Marta Fernández Mercado e Amaia Vilas estão acostumadas a olhar o cancro de frente. Ambas são investigadoras do Programa de Hematologia e Oncologia do CIMA, Centro de Investigação Médica Aplicada, da Universidade de Navarra e, como muitos outros profissionais, trabalham dia a dia para tentar suster um dos grandes males do século XXI, que em cada ano ceifa mais de 8 milhões de vidas em todo o mundo.
Contudo, por vezes, o lado profissional não é o único que pode ajudar. “O Papa tem falado muito da importância de não sermos insensíveis perante a dor alheia, dos que sofrem e estão carenciados. Esta é uma realidade dura com que lido todos os dias: pessoas que padecem de cancro. Veio-me à ideia esta oportunidade de fazer alguma coisa pelos meus pacientes, para além do meu trabalho profissional. Sei que é uma coisa pequena, mas para os doentes, o cabelo, o sentir-se bem com a sua imagem, é um tema importante. Ao doar o meu cabelo não os curo, mas proporciono um certo alívio a alguém e faço com que a pessoa se sinta mais confortável com a sua doença”, afirma Maria.
O preço médio de uma peruca [em Espanha] é de 1 000 €, por isso em muitas zonas [do país] a doação de cabelo converteu-se num ato solidário habitual e, ao mesmo tempo, necessária. Marta e Amaia pensaram que talvez no ambiente do CIMA houvesse mais pessoas a desejar dar as suas “madeixas solidárias”; e assim puseram-se em contacto com a Associação de Doentes contra o Cancro, em Navarra, para iniciar uma campanha conjunta.
“Na AECC recolhemos cabelo e perucas durante todo o ano- explica Eva, assistente social da Associação – e doamo-las a doentes com poucos recursos económicos. Quando nos propuseram esta iniciativa do CIMA não duvidámos em colaborar, pois é uma maneira muito bonita de unir solidariedade, investigação e apoio aos doentes”. E continua, “na AECC estudamos cada caso, para propor a cada doente a aquisição de uma cabeleira por um preço acessível e razoável tendo em conta a sua situação económica. Há doentes que pagam uma certa quantia pela peruca, outros a quem a damos sem custo algum, conforme cada caso”.
As redes sociais e o WhatsApp são os melhores altifalantes
O serviço de comunicação do CIMA ajudou-as a desenhar o cartaz para dar a conhecer a iniciativa, com o lema “E eu, com todo este cabelo! Não tenhas vergonha e colabora contra o cancro!”, em que se animava as pessoas a cortar o cabelo para a causa e se explicava como e onde deviam levá-los depois.
“Doar é muito simples. Só se tem de cortar o cabelo seco, atar pelos extremos as madeixas entrançadas e guardá-las num envelope de papel. O comprimento mínimo requerido é de 20 cm”, diz Amaia, que acaba de doar os seus lindos cabelos.
“Difundimos esta iniciativa no Facebook, no Twitter, e através do WhatsApp. Na Universidade, o cartaz foi também projetado nos ecrãs da Faculdade. Queríamos que chegasse a quantos mais melhor”.
A campanha durou dois meses e meio. Ao todo, recolheram-se sete caixas cheias até ao cimo, de tranças. A imensa maioria foram doações individuais, mas também nos chegaram sacos de tranças de alguns cabeleireiros que se juntaram a esta iniciativa. Dado o êxito que tiveram, decidiram prolongá-la até junho, para continuar a dar a conhecer que é fácil doar e ajudar.
Muitas das tranças que se receberam vinham acompanhadas de ânimo, coisa que muito comoveu as coordenadoras da campanha. “Aqui vão os meus cabelos com superpoderes, para que te sintas belíssima”.
Portanto, já sabes, não tenhas vergonha e colabora contra o cancro!