Um protector celeste cuja missão é criar alegria

«Alegria por verem o Mundo e todas as realidades terrenas que Deus criou e entregou ao Homem como sinais visíveis de Deus Invisível, como membros ou células do Corpo de Cristo com Cristo-Cabeça destinados à glória eterna. Como não sentir alegria? Como recusar a experiência santificadora (instrumental, de certo) do trabalho, sobretudo quando é bem humana profissão?»

Henrique Barrilaro Ruas

Não cheguei a conhecê-lo. Durante muitos anos, e em variados sectores da vida, trabalhei, convivi, com quem o conheceu de perto. Quando recordo esse tempo, sobressai a alegria que era para esses meus amigos encontrar o Pe. José Maria Escrivá – que, a partir de certa altura, passara a usar o novo nome (místico) de Josemaría. O Escrivá de “Camino” (que li ainda em espanhol, e até, para mim, traduzi) iria ser o Monsenhor Escrivá de Balaguer, o chefe mundial de uma grande legião de cristãos baptizados no fogo e no Espírito Santo. Em todas as raças, em todas as classes sociais, em todas as categorias da cultura, cada vez mais homens e mulheres o reconheciam como instrumento privilegiado da acção santificadora de Deus.

Quando, passados alguns anos sobre a sua morte, o Papa João Paulo II o proclamou bem-aventurado, Monsenhor Escrivá voltou a ser o Padre Escrivá; o fundador, orientador, inspirador de uma grande prelatura pessoal, tornou-se intercessor entre Deus e toda a humanidade; começou essa misteriosa progressão canónica e litúrgica que culmina no título de Santo.

A lembrança da alegria irradiante vivida por todos os que eu sabia que o tinham visto, que, sobretudo, tinham falado com ele – confirma-se, para mim, nas circunstâncias de agora: o Beato Josemaría pertence ao número dos nossos protectores celestes cuja missão é criar alegria.

Alegria dos filhos de Deus por serem filhos de Deus; por, leigos embora na sua imensa maioria, poderem ajudar ao nascimento místico de mais, muitos mais, filhos de Deus. Alegria por verem o Mundo e todas as realidades terrenas que Deus criou e entregou ao Homem como sinais visíveis de Deus Invisível, como membros ou células do Corpo de Cristo com Cristo-Cabeça destinados à glória eterna. Como não sentir alegria? Como imaginar que o mundo que Deus criou é maldição? Como recusar a experiência santificadora (instrumental, de certo) do trabalho, sobretudo quando é bem humana profissão? Como negar a legitimidade de amar essas realidades que o Coração de Deus amou a ponto de as arrancar ao Nada?

Tinham de certo razão os que pela vida fora fui conhecendo e pertenciam à grande escola do Padre Escrivá. E, agora, que o Beato Josemaría está “liberto do Opus Dei”, agradeçamos ao Opus Dei ter contribuído para estabelecer na Igreja Viva esta fonte perene de seriedade, de dignidade, de alegria. Porque é cada vez mais visível que só vivendo a vida a sério se pode viver alegremente.

Rezemos, com a Igreja Universal: “Bem-aventurado Josemaría; rogai por nós!”

Henrique Barrilaro Ruas

Henrique Barrilaro Ruas (Figueira da Foz, 2 de Março de 1921) . Professor, historiador, ensaísta e Político. Formou-se em História e Filosofia pela Universidade de Coimbra (1945) tendo frequentado em Paris, com bolsa do Estado Francês (1947-49), a École des Chartes e o Institut Catholique. Foi Presidente do Centro Académico de Democracia Cristã (Coimbra, 1942-43) e sócio-fundador do Centro Nacional de Cultura (Lisboa, 1945) de que foi director em 1955. A sua última obra publicada é a edição comentada e anotada de “Os Lusíadas” de Luís de Camões, 2002, 708 págs.