Uma história verdadeira

Irene Kalpas conheceu o Opus Dei quando quis regressar à casa onde tinha sido detida durante a Segunda Guerra Mundial. No dia 26 de junho de 2002, aniversário da morte de S. Josemaria, Irene bateu à porta da sua casa, 63 anos depois.

Em 2002, passei por acaso pela rua Filtrova, em Varsóvia, onde tinha vivido durante a guerra, entre setembro de 1939 e novembro de 1944. Parei em frente à casa da minha família; tinha sido ali que tínhamos sido presos pelos nazis e enviados para um campo de concentração, a minha mãe, o meu pai, a minha tia (a proprietária do imóvel) e eu.

Nuestra casa había sido requisada. Desde entonces no había vuelto nunca a la calle Filtrova. Intentaba evitarlo, había demasiados recuerdos dolorosos...

A minha tia morreu no campo de concentração de Ravensbruck e o meu pai no de Oranienburg. Regressei de Oranienburg somente com a minha mãe. Nesse intervalo de tempo, a nossa casa tinha sido confiscada e desde essa altura nunca mais voltei à Rua Filtrova. Evitava passar por lá porque o local guardava muitas memórias dolorosas...

Naquele 26 de junho, subi a rua Filtrova pelo lado da praça Nautowich. Andei, andei e andei. Até hoje não sei porquê, não sei explicá-lo. E então cheguei perto da nossa antiga casa, à rua Filtrova no número 27. Parei na frente da casa e pude ver que tudo estava bem conservado; o jardim e a bela e iluminada entrada tinham sido restaurados.

Disse a mim mesma: “Meu Deus, a garagem está exatamente como era antes!” E então perguntei-me: “Como estará o jardim atrás da casa?” Pus a mão no trinco do portão, embora deva dizer que não sou dessas pessoas que vão entrando em qualquer lugar para bisbilhotar. Abri o portão e entrei no jardim para ver se estava tudo como dantes. Era como se estivesse a fazer tudo isso sem ter consciência dos meus atos. Pensei então: “Pode haver algum cão” e voltei para trás alguns passos.

Subí este escalón, había un timbre, y no sé por qué, toqué el timbre. La puerta se abrió y salió un hombre joven con apariencia simpática

Nesse momento, percebi que as pedras do piso do jardim tinham sido postas de uma maneira diferente e que a entrada também tinha sido alterada. Subi os degraus e ali estava uma campainha. Sem saber porquê, toquei. A porta abriu-se e apareceu um rapaz de aspeto muito amável; penso que usava óculos. Eu estava muito nervosa e ele disse-me: “Em que posso ser-lhe útil?” Respondi que só desejava ver o jardim e ele convidou-me a entrar.

Contei-lhe que havia ali um terraço. Olhou-me surpreendido e disse-lhe que a minha família tinha morado ali durante a guerra. Ele fez-me entrar na casa e encontrei-me no hall de entrada. Quase não reconhecia ali nada. Percorri o corredor que levava à antiga sala de estar, onde tínhamos sido presos em 1944. Mas a sala de estar tinha desaparecido para dar lugar a uma capela. Estava lá um sacerdote a rezar, que sorriu ao ver-me. Despedi-me educadamente e saí. Precisava de assentar ideias.

Como fiquei a saber, naquela casa, sessenta anos depois, havia um Centro do Opus Dei. Até aí, nada sabia sobre o Opus Dei nem sobre o seu Fundador. Por que é que lá fui? A partir daquele momento, que nada fazia esperar, comecei a conhecer o Opus Dei. E grandes mudanças começaram a ocorrer, especialmente na minha vida interior. Hoje, sou supranumerária do Opus Dei e estou enormemente agradecida a Deus e a São Josemaria por Ele me ter escolhido a mim, uma pessoa desconhecida que não merecia nada disto.

Sucede que en esa casa, 50 años después, había un centro del Opus Dei. No sabía nada del Opus Dei ni de su Fundador

Queria falar destas coisas porque acabo de fazer noventa anos e desejo dizer a todas as pessoas idosas que estão doentes ou desanimadas com a vida que não há limites e que ninguém sabe quando a graça de Deus nos poderá tocar.

Não há dúvida de que vivi com Deus desde o começo, ou seja, desde o momento do Baptismo. Mas ao longo de toda a minha vida, mesmo na vida com Deus, fui tíbia. Agora a minha vida interior começou a ser mais intensa e esforço-me por aprofundá-la diariamente. Assim, agradeço a Deus de todo o meu coração que Ele me tenha permitido começar algo de novo e que realmente vale a pena, no final da minha vida.


Irene Kalpas faleceu no ano 2012. Ativista social, recebeu várias distinções, como a medalha de ouro Guardian of National Remembrance Sites (2011) e a medalha "Viudas de Katyn" (2011).

Artigo publicado originalmente no ano 2006.