Trabalhos habituais e como santificá-los: Música

Stefania, casada com Michele e mãe de dois filhos, é pianista. Divide o seu tempo entre o ensino da música e os concertos. Neste artigo, fala sobre como a música a ajuda a rezar.

«Quando há crianças que são talentosas, mas não se aplicam –começa Stefania, pianista concertista e professora de música com licenciatura em piano, órgão e educação musical–, torno-me intratável, mordo as mãos, porque estão a desperdiçar os seus dons. Sempre fui uma mulher impulsiva, por isso nestes casos peço ajuda ao Senhor para me fazer compreender que não posso, de facto, fazer o que o estudante não quer fazer». A paixão de Stefania pela música vem de longe, da sua infância.

PEÇO AJUDA AO SENHOR, PARA ME FAZER COMPREENDER QUE NÃO POSSO DE FACTO FAZER O QUE O ESTUDANTE NÃO QUER FAZER

«Tínhamos um piano em casa –explica Stefania– e desde pequena fiquei fascinada com o instrumento. A minha mãe fez os meus irmãos, ambos mais velhos que eu, estudar piano, mas eles não continuaram. Quando chegou a minha vez de aprender, nunca parei. Comecei a dialogar com a música, fiquei apaixonada pela música clássica, pedia aos meus pais que me comprassem os quarenta e cinco discos dos maiores compositores».

Hoje, Stefania ensina numa escola secundária de música em Messina, onde vive desde criança, e supervisiona pessoalmente dezenas de estudantes em diferentes instrumentos: «Para mim, dar tudo o que aprendi às crianças é muito gratificante. Tento sempre dar-lhes algo para além da técnica: explico que tocar é comunicar. Na verdade, quando conheci o meu marido Michele, músico e maestro, numa festa, senti-me atraída pelo que ele dizia através da música que vinha do piano que ele tocava, mesmo antes de o ver».

TENTO SEMPRE DAR AOS MEUS ALUNOS ALGO PARA ALÉM DA TÉCNICA: EXPLICO QUE TOCAR É COMUNICAR

Como dividir o seu tempo entre o ensino, preparação de concertos e família? «Todas as manhãs –explica Stefania–, dedico algumas horas ao estudo. Hoje os nossos filhos são crescidos, têm 25 e 26 anos de idade. Mas antigamente era muito difícil, porque na música sempre se pode melhorar, como na vida interior: a formação nunca acaba. Os concertos são geralmente à noite, e por vezes podem passar meses entre um e outro: mas para recuperar física e emocionalmente do concerto, levo mesmo alguns dias. Durante o concerto, mas também quando estou a ensaiar, dialogo com o Senhor: sorrio, rezo, choro, enquanto falo com Ele através das notas».

«Devo a minha fé aos meus pais –continua Stefania– e em particular a uma tia minha muito devota. Mas com o tempo deixei o Senhor um pouco de lado, até que me senti muito inquieta: estava à procura de algo mais, faltava-me algo. Sempre fui uma mulher muito impulsiva, e chegou uma altura em que me senti zangada com o mundo, com toda a gente. Mesmo quando atuava em concertos não estava contente: procurava a beleza, mas não conseguia encontrá-la. Estava a faltar-me algo de um ponto de vista espiritual. Através de amigos aqui em Messina, aproximei-me do Opus Dei. Deus usou o Opus Dei para que eu O encontrasse: senti-me em casa. Com a formação cristã que comecei a receber, os meus pensamentos finalmente tomaram forma e a minha inquietação encontrou respostas».

MESMO QUANDO ATUAVA EM CONCERTOS NÃO ESTAVA FELIZ: PROCURAVA A BELEZA, MAS NÃO A CONSEGUIA ENCONTRAR

«A grande coisa que descobri –conclui Stefania– é que quando toco ou quando ensino, faço-o com o Senhor. Também já deixei de ajustar contas com as pessoas: antes costumava pensar na utilidade que poderia haver numa amizade ou num conhecido. Mas agora sei que a amizade é essencial para me aproximar de Deus e para aproximar os outros de Deus. E comecei também a pedir ajuda aos outros, sem me sentir demasiado orgulhosa. No fundo, todo o conceito de formação cristã no Opus Dei é um pedido contínuo da ajuda dos outros, somos uma família espiritual onde nos ajudamos uns aos outros espiritualmente todos os dias».