Textos de Francisco e Bento XVI sobre o sofrimento

Recordamos três textos que nos ajudam a entender o sofrimento e a dor alheios e a perceber, como dizia S. Josemaria, que a doença é um tesouro para a Igreja porque cada pessoa doente participa na Paixão de Nosso Senhor na Cruz.

“Supera a sensação de inutilidade do sofrimento” – Bento XVI aos doentes de Fátima

Meu irmão e minha irmã, tens para Deus «um valor tão grande que Ele mesmo Se fez homem para poder padecer com o homem, de modo muito real, na carne e no sangue, como nos é demonstrado na narração da Paixão de Jesus.

A partir de então entrou, em todo o sofrimento humano, Alguém que partilha o sofrimento e a sua suportação; a partir de então propaga-se em todo o sofrimento a consolação do amor solidário de Deus, surgindo assim a estrela da esperança» (Bento XVI, Enc. Spe salvi, 39).

Com esta esperança no coração, poderás sair das areias movediças da doença e da morte e pôr-te de pé sobre a rocha firme do amor divino.

Por outras palavras: poderás superar a sensação de inutilidade do sofrimento que desgasta a pessoa dentro de si mesma e a faz sentir-se um peso para os outros, quando na verdade o sofrimento, vivido com Jesus, serve para a salvação dos irmãos.

Como é possível?

As fontes da força divina jorram precisamente no meio da fragilidade humana.

É o paradoxo do Evangelho.

Por isso o divino Mestre, mais do que demorar-Se a explicar as razões do sofrimento, preferiu chamar cada um a segui-Lo, dizendo:

«Toma a tua cruz e segue-Me»(cf. Mc 8, 34).Vem comigo.

Toma parte com o teu sofrimento nesta obra de salvação do mundo, que se realiza por meio do meu sofrimento, por meio da minha Cruz.

À medida que abraçares a tua cruz, unindo-te espiritualmente à minha Cruz, desvendar-se-á a teus olhos o sentido salvífico do sofrimento.

Encontrarás no sofrimento a paz interior e até mesmo a alegria espiritual.

Fonte: Saudação aos doentes, Santuário de Fátima, 13 de Maio de 2010


“Porquê a mim?” – o Papa Francisco aos doentes

A doença, sobretudo se grave, põe sempre em crise a existência humana e suscita interrogações que nos atingem em profundidade.

Por vezes, o primeiro momento pode ser de rebelião: Porque havia de acontecer precisamente a mim?

Podemos sentir-nos desesperados, pensar que tudo está perdido, que já nada tem sentido...

Nestas situações, a fé em Deus se, por um lado, é posta à prova, por outro, revela toda a sua força positiva; e não porque faça desaparecer a doença, a tribulação ou os interrogativos que daí derivam, mas porque nos dá uma chave para podermos descobrir o sentido mais profundo daquilo que estamos a viver; uma chave que nos ajuda a ver como a doença pode ser o caminho para chegar a uma proximidade mais estreita com Jesus, que caminha ao nosso lado, carregando a Cruz.

E esta chave é-nos entregue pela Mãe, Maria, perita deste caminho. (...)

...

Na solicitude de Maria, reflecte-se a ternura de Deus.

E a mesma ternura torna-se presente na vida de tantas pessoas que acompanham os doentes e sabem individuar as suas necessidades, mesmo as mais subtis, porque vêem com um olhar cheio de amor.

Quantas vezes uma mãe à cabeceira do filho doente, ou um filho que cuida do seu pai idoso, ou um neto que acompanha o avô ou a avó, depõe a sua súplica nas mãos de Nossa Senhora!

Para nossos familiares doentes, pedimos, em primeiro lugar, a saúde; o próprio Jesus manifestou a presença do Reino de Deus precisamente através das curas. «Ide contar a João o que vedes e ouvis: os cegos vêem e os coxos andam; os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam» (Mt 11, 4-5).

Mas o amor, animado pela fé, leva-nos a pedir, para eles, algo maior do que a saúde física: pedimos uma paz, uma serenidade da vida que parte do coração e que é dom de Deus, fruto do Espírito Santo que o Pai nunca nega a quantos Lho pedem com confiança. (...)

