Trabalhar a confiança (IX): E se eu quiser uma viagem de finalistas diferente?

Quando os filhos se aproximam do final da etapa escolar, começam as interrogações acerca da viagem de fim de curso. Este vídeo procura refletir sobre a oportunidade de diálogo que se pode criar com os adolescentes tendo como motivo estas viagens. Vídeo de 7 minutos com legendas em português.

Para saber como ativar legendas em português, clique aqui.

Quando os filhos se aproximam do final da etapa escolar, começam as interrogações acerca da viagem de fim de curso. Este vídeo procura refletir sobre a oportunidade de diálogo que se pode criar com os adolescentes tendo como motivo estas viagens.

Chega o último ano do secundário e cresce a expetativa dos filhos para celebrar o fecho desta etapa com uma viagem com os amigos. Praia, montanha, festa, desporto, são as possibilidades que se costumam apresentar na hora de passar uns dias com os colegas de quase 12 anos e de viver uma experiência, talvez a última partilhada com todos, que ficará para sempre na memória do grupo.

Para as famílias, estes momentos costumam ser cheios de entusiasmo e alegria, mas também de dúvidas. Que acontece quando o projeto de viagem que o grupo de amigos dos filhos se propõe realizar não coincide com os valores familiares? Enfrentar esta questão é um desafio, e pode ser uma boa oportunidade para os pais dialogarem com os filhos.

Propomos algumas perguntas que podem ajudar a aproveitar o vídeo, quando o virem com casais amigos, com pais e mães da escola ou na paróquia:

Perguntas para o diálogo:

  • Que posso fazer para entender como pensam os meus filhos? Que modelo de vida têm os meus filhos? E os seus amigos? Tenho uma atitude de abertura perante eles? Procuro que a forma como exponho as minhas ideias nas nossas conversas ajude os meus filhos a abrirem-se comigo? Tenho consciência de que posso ferir os meus filhos com a minha falta de confiança? Aceito e elogio as suas propostas positivas? Questiono-os sobre os motivos que justificam as suas propostas?
  • Compreendo e partilho o entusiasmo dos meus filhos com a sua viagem de fim de curso, ou considero-o como algo sem importância? Conhecemos a realidade da viagem que o grupo da escola propõe? Está de acordo com os valores que queremos ensinar aos nossos filhos?
  • Envolvemo-nos como casal na organização da viagem? Perante uma proposta que não nos consegue convencer, propomos outra opção? Preocupa-nos a pressão social de não aceitar uma determinada viagem? Sabemos transmitir aos nossos filhos, de um modo simpático, quais são os limites económicos que podemos aceitar? Procuramos, juntamente com os filhos, procurar outra alternativa?

Propostas para a ação

Antes de falar com um filho sobre estas viagens, é muito positivo que os pais estejam de acordo, sejam razoáveis quanto aos motivos e coerentes quanto à posição que procuram transmitir.

Conhecer as expetativas dos filhos; sobretudo, falando com eles. Facilitar-lhes a oportunidade de falarem, ajudá-los a refletir sobre as suas próprias ideias, e a que as confrontem com realismo com a sua própria situação, e com a da família.

É importante falar do entusiasmo do fim da etapa escolar e compartilhá-lo com eles. Também dos riscos, se os houver, da viagem - abuso do álcool, drogas, sexo - mas fazê-lo sempre dentro de uma posição de diálogo. Tentar não se centrar demais em abordagens imperativas nem em exemplos de situações extremas.

Envolver-se na organização da viagem. Propor ideias de viagens que sejam divertidas para eles. É necessário conhecer o ambiente que rodeia os filhos e a realidade da viagem proposta pela turma. Tomar decisões em conjunto com os filhos, deixando de lado a pressão social.

