Sumário:
- 1. A dimensão sacrificial da Santa Missa
- 2. A Eucaristia, sacrifício de Cristo e da Igreja
- 3. Fins e frutos da Missa
- 4. A Eucaristia, Banquete Pascal da Igreja
- 5. Disposições para receber a Sagrada Comunhão
- 6. Efeitos da Sagrada Comunhão
- 7. O culto da Eucaristia fora da Santa Missa
- Bibliografia e Leituras
1. A dimensão sacrificial da Santa Missa
A Santa Missa é sacrifício num sentido próprio e singular, “novo” relativamente aos sacrifícios das religiões naturais e aos sacrifícios do Antigo Testamento: é sacrifício porque a Santa Missa re-presenta (faz presente), no hoje da celebração litúrgica da Igreja, o único sacrifício da nossa redenção, porque é o seu memorial e aplica o seu fruto[1].
A Igreja, de cada vez que celebra a Eucaristia, é chamada a acolher o dom que Cristo lhe oferece e, portanto, a participar no sacrifício do seu Senhor, oferecendo-se com Ele ao Pai pela salvação do mundo. Pode portanto afirmar-se que a Santa Missa é sacrifício de Cristo e da Igreja.
Vejamos mais detidamente estes dois aspetos do Mistério Eucarístico.
Como acabamos de dizer, a Santa Missa é verdadeiro e próprio sacrifício pela sua relação direta – de identidade sacramental – com o sacrifício único, perfeito e definitivo da Cruz[2]. Esta relação foi instituída por Jesus Cristo na Última Ceia, quando entregou aos Apóstolos, sob as espécies do pão e do vinho, o seu Corpo oferecido em sacrifício e o seu Sangue derramado em remissão dos pecados, antecipando no rito memorial o que aconteceu historicamente, pouco tempo depois, no Gólgota. Desde então, a Igreja, sob guia e virtude do Espírito Santo, não cessa de cumprir o mandato de reiteração que Jesus Cristo deu aos seus discípulos: «Fazei isto em memória de mim (como memorial meu) (Lc 22, 19; 1Co 11, 24-25). Deste modo “anuncia” (torna presente com a palavra e o sacramento) “a morte do Senhor” (quer dizer, o seu sacrifício: cf. Ef 5, 2; Heb 9, 26), “até que Ele venha” (portanto, a sua ressurreição e ascensão gloriosa) (cf. 1Co 11, 26).
Este anúncio, esta proclamação sacramental do Mistério Pascal do Senhor é de uma particular eficácia, pois não só se representa in signo ouin figura, o sacrifício redentor de Cristo, como também se faz verdadeiramente presente: torna-se presente a sua Pessoa e o acontecimento salvífico comemorado. O Catecismo da Igreja Católica exprime-o do seguinte modo: «A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo, a atualização e o oferecimento sacramental do seu único sacrifício, na liturgia da Igreja que é o seu Corpo»[3].
Portanto, quando a Igreja celebra a Eucaristia, pela consagração do pão e do vinho no Corpo e no Sangue de Cristo, torna-se presente a mesma Vítima do Gólgota, agora gloriosa; o mesmo Sacerdote, Jesus Cristo; o mesmo ato de oferta sacrificial (a oferta primordial da Cruz) inseparavelmente unido à presença sacramental de Cristo; oferta sempre atual em Cristo ressuscitado e glorioso[4]. Só muda a manifestação externa desta entrega: no Calvário, mediante a paixão e morte de Cruz; na Missa, através do memorial – sacramento: a dupla consagração do pão e do vinho no contexto da Oração Eucarística (imagem sacramental da imolação na Cruz).
