Queridos irmãos e irmãs.
Oferecemos hoje a Deus o Santo Sacrifício da Missa na memória litúrgica de S. Josemaria Escrivá, a quem o Senhor suscitou na Igreja (...) para proclamar a vocação universal à santidade e ao apostolado.
Fazemo-lo unindo-nos aos milhares de pessoas que, em todo o mundo, dão graças a Deus pelo dom que deu à Igreja e ao mundo inteiro com este sacerdote exemplar e santo. Efectivamente, são inumeráveis os homens e as mulheres de todas as idades, nações e condições sociais, que aprenderam a amar e a seguir Jesus graças aos ensinamentos e ao exemplo de S. Josemaria.
Passaram já 34 anos da morte de S. Josemaria. Neste tempo, o influxo da sua figura não deixou de crescer e o recurso à sua intercessão difunde-se continuamente. Confirma-se a actualidade da mensagem que Deus lhe confiou para que a fizesse frutificar em benefício da Igreja inteira, com a sua resposta generosa e total à chamada que o Senhor lhe fez quando era ainda um adolescente. S. Josemaria contou várias vezes aqueles momentos inefáveis em que Deus lhe fez pressentir a existência de um desígnio de amor e de uma missão específica para a sua vida. A resposta daquele rapaz, que então tinha apenas 15 ou 16 anos, foi um acto de generosa abertura à Vontade de Deus, uma resposta de amor total e incondicional que o levou a fazer-se sacerdote, como manifestação de particular disponibilidade para uma chamada de que não conhecia ainda os detalhes. Desde esse momento e durante toda a vida, S. Josemaria foi um enamorado de Deus, que amou apaixonadamente também o mundo e as pessoas de todos os tempos, a quem soube contagiar esta paixão. A festa de hoje recorda-nos que entre o Criador e cada criatura se renova um diálogo de amor semelhante; socorramo-nos da intercessão deste sacerdote santo para que nos ajude a responder com generosidade e alegria ao desígnio que Deus tem para cada um de nós.
Quando exortava os fiéis a rezar pela santidade dos sacerdotes, costumava dizer que um sacerdote não vai sozinho para o Céu: vai sempre rodeado de uma corte de almas. As almas que aproximou de Deus com os sacramentos, com a pregação, com a oração, com o zelo sacerdotal, com a caridade pastoral. Por isso é necessário rezar todos os dias para que o Espírito Santo suscite muitos sacerdotes santos na Igreja e para que todos sejamos cada vez mais conscientes da nossa alma sacerdotal. É um dever de todos, homens e mulheres, jovens e velhos, doentes e pessoas sadias... Todos temos de ter constantemente presente esta intenção, com a oração, oferecendo as contrariedades da vida e pequenas mortificações, realizando bem o trabalho profissional, com rectidão de intenção e na presença de Deus. Deste modo responderemos à recomendação de Jesus Cristo “a messe é verdadeiramente grande, mas os operários são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da messe que mande operários para a Sua messe” (Mt 9, 37-38).
Esta petição, que é sempre necessária, revela-se de particular actualidade a propósito das vocações sacerdotais. Há uma semana que o Santo Padre Bento XVI deu início a um Ano sacerdotal, com a finalidade de obter do Senhor o dom de muitos sacerdotes santos no mundo inteiro. Como estamos a rezar por esta intenção? Estamos convencidos de que ninguém nos pode substituir neste dever pessoalíssimo?
2. A vida do cristão é sempre uma existência sacerdotal, como ensinam os santos Apóstolos Pedro e Paulo, Padroeiros de Roma e da Igreja universal, cuja solenidade litúrgica celebraremos dentro de poucos dias. O Príncipe dos Apóstolos, na sua primeira carta, expressa-o do seguinte modo: “vós sois geração escolhida, um sacerdócio real, uma nação santa, um povo adquirido por Deus, para que publiqueis as maravilhas d’Aquele que das trevas vos chamou à luz admirável” (1 Pe 2, 9). E São Paulo escreve na Carta aos Romanos: “Rogo-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que ofereçais os vossos corpos como uma hóstia viva, santa, agradável a Deus: este é o vosso culto espiritual” (Rm 12, 1).
Todos os cristãos participam, com o Baptismo, no sacerdócio de Cristo; recebemos o sacerdócio comum, essencialmente diverso do sacerdócio ministerial próprio dos ministros sagrados, mas nem por isso menos necessário; ambos, o sacerdócio dos fiéis e o dos presbíteros, cada um a seu modo, são imprescindíveis para o cumprimento da missão que Cristo confiou à Igreja para a salvação do mundo. Este ensinamento do Magistério, que foi proclamado de modo especialmente solene no Concílio Vaticano II, foi pregado e difundido por S. Josemaria desde o momento da fundação do Opus Dei, em 2 de Outubro de 1928.
