justo.

A doutrina social da Igreja em diálogo com o mundo

A Igreja proclama princípios morais na esfera social quando estão em jogo os direitos fundamentais da pessoa humana ou a salvação das almas[12]. Instituída por Cristo para levar a mensagem de salvação a todos os homens, ela não pode ficar de braços cruzados diante de tudo o que é humano. A partir do século XIX, a fim de facilitar aos cristãos a atuação justa face aos novos modelos económicos, políticos e sociais, estabeleceu certos parâmetros para os ajudar a não perder de vista a mensagem evangélica face a estas novas situações. Por esta razão, o Compêndio da Doutrina Social da Igreja contém alguns princípios orientadores.

O princípio do bem comum defende que deve haver um conjunto de "condições da vida social" que permitam «que as associações e cada um dos seus membros alcancem a sua própria perfeição da forma mais completa e mais fácil»[13]. O princípio do destino universal dos bens lembra-nos que "os bens criados devem chegar a todos de forma equitativa", na justiça e na caridade[14]. Pelo princípio da subsidiariedade, «todas as sociedades de ordem superior devem adotar uma atitude de assistência ("subsidium") –portanto de apoio, promoção, desenvolvimento– em relação às de ordem inferior»[15]; e, assim, se cuida «a família, grupos, associações, realidades territoriais locais, em suma, aquelas expressões agregativas de natureza económica, social, cultural, desportiva, recreativa, profissional, política, às quais as pessoas dão vida espontaneamente e que tornam possível o seu crescimento social efetivo»[16].

O princípio da participação é uma consequência do acima exposto, e «é expresso, essencialmente, numa série de atividades através das quais o cidadão [...] contribui para a vida cultural, económica, política e social da comunidade civil a que pertence. A participação é um dever que todos devem cumprir de forma consciente, responsável e com vista ao bem comum»[17]. Por último, o princípio da solidariedade «implica que os homens e mulheres do nosso tempo devem cultivar uma consciência ainda maior da dívida que têm para com a sociedade em que vivem [...]. Uma tal dívida é paga pelas várias manifestações da ação social»[18].

Estes princípios levam-nos a descobrir que muitas das iniciativas sociais que florescem à nossa volta se baseiam em valores partilhados. Estudá-los e torná-los conhecidos pode ser uma oportunidade de trabalhar em conjunto com o resto dos habitantes dos nossos países na construção de uma sociedade mais justa.

Verdade, liberdade, justiça e caridade

Há quatro valores fundamentais nos quais se baseiam os princípios da doutrina social da Igreja: verdade, liberdade, justiça e amor.

O amor ao próximo deve conduzir a vida dos cristãos, tanto a nível pessoal como social. «A Igreja deve não só proclamar a Palavra, mas também fazer nascer a Palavra, que é caridade e verdade»[19]. Vimos isto talvez mais claramente nos últimos anos: face às crises globais, há uma resposta de solidariedade que une aqueles que sofrem em conjunto. Há famílias que se reúnem perante a doença de um ente querido, ou vizinhos que começam a falar uns com os outros quando são obrigados a passar mais tempo em casa. Estas são atitudes que também podemos incorporar quando não são as circunstâncias que nos levam a fazê-lo: Sei os nomes dos que vivem no meu prédio, ou na casa mais remota da aldeia? Alguma vez falei com cada um, interessando-me pelas suas circunstâncias, procurando aproximar-me deles?

O que pode parecer visto de fora como um simples gesto de cortesia ou uma demonstração de bondade pode, de facto, refletir o amor de Deus por cada um: «O amor, cheio de pequenos gestos de cuidado mútuo, é também civil e político, e manifesta-se em todas as ações que procuram construir um mundo melhor. Por esta razão, o amor não se expressa apenas em relações íntimas e próximas, mas também em macrorrelações, tais como relações sociais, económicas e políticas»[20]. A unidade de vida de um cristão coerente leva-o a agir com caridade a todos os níveis, tanto no que lhe é próximo como em assuntos mais distantes.