2. A Eucaristia, sacrifício de Cristo e da Igreja
A Santa Missa é sacrifício de Cristo e da Igreja, porque de cada vez que se celebra o Mistério Eucarístico, a Igreja participa no sacrifício do seu Senhor, entrando em comunhão com Ele – com a sua oferta sacrificial ao Pai – e com os bens da redenção que Ele nos obteve. Toda a Igreja oferece e é oferecida em Cristo ao Pai pelo Espírito Santo. Assim o afirma a tradição viva da Igreja, tanto nos textos da liturgia, como nos ensinamentos dos Padres e do Magistério[5]. O fundamento desta doutrina encontra-se no princípio de união e cooperação entre Cristo e os membros do seu Corpo, claramente exposto pelo Concílio Vaticano II: «Nesta obra tão grande, pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens santificados, Cristo associa sempre consigo a sua amadíssima Esposa, a Igreja»[6].
A participação da Igreja – o povo de Deus hierarquicamente estruturado – na oferta do sacrifício eucarístico está legitimada pelo mandato de Jesus: «Fazei isto em memória de mim (como memorial meu)», e reflete-se na fórmula litúrgica «memores... offerimus... (tibi Pater)... gratias agentes... hoc sacrificium», frequentemente utilizada nas Orações Eucarísticas da Igreja Antiga[7], e igualmente presente nas atuais Orações Eucarísticas[8].
Como testemunham os textos da liturgia eucarística, os fiéis não são meros espetadores de um ato de culto realizado pelo sacerdote celebrante; todos eles podem e devem participar na oferta do sacrifício eucarístico, porque, em virtude do batismo, foram incorporados a Cristo e fazem parte da «estirpe eleita, do sacerdócio real, da nação santa, do Povo que Deus adquiriu» (1Pt 2, 9); quer dizer, do novo Povo de Deus em Cristo, que Ele mesmo continua a reunir à sua volta, para que de uma ponta à outra da terra Lhe ofereça um sacrifício perfeito (cf. Mal 1, 10-11). Oferecem não só o culto espiritual do sacrifício das próprias obras e de toda a sua existência, como também – em Cristo e com Cristo – a Vítima pura, santa e imaculada. Tudo isto é abrangido pelo exercício do sacerdócio comum dos fiéis na Eucaristia.
A Igreja, em união com Cristo, não só oferece o sacrifício eucarístico, como também é oferecida n’Ele, pois como Corpo e Esposa está inseparavelmente unida à sua Cabeça e ao seu Esposo.
A própria liturgia eucarística não deixa de exprimir a participação da Igreja, sob o influxo do Espírito Santo, no sacrifício de Cristo: «Olhai benignamente para a oblação da vossa igreja: vede nela a vítima que nos reconciliou convosco, e fazei que, alimentando-nos do Corpo e Sangue do vosso Filho, cheios do seu Espírito Santo, sejamos em Cristo um só corpo e um só espírito. O Espírito Santo faça de nós uma oferenda permanente...»[9]. De modo semelhante, pede-se na Oração Eucarística IV: «Olhai, Senhor, para esta oblação, que preparastes para a vossa Igreja; e concedei, por vossa bondade, a quantos vamos participar do mesmo pão e do mesmo cálice, que, reunidos pelo Espírito Santo num só corpo, sejamos em Cristo uma oferenda viva para louvor da vossa glória»
A participação dos fiéis consiste, antes de mais, em unir-se interiormente ao sacrifício de Cristo, tornado presente sobre o altar graças ao ministério do sacerdote celebrante.
A doutrina que expusemos tem uma importância fundamental para a vida cristã. Todos os fiéis estão chamados a participar na Santa Missa, exercendo o seu sacerdócio real, quer dizer, com a intenção de oferecer a própria vida sem mancha de pecado ao Pai, com Cristo, Vítima imaculada, em sacrifício espiritual – existencial, restituindo-lhe com amor filial e em ação de graças tudo o que d'Ele receberam.
Os fiéis devem procurar que a Santa Missa seja realmente centro e raiz da sua vida interior[10], orientando para ela todo o seu dia, o trabalho e todas as suas ações. Esta é uma manifestação fundamental da «alma sacerdotal».