Sacerdotes e leigos constituem, pois, na Igreja, uma só família de filhos de Deus. Neste sentido, como afirmava S. Josemaria, nem como homem, nem como fiel cristão o sacerdote é mais do que o leigo [1]. Configurados em Cristo, por virtude do Baptismo, todos somos membros, com a mesma dignidade, no Corpo místico e igualmente responsáveis pelo cumprimento da missão da Igreja, que cada um realiza de modo específico. Portanto, nos que são ordenados este sacerdócio ministerial soma-se ao sacerdócio comum de todos os fiéis. Portanto, seria um erro defender que um sacerdote é mais cristão do que qualquer outro fiel, mas pode afirmar-se que é mais sacerdote: pertence, como todos os cristãos, ao povo sacerdotal redimido por Cristo e, além disso, está marcado com o carácter do sacerdócio ministerial [2].
Pelo poder próprio da ordenação sacerdotal, o presbítero dedica-se completamente ao serviço do Povo de Deus, mediante as acções especificamente sacerdotais, a pregação da Palavra de Deus, a administração dos sacramentos, em particular do sacramento da Reconciliação e da Eucaristia e da orientação pastoral das almas. Porque sem sacerdócio, sem sacerdotes, não haveria Igreja.
São João Maria Vianney, o Santo Cura d’Ars, dizia que «o Sacerdócio é o amor do Coração de Jesus». E Bento XVI comenta: «Esta expressão comove e permite-nos evocar com ternura e reconhecimento o imenso dom que os sacerdotes constituem não só para a Igreja, mas também para toda a humanidade. Penso em todos aqueles sacerdotes que oferecem aos fiéis cristãos e ao mundo inteiro a humilde e quotidiana proposta das palavras e os gestos de Cristo, procurando unir-se a Ele com o pensamento, a vontade, os sentimentos e o estilo de toda a existência pessoal. Como não destacar as suas fadigas apostólicas, o seu serviço infatigável e escondido, a sua caridade por todos? E que dizer da valente fidelidade de tantos sacerdotes que, inclusive entre dificuldades e incompreensões, são fiéis à sua vocação: a de amigos de Cristo, chamados por Ele particularmente, eleitos e enviados?» [3].
3. Regressemos aos textos próprios da Missa de hoje. A Colecta, depois de pôr em evidência que S. Josemaria foi chamado por Deus a proclamar a vocação universal à santidade e ao apostolado, acrescenta: “concede-nos, por sua intercessão e pelo seu exemplo, que no exercício do trabalho corrente nos configuremos com o Teu Filho Jesus Cristo e sirvamos com ardente amor a obra da Redenção”.
O trabalho quotidiano e as circunstâncias normais da vida constituem o campo específico onde se desenvolve o empenho laical na procura da santidade e do apostolado. Neste contexto se insere um ponto muito importante da espiritualidade proposta por S. Josemaria: fazer todas as coisas com alma sacerdotal e mentalidade laical. Por outras palavras, isto significa que se pede aos fiéis leigos que desempenhem a sua profissão e todas as outras obrigações familiares e sociais com a mentalidade própria das pessoas que são chamadas a trabalhar no meio do mundo e, ao mesmo tempo, com aquele espírito sacerdotal que é uma característica que deriva da vocação cristã.
Para isso convido-vos a meditar outras palavras de S. Josemaria que se referem em particular aos fiéis leigos: todos vós tendes alma sacerdotal, arraigada nos caracteres sacramentais do Baptismo e da Confirmação. Alma sacerdotal, que não só pondes em acto quando participais no culto litúrgico — e sobretudo no sacrifício eucarístico, raiz e centro da nossa vida interior — mas em todas as actividades da vossa vida [4].
No Forja, além disso, dá um conselho específico: se actuares — viveres e trabalhares — face a Deus, por razões de amor e de serviço, com alma sacerdotal, ainda que não sejas sacerdote, toda a tua acção cobra um genuíno sentido sobrenatural, que mantém a tua vida inteira unida à fonte de todas as graças [5].
S. Josemaria pregou incansavelmente esta mensagem, até aquela manhã de 26 de Junho de 1975 na qual, cerca de uma hora depois de ter falado destes temas numa reunião, o Senhor o chamou a Si. Também é nossa obrigação tornar presente esta mensagem, descobrir a tantas e a tantos amigos e colegas a beleza desta realidade: todos estamos chamados à santidade, que é união com Jesus Cristo e plenitude do amor e que pode atingir-se em qualquer condição, idade e lugar.
Repeti-lo-emos dentro em pouco com palavras da liturgia: Recebe, Pai santo, estes dons que Te oferecemos na comemoração de S. Josemaria, para que, pelo sacrifício de Cristo oferecido na ara da Cruz, que se faz presente no sacramento, queiras santificar todas as nossas obras.
Confiamos à intercessão da Virgem todas estas aspirações, bem unidos à Pessoa e às intenções do Romano Pontífice. Mãe nossa, obtém do Teu Filho para nós uma messe abundante de sacerdotes santos, forjados à medida do Coração de Cristo, que com o seu ministério, com o seu exemplo e com a sua oração abram de par em par as portas da vida eterna a muitas almas. Assim seja.
[1] S. Josemaria, Homilia Sacerdote para a eternidad, 13-IV-1973.
[2] Ibid.
[3] Bento XVI, Carta aos sacerdotes por motivo do Ano sacerdotal, 16-VI-2009.
[4] S. Josemaria, Carta 6-V-1945, n. 27.
[5] S. Josemaria, Forja, n. 369.