Uma ajuda na dor e na solidão

Em Madrid, cerca de 100.000 idosos vivem sozinhos. Muitos deles têm problemas de saúde. A Fundação “Desenvolvimento e Assistência” coordena o trabalho de 750 voluntários. O objectivo é: oferecer tempo e amizade a todo aquele que o necessite.

Os voluntários de Desenvolvimento e Assistência (DA) têm poucos elementos em comum, a não ser o entusiasmo em contribuir para ajudar os seus semelhantes. Há uma grande variedade enquanto à idade, local de residência, trabalho e situação sócio-económica. Uma quarta parte dos voluntários são reformados e, em geral, predominam as mulheres. Em DA, o voluntariado mais velho é uma “peça insubstituível”. Proporciona aos utilizadores fidelidade e constância, aspectos muito apreciados nas pessoas que, regra geral, sofreram abandono da parte dos seres queridos. Embora na ONG colaborem voluntários de distintas mentalidades, as tarefas que se levam a cabo nascem de profundas convicções cristãs. “Procuramos que esta elevada concepção da pessoa, o saber que cada uma foi criada e é querida por Deus, se projecte em todas as nossas formulações”, afirma Mar Garrido, membro do Conselho Directivo de Da.

Nos hospitais

“Os assistentes sociais, supervisores de andares e enfermeiras indicam-nos a quem temos de visitar, sabem quem está desanimado ou quem não recebe visitas. A nossa função é suprir o carinho e a companhia que lhes possa faltar”. Assim explica José Maria Sáenz de Tejada, um dos voluntários veteranos e presidente de DA, em que consiste uma parte do voluntariado que desenvolvem actualmente. Tudo começou há uns anos quando ele iniciou as visitas aos hospitais militares de Madrid, ao deixar o cargo de Chefe do Estado Maior. Em várias ocasiões, falando com outros amigos, explicava-lhes a sua experiência e as carências que observava em Madrid no final dos anos 90. Vários deles conheciam o Opus Dei e sabiam que o Fundador, o beato Josemaría Escrivá de Balaguer, também tinha trabalhado em obras de misericórdia, contribuindo com o seu ministério sacerdotal para aliviar a situação a situação que décadas antes se verificava nalguns subúrbios da capital.

Seguindo o exemplo do fundador do Opus Dei, os pioneiros de DA tinham-se proposto este trabalho de assistência social como uma manifestação prática dos valores cristãos que procuravam viver. A sua fé foi um estímulo para servir os mais desfavorecidos. “Passados cinco anos –afirma o presidente- a ONG conta com quase 500 voluntários, homens e mulheres, de diferentes idades e convicções; a mim e a outros que vieram depois continuam a animar-nos as palavras do beato Josemaría quando explicava que a Obra nasceu e cresceu entre os pobres e doentes de Madrid”.

O Hospital Civil de S. Carlos –com mais de mil camas e um total de cinco mil trabalhadores- é um dos maiores de Madrid. Em Janeiro de 1996, DA assinou um protocolo para proporcionar acompanhamento aos doentes internados. Mais tarde o protocolo estendeu-se a tarefas apoio e informação para as pessoas que recorrem às consultas externas. Trata-se de uma atenção carinhosa e humana, que não interfere na que proporcionam os profissionais sanitários. O acompanhamento do voluntariado aos doentes oferece uma ajuda à família ou a quem a substitui no caso de estar ausente ou de não existir.

Por outro lado, a colaboração que prestam como orientadores organiza-se de modo imediato. No vestíbulo central, com bata branca e braceletes, os voluntários esperam um gesto para orientarem o doente recém chegado. 2Esta actuação dos voluntários é uma das mais apreciadas no hospital, porque ao pessoal é impossível acompanhar tosos. O voluntário pode ensinar o caminho, dizer umas palavras de ânimo e acalmar o nervosismo dos momentos prévios à consulta”, explica Rafi Santos, médico psiquiatra e vice-presidente de DA.

Em lares e residências

Além do Hospital Civil, os voluntários de DA colaboram em duas residências de pessoas idosas; num lar municipal (o Centro de Acolhimento Municipal de Santo Isidro) e num centro de educação especial para menores deficientes em Vallecas. Há também um quinto programa, que é o Serviço de Apoio ao Domicilio em cinco freguesias de Madrid, e que cada vez conta com mais pedidos.

Javier Barandiarán, doutor engenheiro reformado, coordena os voluntários no Centro municipal de Santo Isidro. Ali convivem quase trezentas pessoas, imigrantes ou sem abrigo, que alternam a estadia com temporadas passadas na rua ou nos hospitais. O ambiente é difícil, porque se sente a deterioração que causam o alcool e as drogas. “Ainda assim, o maior problema é a solidão; alguns estão muito calados , metidos em si próprios e qualquer coisa que faças: o simples facto de os levar a passear ou acompanhá-los ao médico, anima-os; por causa dessa dificuldade de comunicar valorizam a continuidade”, afirma o Dr. Barandiarán.

Por outro lado, nas residências, a prioridade são os idosos inválidos. “Quando chegámos, estabelecemos conversação com uma senhora que estava numa cadeira de rodas, para lhe perguntar se queria que a levássemos a passear; pediu que a levássemos ao andar debaixo, para poder assistir à Missa. Agora, além de todas as actividades que tenhamos que fazer, nunca podemos esquecer este serviço que nos pedem vários residentes”, afirma Mar Garrido, licenciada em História.

O Serviço de Ajuda ao Domicilio conseguiu outras metas também importantes na vida de algumas senhoras idosas. Manolita e Assunção, por exemplo, encontraram nos voluntários de DA um estímulo para resolver as suas dificuldades. Manolita abandonou a ideia de solicitar lugar numa residência do Estado –pedia-a há alguns anos-, ao ver que podia contar com a companhia dos voluntários durante algumas tardes e assim o explicou no dia em que celebrou com todos o seu aniversário. O caso de Assunção, que só se podia deslocar em cadeira de rodas, foi ainda de maior envergadura. Com a colaboração dos voluntários e a sua própria constância nos exercícios de mobilidade, recuperou a agilidade necessária para poder andar nas ruas que lhe trazem recordações, pequenas histórias ou grandes de Madrid.

Mais informações desta iniciativa em www.desarrolloyasistencia.org