3. Fins e frutos da Santa Missa
A Santa Missa, sendo re-presentação sacramental do sacrifício de Cristo, tem os mesmos fins que o sacrifício da Cruz[11]. Estes fins são: o fim latrêutico (louvar e adorar a Deus Pai, pelo Filho, no Espírito Santo); o fim eucarístico (dar graças a Deus pela criação e pela redenção); o propiciatório (desagravar a Deus pelos nossos pecados); e impetratório (pedir a Deus os seus dons e as suas graças). Isto exprime-se nas diversas orações que fazem parte da celebração litúrgica da Eucaristia, especialmente no Glória, no Credo, nas diversas partes da Anáfora ou Oração Eucarística (Prefácio, Sanctus, Epiclese, Anamnese, Intercessões, Doxologia final), no Pai Nosso, e nas orações próprias de cada Missa: Oração Coleta, Oração sobre as oferendas, Oração depois da Comunhão.
Por frutos da Missa, entendem-se os efeitos que a virtude salvífica da Cruz, tornada presente no sacrifício eucarístico, gera nos homens quando a acolhem livremente com fé, esperança e amor ao Redentor. Estes frutos englobam essencialmente um crescimento na graça santificante e uma conformidade existencial com Cristo mais intensa, de acordo com o modo específico que a Eucaristia nos oferece.
Estes frutos de santidade não se manifestam de forma idêntica em todos os que participam no sacrifício eucarístico; serão maiores ou menores de acordo com a inserção de cada um na celebração litúrgica e na medida da sua fé e devoção. Assim, participam, de modo diverso, dos frutos da Santa Missa: toda a Igreja; o sacerdote que celebra e os que, unidos com ele, estão presentes na celebração eucarística; os que, sem participar na Missa, se unem espiritualmente ao sacerdote que celebra; e aqueles por quem a Missa se aplica, que podem ser vivos ou defuntos[12].
Quando um sacerdote recebe uma oferta para que aplique os frutos da Missa por uma intenção, fica gravemente obrigado a fazê-lo[13].
4. A Eucaristia, Banquete Pascal da Igreja
«A Eucaristia é o Banquete Pascal da Igreja porque Cristo, realizando sacramentalmente a sua Páscoa [a passagem deste mundo para o Pai através da sua paixão, morte, ressurreição e ascensão gloriosa[14]], entrega-nos o seu Corpo e o seu Sangue, oferecidos como comida e bebida, e une-nos com Ele e entre nós no seu sacrifício»[15].
«A Missa é, ao mesmo tempo e inseparavelmente, o memorial sacrificial em que se perpetua o sacrifício da cruz, e o banquete sagrado da comunhão no Corpo e Sangue do Senhor. Mas a celebração do sacrifício eucarístico está totalmente orientada para a união íntima dos fiéis com Cristo por meio da comunhão. Comungar é receber o próprio Cristo, que se oferece por nós»[16].
A Sagrada Comunhão, ordenada por Cristo («tomai e comei...bebei todos dele...»: Mt 26, 26-28; cf. Mc 14, 22-24; Lc 22, 14-20; 1Co 11, 23-26), insere-se na estrutura fundamental da celebração da Eucaristia. Só quando Cristo é recebido pelos fiéis como alimento de vida eterna alcança plenitude de sentido o seu fazer-se alimento para os homens, e se cumpre o memorial por Ele instituído[17]. Por isso a Igreja recomenda vivamente a comunhão sacramental a todos aqueles que participem na celebração eucarística e possuam as devidas disposições para receber dignamente o Santíssimo Sacramento[18].
Quando Jesus prometeu a Eucaristia, afirmou que esse alimento não só é útil, mas necessário: é uma condição de vida para os seus discípulos. «em verdade, em verdade vos digo que, se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida em vós» (Jo 6, 53).
Comer é uma necessidade para o homem. E, do mesmo modo que o alimento natural mantém o homem na vida e lhe dá forças para caminhar neste mundo, de modo semelhante a Eucaristia mantém no cristão a vida em Cristo, recebida no batismo, e lhe dá forças para ser fiel ao Senhor nesta terra, até voltar ao Pai do Céu. A Comunhão, portanto, não é um elemento que possa ser acrescentado arbitrariamente à vida cristã; não é necessária somente para alguns cristãos especialmente comprometidos na missão da Igreja, mas é uma necessidade vital para todos: só quem se alimenta da própria vida de Cristo pode viver em Cristo e difundir o seu Evangelho.