Com base no respeito por todos, colocando o bem de cada pessoa acima de ideias ou opiniões, os cristãos podem intervir em todo o tipo de questões, com responsabilidade e criatividade, sem atribuir à Igreja o que é o modo de agir próprio de cada indivíduo. «Os cristãos gozam da mais completa liberdade, com a consequente responsabilidade pessoal, de intervir como entenderem em questões de natureza política, social, cultural, etc.»[21].

«Aquele que ama os outros com caridade é, antes de mais, justo para com eles. Não basta dizer que a justiça não é estranha à caridade, que não é uma via alternativa ou paralela à caridade: a justiça é (...) intrínseca a ela. A justiça é a primeira forma de caridade»[22]. E vice-versa: a luta pelo bem comum será sempre guiada pela compreensão e pelo respeito. Não faria sentido procurar justiça com dureza de coração ou regozijar-se com algo objetivamente mau porque confirma a nossa opinião.

Face a pessoas próximas de nós que sofrem as consequências de ações ou estilos de vida contrários à moral, ou que retificam e querem aproximar-se de Deus ou de outro modo de vida, a única postura possível para um cristão é um acompanhamento cheio de afeto e compreensão, nunca uma resposta autocomplacente que olha para os outros com desdém. Assim como a Igreja entra em diálogo com o mundo pela caridade, nós, do mundo, procuramos uma conversa aberta a todos, incluindo todos e não fechada ante propostas que percebemos como ameaças, mas aberta a diferentes pontos de vista, aprendendo com os outros.

Os apóstolos também não eram um grupo uniforme. Vinham de meios diferentes, tinham profissões diferentes, feitios por vezes pouco compatíveis, opiniões opostas... Mas estavam unidos pelo seu amor a Cristo e pela sua missão de levar a Boa Nova ao mundo. Assim, conjugando o primado de Pedro e a colegialidade com a sua própria identidade, cumpriram o mandato de Cristo: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura» (Mc 16, 15).

A promessa de Jesus

Esta obrigação cristã de amar o próximo realiza-se, como todas as outras obrigações, partindo do amor de Deus pelos homens. É Ele que transforma os corações e renova o mundo: «Caridade e justiça não são apenas ações sociais, mas são ações espirituais realizadas à luz do Espírito Santo»[23].

Sabemos que não podemos alcançar uma justiça perfeita na terra, e contamos com a justiça da vida eterna. No entanto, isso não nos leva a negligenciar os nossos deveres terrenos, porque sabemos que a vida eterna dependerá do quanto nos esforçámos aqui para viver o "a mim o fizestes" de Jesus. Esperamos transformar o mundo, contribuir para a felicidade dos que nos rodeiam, e sermos nós próprios felizes, porque ouvimos dos lábios de Jesus o que ele prometeu um dia àqueles que o ouviam: «Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados» (Mt 5, 6).


[1] cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 400.

[2] S. Josemaria, Carta n. 3 ("Sobre a missão do cristão na vida social"), n. 31.

[3] Francisco, Fratelli tutti, n. 57.

[4] Francisco, Fratelli tutti, n. 85.

[5] Fernando Ocáriz, Carta 19/03/2020, n. 7.

[6] Aleluia da Solenidade de Pentecostes, ciclo B.

[7] Bento XVI, Audiência 01/02/2012.

[8] Concílio Vaticano II, Gaudium et Spes, n. 36.

[9] Ibid., n. 75.

[10] Bento XVI, Caritas in veritate, n. 2.

[11] S. Josemaria, Carta n. 3, n. 37.

[12] cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 2032; 2420.

[13Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 164.

[14] cf. idem, n. 171.

[15Compêndio da Doutrina Social da Igreja, n. 186.

[16] Ibid., n. 185.

[17] Ibid., n. 189.

[18] Ibid., n. 195.

[19] Bento XVI, Audiência Geral, 25/04/2012.

[20] Francisco, Fratelli tutti, n. 181.

[21] S. Josemaria, Amigos de Deus, n. 11.

[22] Bento XVI, Caritas in veritate, n. 6.

[23] Bento XVI, Audiência Geral, 25/04/2012.

Teresa Gómez