«Quando um amigo me convidou para ir à primeira reunião do Opus Dei, estava longe de imaginar o impacto que teria na minha vida.
Do Opus Dei tinha ouvido falar pouco; vagamente; e frequentemente mal. Perante a insistência acedi. Muito por delicadeza. Um pouco por curiosidade. Nada por interesse.
O meu objectivo era passar um serão repousado, desapercebidamente. Cheguei cedo a casa do meu amigo, instalei-me num sítio discreto e comecei a implementar o plano. Preparei-me para (o que eu julgava ser) uma experiência a não repetir. Não podia estar mais enganado.
A primeira surpresa foi dada pelo Afonso (Braga da Cruz) quando nos olhou serenamente, sorriu e disse: "São dez da noite. Hora de começarmos. Esperemos dois minutos pelos atrasados..."
Habituado a pessoas com problemas com o relógio, que não respeitam nem o seu, nem o tempo dos outros, tempo, esse grande recurso escasso na vida, não acreditei e voltei ao plano inicial Estava novamente errado.
... Às dez e dois minutos (!), estava já eu de pé, após o Afonso se ter levantado e ter dito: "Oremos".
Esta foi a primeira das surpresas que o Opus Dei trouxe à minha vida. Gente para quem fazer bem as suas tarefas e cumprir cabalmente os seus deveres, é uma parte integrante da sua relação com Deus. O trabalho é central, já que nos permite, na nossa infinita pequenez contribuirmos para a criação divina.
Depois, como a missa se faz todos os dias e a todas as horas, é necessário periodicamente parar, meditar, decidir. E é aí que entram aquilo que designo por reuniões de “planeamento estratégico": os círculos de cooperadores e amigos.
Funcionam como um bálsamo no turbilhão da vida. Primeiro, a meditação sobre uma passagem do Evangelho. Depois, a reflexão sobre um entre vários temas: as virtudes; as encíclicas; os trechos da doutrina. No fim, o exame de consciência. De perguntas sempre repetidas e de respostas sempre fracassadas: Tenho perdido tempo? Organizo o meu trabalho de modo a não prejudicar a minha dedicação à família? Sei ceder gostosamente nas minhas preferências de modo a contribuir para um bom ambiente familiar? Preocupo-me com a minha formação profissional e o meu trabalho, para melhor servir os homens e dar maior glória a Deus?
Mas mais que tudo, o Opus Dei deu-me a conhecer um grande amigo. Que desde o início nunca mais me abandonou. Que me acompanha sempre, sem se intrometer. Com quem comunico, sem falar. Que escuto, sem ouvir. A quem pergunto frequentemente: "O que farias no meu lugar?"
Verdade que nem sempre concordo com ele: "Não pode ser.. mas então... achas que... ? Vê lá... ", mas acaba sempre por ter razão. E por me corrigir, suave, fraternalmente.
Desde que o conheci, nunca mais me senti só. Nos momentos chave, está sempre presente. E mesmo quando o desiludo, ele não me falha. Compreende... e compreende-me. Sempre. O nome desse amigo? Chama-se Josemaría... Escrivá.»
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Jorge A. Vasconcellos e Sá é Professor Catedrático da Universidade Técnica de Lisboa, Phd Columbia University, titular da Cátedra Jean Monnet.