O desejo de receber a Sagrada Comunhão deveria estar sempre presente nos cristãos, do mesmo modo como deve ser permanente a vontade de alcançar o fim último da nossa vida. Este desejo de receber a Comunhão, explícito ou pelo menos implícito, é necessário para alcançar a salvação.
Além disso, a receção de facto da Comunhão é necessária, com necessidade de preceito eclesiástico, para todos os que têm uso da razão: «A Igreja obriga os fiéis (...) a receber ao menos uma vez por ano, a Eucaristia, se for possível em tempo pascal, preparados pelo sacramento da Reconciliação»[19]. Este preceito eclesiástico é um mínimo, que nem sempre será suficiente para desenvolver uma autêntica vida cristã. Por isso, a própria Igreja «recomenda vivamente aos fiéis receber a santa Eucaristia aos domingos e dias de festa, ou ainda com mais frequência, inclusive todos os dias»[20].
O ministro ordinário da Santa Comunhão é o bispo, o presbítero e o diácono[21]. Ministro extraordinário é o acólito[22]. Podem ser ministros extraordinários da comunhão outros fiéis aos quais o Ordinário do lugar tenha dado a faculdade de distribuir a Eucaristia, quando se julgue necessário para a utilidade pastoral dos fiéis e não estejam presentes um sacerdote, um diácono ou um acólito disponíveis[23].
«Não é permitido que os fiéis tomem a hóstia consagrada nem o cálice sagrado “por si mesmos, nem muito menos que o passem entre si de mão em mão”»[24]. A propósito desta norma, é oportuno considerar que a Comunhão tem valor de sinal sagrado; este sinal deve manifestar que a Eucaristia é um dom de Deus ao homem; por isso, em condições normais, deverá distinguir-se, na distribuição da Eucaristia, entre o ministro que dispensa o Dom, oferecido pelo próprio Cristo, e o sujeito que o acolhe com gratidão, na fé e no amor.
5. Disposições para receber a Sagrada Comunhão
Para comungar dignamente, é necessário estar em graça de Deus. «Quem come o Pão e bebe o Cálice do Senhor indignamente – proclama S. Paulo –, será réu do Corpo e do Sangue do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo; e então coma o Pão e beba do Cálice; pois o que, sem discernir, come e bebe o Corpo do Senhor, come e bebe a sua própria condenação» (1Co 11, 27-29). Portanto, ninguém deve aproximar-se da Sagrada Eucaristia com consciência de pecado mortal, por muito contrito que lhe pareça estar, sem preceder a confissão sacramental[25].
Para comungar com fruto requer-se, além de estar na graça de Deus, um sério empenho por receber o Senhor com a maior devoção atual possível: preparação (remota e próxima); recolhimento; atos de amor e de reparação, de adoração, de humildade, de ação de graças, etc.
Disposições do corpo:
– A reverência interior ante a Sagrada Eucaristia deve refletir-se também nas disposições do corpo. A Igreja prescreve o jejum. Para os fiéis do rito latino, o jejum consiste em abster-se de todo o alimento ou bebida (exceto água ou medicamentos) uma hora antes de comungar[26]. Deve também procurar-se a limpeza do corpo, o modo de vestir adequado, os gestos de veneração que manifestam o respeito e o amor ao Senhor, presente no Santíssimo Sacramento, etc.[27].
– O modo tradicional de receber a Sagrada Comunhão no rito latino – fruto da fé, do amor e da piedade plurissecular da Igreja – é de joelhos e na boca. Os motivos que deram lugar a este piedoso e antiquíssimo costume, continuam a ser plenamente válidos. Também se pode comungar de pé e, em algumas dioceses do mundo, está permitido – nunca imposto – receber a comunhão na mão[28].