...

Podemos pedir a Jesus misericordioso, pela intercessão de Maria, Mãe d’Ele e nossa, que nos conceda a todos a mesma disponibilidade ao serviço dos necessitados e, concretamente, dos nossos irmãos e irmãs doentes.

Por vezes, este serviço pode ser cansativo, pesado, mas tenhamos a certeza de que o Senhor não deixará de transformar o nosso esforço humano em algo de divino.

Também nós podemos ser mãos, braços, corações que ajudam a Deus a realizar os seus prodígios, muitas vezes escondidos.

Também nós, sãos ou doentes, podemos oferecer as nossas canseiras e sofrimentos como aquela água que encheu as vasilhas nas bodas de Caná e foi transformada no vinho melhor.

Tanto com a ajuda discreta de quem sofre, como suportando a doença, carrega-se aos ombros a cruz de cada dia e segue-se o Mestre (cf. Lc 9, 23); e, embora o encontro com o sofrimento seja sempre um mistério, Jesus ajuda-nos a desvendar o seu sentido.

Fonte: Mensagem de Sua Santidade Francisco para a 24ª Jornada Mundial Do Doente
Terra Santa - Nazaré, 11 de Fevereiro de 2016


“Ele consola-vos mesmo às escondidas” –Papa Francisco em Fátima em 2017 aos doentes

Queridos irmãos e irmãs doentes!

O Senhor sempre nos precede: quando passamos através dalguma cruz, Ele já passou antes. Na sua Paixão, tomou sobre Si todos os nossos sofrimentos.

Jesus sabe o que significa o sofrimento, compreende-nos, consola-nos e dá-nos força, como fez a São Francisco Marto e a Santa Jacinta, aos Santos de todos os tempos e lugares. Penso no apóstolo Pedro, acorrentado na prisão de Jerusalém, enquanto toda a Igreja rezava por ele. E o Senhor consolou Pedro.

Isto é o mistério da Igreja: a Igreja pede ao Senhor para consolar os atribulados como vós e Ele consola-vos, mesmo às escondidas; consola-vos na intimidade do coração e consola com a fortaleza.

Amados peregrinos, diante dos nossos olhos, temos Jesus escondido mas presente na Eucaristia, como temos Jesus escondido mas presente nas chagas dos nossos irmãos e irmãs doentes e atribulados.

No altar, adoramos a Carne de Jesus; neles encontramos as chagas de Jesus.

O cristão adora Jesus, o cristão procura Jesus, o cristão sabe reconhecer as chagas de Jesus.

Hoje a Virgem Maria repete a todos nós a pergunta que fez, há cem anos, aos Pastorinhos: «Quereis oferecer-vos a Deus?» A resposta – «Sim, queremos!» – dá-nos a possibilidade de compreender e imitar as suas vidas. Viveram-nas, com tudo o que elas tiveram de alegria e de sofrimento, em atitude de oferta ao Senhor.

Queridos doentes, vivei a vossa vida como um dom e dizei a Nossa Senhora, como os Pastorinhos, que vos quereis oferecer a Deus de todo o coração.

Não vos considereis apenas recetores de solidariedade caritativa, mas senti-vos inseridos a pleno título na vida e missão da Igreja.

A vossa presença silenciosa mas mais eloquente do que muitas palavras, a vossa oração, a oferta diária dos vossos sofrimentos em união com os de Jesus crucificado pela salvação do mundo, a aceitação paciente e até feliz da vossa condição são um recurso espiritual, um património para cada comunidade cristã.

Não tenhais vergonha de ser um tesouro precioso da Igreja.

Jesus vai passar junto de vós no Santíssimo Sacramento para vos mostrar a sua proximidade e o seu amor. Confiai-Lhe as vossas dores, os vossos sofrimentos, o vosso cansaço. Contai com a oração da Igreja que de todo o lado se eleva ao Céu por vós e convosco. Deus é Pai e nunca vos esquecerá.

Fonte: Saudação do Santo Padre aos doentes no final Santa Missa
Fátima, 13 de maio de 2017