Meditar com a Sagrada Escritura e com o Catecismo da Igreja Católica

  • A formação da consciência é tarefa para toda a vida. Desde os primeiros anos, a criança desperta para o conhecimento e para a prática da lei interior reconhecida pela consciência moral. Uma educação prudente ensina a virtude: preserva ou cura do medo, do egoísmo e do orgulho, dos ressentimentos da culpabilidade e dos movimentos de complacência, nascidos da fraqueza e das faltas humanas. A formação da consciência garante a liberdade e gera a paz do coração. (Catecismo da Igreja Católica, 1784)
  • Os pais são os primeiros responsáveis pela educação dos filhos. Testemunham esta responsabilidade, primeiro pela criação dum lar onde são regra a ternura, o perdão, o respeito, a fidelidade e o serviço desinteressado. O lar é um lugar apropriado para a educação das virtudes, a qual requer a aprendizagem da abnegação, de sãos critérios, do autodomínio, condições da verdadeira liberdade. Os pais ensinarão os filhos a subordinar «as dimensões físicas e instintivas às dimensões interiores e espirituais» (CA). Os pais têm a grave responsabilidade de dar bons exemplos aos filhos. Sabendo reconhecer diante deles os próprios defeitos, serão mais capazes de os guiar e corrigir: «Aquele que ama o seu filho, castiga-o com frequência [...]. Aquele que dá ensinamentos ao seu filho será louvado» (Sir 30, 1-2). «E vós, pais, não irriteis os vossos filhos: pelo contrário, educai-os com disciplina e advertências inspiradas pelo Senhor» (Ef 6, 4). (Catecismo da Igreja Católica, 2223).
  • Incumbe àqueles que exercem cargos de autoridade garantir os valores que atraem a confiança dos membros do grupo e os incitam a colocar-se ao serviço dos seus semelhantes. A participação começa pela educação e pela cultura. «Pode-se legitimamente pensar que o futuro da humanidade está nas mãos daqueles que souberem dar às gerações de amanhã razões de viver e de esperar». (Catecismo da Igreja Católica, 1917).

Meditar com o Papa Francisco

Na época atual, em que reina a ansiedade e a pressa tecnológica, uma tarefa importantíssima das famílias é educar para a capacidade de esperar. Não se trata de proibir as crianças de (…), mas de encontrar a forma de gerar nelas a capacidade de diferenciarem as diversas lógicas e não aplicarem a velocidade digital a todas as áreas da vida. (Amoris laetitia, 275).

A adolescência não é uma patologia que devemos combater. Faz parte do crescimento normal e natural da vida das nossas crianças. Onde há vida há movimento, onde há movimento há mudança, busca, incerteza, esperança, alegria e também angústia e desolação. Enquadremos bem os nossos discernimentos no âmbito de processos vitais previsíveis. Existem limites que precisamos de conhecer para não nos alarmarmos, para não sermos negligentes e sabermos acompanhar e ajudar a crescer. Não é tudo indiferente mas nem tudo tem a mesma importância. Portanto, é preciso discernir que batalhas devem ser travadas ou não. Neste caso serve muito ouvir casais com experiência, que embora não tenham uma receita a dar, ajudar-nos-ão com o seu testemunho a conhecer este ou aquele limite ou variedade de comportamentos. (Basílica de São João de Latrão, 19 de Junho de 2017).

Proponhamos-lhes metas amplas, grandes desafios e ajudemo-los a realizá-las, a alcançar as suas metas. Não os deixemos sós. Por conseguinte, desafiemo-los mais do que eles nos desafiam. Não deixemos que recebam a “vertigem” de outros, os quais só põem em risco as suas vidas: demos-lha nós! Mas a vertigem certa, que satisfaça este desejo de se mover, de ir em frente. (Basílica de São João de Latrão, 19 de Junho de 2017).

Meditar com S. Josemaria

“É necessário que os pais arranjem tempo para estar com os filhos e falar com eles. Os filhos são o que há de mais importante; mais importante do que os negócios, do que o trabalho, do que o descanso. Nessas conversas, convém escutá-los com atenção, esforçar-se por compreendê-los, saber reconhecer a parte de verdade - ou a verdade inteira - que possa haver em algumas das suas rebeldias. E, ao mesmo tempo, apoiar as suas aspirações, ensiná-los a ponderar as coisas e a raciocinar; não lhes impor uma conduta, mas mostrar-lhes os motivos, sobrenaturais e humanos, que a aconselham. Numa palavra, respeitar a sua liberdade, já que não há verdadeira educação sem responsabilidade pessoal, nem responsabilidade sem liberdade.” ( Cristo que passa, nº. 27).

"Deveis administrar a liberdade dos filhos, de acordo com a sua idade. Não podem tratar todos do mesmo modo. A justiça exige que tratem de maneira diferente os filhos diferentes, mas de modo que não tenham ciúmes. São diferentes pela idade, pelo temperamento, pela saúde, pelas suas condições intelectuais… Assim, com a vossa ajuda, conseguem ser iguais e amar-se muito, portar-se bem, ter as virtudes de seus pais, e ser bons filhos de Santa Maria". Encontro em Guadalaviar (Valencia), 17 de novembro de 1972.

"Compreende-os, desculpa-os: porventura tu e eu não fizemos o mesmo com Nosso Senhor, e voltámos a fazer? Que percebam que és o melhor amigo, que ninguém os ama tanto como o seu pai e a sua mãe. Verás como ficam orgulhosos". Encontro em El Prado (Madrid), 18 de novembro de 1972.