O preceito da comunhão sacramental obriga a partir do uso da razão. Convém preparar muito bem e não atrasar a Primeira Comunhão das crianças: «Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, porque deles é o reino dos Céus» (Mc 10, 14)[29].
Para poder receber a primeira comunhão, requer-se que a criança tenha conhecimento, de acordo com a sua capacidade, dos principais mistérios da fé e saiba distinguir o Pão eucarístico do pão comum. «Os pais em primeiro lugar e os que fazem as suas vezes, assim como também o pároco, têm obrigação de procurar que as crianças que chegaram ao uso da razão se preparem convenientemente e se alimentem quanto antes, após prévia confissão sacramental, com este alimento divino»[30].
6. Efeitos da Sagrada Comunhão
O que o alimento produz no corpo para o bem da vida física, é o que a Eucaristia produz na alma, de um modo infinitamente mais sublime, para bem da vida espiritual. Mas, enquanto que o alimento se converte na nossa substância corporal, ao receber a Sagrada Comunhão, somos nós que nos convertemos em Cristo: «Tu não me converterás em ti, como a comida na tua carne, mas tu é que te mudarás em Mim»[31]. Mediante a Eucaristia, a nova vida em Cristo, iniciada no crente com o batismo (cf. Rm 6, 3-4; Gal 3, 17-28), pode consolidar-se e desenvolver-se até alcançar a sua plenitude (cf. Ef 4, 13), permitindo ao cristão levar a cabo o ideal enunciado por S. Paulo: «Vivo, mas não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim» (Gal 2, 20)[32].
Portanto, a Eucaristia configura-nos com Cristo, faz-nos participantes do ser e da missão do Filho, identifica-nos com as suas intenções e sentimentos, dá-nos força para amar como Cristo nos pede (cf. Jo 13, 34-35), para acender em todos os homens e mulheres do nosso tempo o fogo do amor divino que Ele veio trazer à terra (cf. Lc 12, 49). Tudo isto deve manifestar-se efetivamente na nossa vida: «Se fomos renovados com a receção do Corpo do Senhor, devemos manifestá-lo com obras. Que as nossas palavras sejam verdadeiras, claras, oportunas; que saibam consolar e ajudar, que saibam sobretudo levar aos outros a luz de Deus. Que as nossas ações sejam coerentes, eficazes, acertadas: que tenham esse bonus odor Christi (2Co 2,15), o bom odor de Cristo, por recordarem o seu modo de se comportar e de viver»[33].
Deus, pela Sagrada Comunhão, acrescenta a graça e as virtudes, perdoa os pecados veniais e a pena temporal, preserva dos pecados mortais e concede perseverança no bem: numa palavra, estreita os laços de união com Ele[34]. Mas a Eucaristia não foi instituída para o perdão dos pecados mortais; isso é próprio do sacramento da Confissão[35].
A Eucaristia é causa de unidade de todos os fiéis cristãos no Senhor, isto é, a unidade da Igreja, corpo Místico de Cristo[36].
A Eucaristia é penhor ou garantia da glória futura, isto é, da ressurreição e da vida eterna e feliz junto de Deus, Uno e Trino, dos Anjos e de todos os santos[37].
7. O culto da Eucaristia fora da Santa Missa
A fé na presença real de Cristo na Eucaristia levou a Igreja a tributar culto de latria (quer dizer, de adoração), ao Santíssimo Sacramento, tanto durante a liturgia da Missa (por isso indicou que nos ajoelhemos ou nos inclinemos profundamente diante das espécies consagradas), como fora da sua celebração: conservando com o maior cuidado as hóstias consagradas no Sacrário (ou Tabernáculo), apresentando-as aos fiéis para que as venerem com solenidade, levando-as em procissão[38].
Conserva-se a Sagrada Eucaristia no Sacrário[39]:
– Principalmente para poder dar a Sagrada Comunhão aos doentes e a outros fiéis impossibilitados de participar na Santa Missa.
