Sempre estudei e investiguei sobre espiritualidade, mas não tinha nenhuma crença específica. Acreditava em um pouco de tudo o que lia sobre religião ou sabedorias milenares, mas não praticava nenhuma nem rezava. Eu não tinha fé.
Em certo momento, durante essas pesquisas, passou a crescer em mim uma vontade de fazer algum tipo de retiro espiritual, só não fazia ideia sobre de que tipo seria. Um dia, na internet, vi um post sobre um “retiro de silêncio” e cliquei para ver sobre o que era. Na altura, naquela correria do dia, achei até que poderia ter relação com meditações de ioga ou algo nessa linha.
No perfil a que o link dirigia, perguntaram-me onde morava e indicaram-me o “Centro Cultural da Lagoa”. Entrei em contacto, ainda sem saber ao certo o que era, e combinei ir num sábado de manhã para conhecer a casa, participar do "Recolhimento"*, que me informaram ser uma meditação/palestra, e saber informações sobre os próximos retiros.
Dois sábados depois, consegui programar-me para a visita à casa. Chegando lá, a primeira impressão que tive foi a de que era um lugar bonito e acolhedor. Uma rapariga muito cuidadosa, Ana Paula, levou-me para um lugar privilegiado para participar da meditação. Fiquei feliz, pois poderia ver de perto o palestrante, que logo percebi que era um sacerdote.
O sacerdote, que eu saberia depois ser o Padre Vicente, falava sobre “sermos uma injeção de alegria na vida das pessoas à nossa volta”. Nunca me esqueço dessas palavras. Tudo que ele dizia ali na meditação daquele Recolhimento fazia todo o sentido para mim, eu procurava aquelas palavras há muito tempo. A maneira simples como falava sobre um quotidiano preenchido de sentido, de amor e serviço ao próximo, tocou-me profundamente. Era como se eu começasse ali a divisar a realidade de forma mais clara, como ela é na verdade.
Enquanto o Padre Vicente falava, olhei para o altar, mais especificamente para o que depois descobri ser o Santíssimo, e duas frases apoderaram-se dos meus pensamentos: “Jesus é Deus” e “Esta é a Igreja d’Ele”. Foi um curto momento, mas mudou tudo. Até esse momento eu não sabia se Deus existia, nem que Ele era de facto uma pessoa, Jesus, e muito menos que Ele havia deixado uma Igreja. E eu não tive dúvidas, pois não foi algo que eu li ou ouvi, foi como uma revelação, então tive a certeza!
A partir desse dia, tive vontade de ir à Missa diariamente e de rezar ao acordar e antes de dormir, sem ainda saber exatamente que isso era de facto uma prática comum da rotina espiritual. Depois fui ao retiro de silêncio e pude entender e organizar ainda melhor um dia a dia de oração e relação com Deus.
Lembro-me de que o meu marido, Joaquim, ficou até um pouco assustado no início, achando-me meio louca, porque literalmente, do dia para a noite, viu alguém que nem sequer rezava antes de dormir, aparecer tão repentinamente cheia de fé e passar a ter toda essa rotina de Missa diária, orações, terço…
Rezei muito pelo Joaquim, recebendo na direção espiritual de D. António Augusto a orientação de pedir a Deus que meu marido crescesse na sua fé e fôssemos cada dia mais unidos nesse caminho. “Às vezes, em vez de falar de Deus a uma pessoa, fale a Deus dessa pessoa”, disse D. António. Logo meu marido também começou a participar dos meios de formação da Obra, a ter direção espiritual e 4 meses depois, ele teve também a sua conversão.
Desde o primeiro dia, no dia da meditação na Casa da Lagoa, entendi que não poderia comungar nem confessar-me porque eu e Joaquim não éramos casados pela Igreja. Passado um tempo e resolvida uma série de obstáculos, pudemos receber o sacramento do matrimónio. A família cresceu e a nossa filha Lis, de seis anos, teve um irmãozinho chamado Guido.
Hoje eu consigo ver que Deus me chamava há muito tempo, mas foi só naquele momento, na Casa da Lagoa, enquanto ouvia o Padre Vicente falar, que finalmente escutei a chamada e graças a Ele, atendi.
* Recolhimento é a palavra que se usa no Brasil para o que se designa em Portugal por recoleção.