– Também, para que a Igreja possa dar culto de adoração a Deus Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento (de modo especial durante a Exposição da Santíssima Eucaristia, na Bênção com o Santíssimo; na Procissão com o Santíssimo Sacramento na solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, etc.).
– E para que os fiéis possam sempre adorar o Senhor Sacramentado com frequentes visitas. Neste sentido, afirma S. João Paulo II: «A Igreja e o mundo têm uma grande necessidade do culto eucarístico. Jesus espera-nos neste Sacramento do Amor. Não poupemos o nosso tempo para ir encontrá-Lo na adoração, na contemplação cheia de fé e pronta a reparar as grandes culpas e delitos do mundo. Não cesse nunca a nossa adoração»[40].
Há duas grandes festas (solenidades) litúrgicas em que se celebra de modo especial este Sagrado Mistério: a Quinta Feira Santa (em que se comemora a instituição da Eucaristia e do Sacramento da Ordem Sagrada) e a solenidade do Corpo e Sangue de Cristo (destinada especialmente à adoração e contemplação do Senhor na Eucaristia).
Bibliografia básica
– Catecismo da Igreja Católica, n. 1356-1405.
Leituras recomendadas
– S. João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia.
– Bento XVI, Sacramentum caritatis.
– Francisco, Catequeses sobre a Santa Missa (novembro de 2017 a abril de 2018).
– S. Josemaria, Homilia “A Eucaristia, mistério de fé e de amor” em Cristo que passa, n. 83-94; Homilia “Na festa do Corpo de Deus”, ibid., n. 150-161.
– Ángel Garcia Ibañez, L'Eucaristia, dono e mistero. Trattato storico-dogmatico sul mistero eucaristico, Edus, Roma 2006 (trad. espanhola: La Eucaristia, don y misterio. Tratado historico-teológico sobre el misterio eucarístico, Eunsa, Pamplona 2009).
[1] cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1362-1367.
[2] O Catecismo da Igreja Católica exprime-o assim: «O sacrifício de Cristo e o sacrifício da Eucaristia são, pois, um único sacrifício» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1367).
[3] Catecismo da Igreja Católica, n. 1362.
[4] cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1085.
[5] cf. Catecismo da Igreja Católica, n.1368-1370.
[6] Sacrosanctum Concilium, n. 7.
[7] cf. Oração Eucarística da Tradição Apostólica de Sto. Hipólito; Anáfora de Addai y Mari; Anáfora de S. Marcos.
[8] cf. Missal Romano, Oração Eucarística I (Unde et memores e Supra quae); Oração Eucarística III (Memores igitur; Respice, quaesumus e Ipse nos tibi); encontram-se expressões semelhantes nas Orações II e IV.
[9] Missal Romano, Oração Eucarística III: Respice, quaesumus e Ipse nos tibi.
[10] cf. S. Josemaria, Cristo que passa, n. 87.
[11] Esta identidade de fins baseia-se não só na intenção da Igreja celebrante, mas sobretudo na presença sacramental do próprio Jesus Cristo: n´Ele ainda são atuais e operativos os fins pelos quais ofereceu a sua vida ao Pai (cf. Rm 8, 34; Hb 7, 25).
[12] A aplicação de que falamos – trata-se de uma oração especial de intercessão – não implica nenhum automatismo na salvação; a esses fiéis a graça chega não automaticamente, mas na medida da sua união com Deus pela fé, esperança e amor.
[13] cf. Código de Direito Canónico, can. n. 945-958. Com esta aplicação particular, o sacerdote celebrante não exclui das bênçãos do sacrifício eucarístico os outros membros da Igreja, nem a humanidade inteira; apenas inclui alguns fiéis de modo particular.
[14] O termo páscoa provém do hebraico e originalmente significa passagem, trânsito. No livro do Êxodo, onde se narra a primeira Páscoa judia (cf. Ex 12, 1-14 e Ex 12, 21-27), este termo está vinculado ao verbo «ultrapassar», à passagem do Senhor e do seu anjo na noite da libertação (quando o povo eleito celebrou a Ceia Pascal), e o trânsito do Povo de Deus da escravidão do Egito para a liberdade da terra prometida.
[15] Compêndio do Catecismo da Igreja Católica, n. 287.
[16] Catecismo da Igreja Católica, n. 1382.
[17] Isto não quer dizer que sem a Comunhão de todos os presentes a celebração da Eucaristia seja inválida; ou que todos devam comungar sob as duas espécies; essa forma de comungar é necessária apenas para o sacerdote celebrante.
[18] cf. Missal Romano, Institutio generalis, n. 80; S. João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 16; Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 81-83; 88-89.
[19] Catecismo da Igreja Católica, n. 1389.
[20] Catecismo da Igreja Católica, n. 1389.
[21] cf. Código de Direito Canónico, can. 910; Missal Romano, Institutio generalis, n. 92-94.
[22] cf. Código de Direito Canónico, can. 910 § 2; Missal Romano, Institutio generalis, n. 98; Congregação para o Culto Divino e disciplina dos Sacramentos, Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 154-160.
[23] cf. Código de Direito Canónico, can. 910 § 2, e can. 230 § 3; Missal Romano, Institutio generalis, n. 162; Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 88.
[24] Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 94; cf.Missal Romano, Institutio generalis, n. 160.
[25] cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1385. No que se refere à situação dos divorciados que voltaram a casar-se civilmente (ou de cristãos que convivem de modo irregular) a Igreja considera que «se encontram numa situação que contradiz objetivamente a lei de Deus. Pelo que não podem aceder à comunhão eucarística enquanto persistir essa situação» (Catecismo da Igreja Católica, n. 1650). Mas, se se arrependerem e receberem o sacramento da penitência, podem aceder de novo à comunhão; além disso, deverá ter-se em conta que a absolvição sacramental «pode dar-se unicamente aos que, arrependidos de terem violado o sinal da Aliança e da fidelidade a Cristo, estão sinceramente dispostos a uma forma de vida que não contradiga a indissolubilidade do matrimónio. Isto pressupõe concretamente que, quando o homem e a mulher, por motivos sérios, – como, por exemplo, a educação dos filhos – não podem cumprir a obrigação da separação, assumem o compromisso de viver em plena continência, ou seja, de se absterem dos atos próprios dos esposos» (S. João Paulo II, Familiaris consortio, n. 84). Sobre esta questão, vejam-se também as indicações dadas por Bento XVI, Sacramentum caritatis, n. 29, e por Francisco, Amoris laetitia, n. 296-306.
[26] cf. Código de Direito Canónico, can. 919 §1.
[27] cf. Catecismo da Igreja Católica, n.1387.
[28] cf. S. João Paulo II, Dominicae Cenae, n. 11; Missal Romano, Institutio generalis, n. 161; Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 92.
[29] cf. S. Pio X, Quam singulari, I: DS 3530; Código de Direito Canónico, can. 913-914; Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 87.
[30] Código de Direito Canónico, can. 914.
[31] Sto. Agostinho, Confissões, 7,10: CSEL (Corpus Scriptorum Ecclesiasticorum Latinorum) 38/1, 157.
[32] Claro que, se os efeitos salvíficos da Eucaristia não se alcançam só de uma vez na sua plenitude, «não é por defeito do poder de Cristo, mas por defeito da devoção do homem» (S. Tomás de Aquino, S. Th., III, q. 79, a. 5, ad 3).
[33] S. Josemaria, Cristo que passa, n. 156.
[34] cf. Catecismo da Igreja Católica, n.1394-1395.
[35] cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1395.
[36] cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 1396.
[37] cf. Catecismo da Igreja Católica, n.1419.
[38] cf. Catecismo da Igreja Católica, n.1378.
[39] cf. S. João Paulo II, Mysterium fidei, n. 56; S. João Paulo II, Ecclesia de Eucharistia, n. 29; Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, Instrução Redemptionis Sacramentum, n. 129-145; Bento XVI, Sacramentum caritatis, n. 66-69.
[40] S. João Paulo II, Dominicae Cenae, n. 3.