- Onde nasceu, como era a sua família...?
-Nasci em Madrid, na Rua de Fortuny, a 14 de Junho de 1932. O meu pai era engenheiro, professor da Escola de Engenheiros Industriais. Como nenhum dos filhos lhe tinha saído engenheiro, quis inclinar-se para mim por ai... inclusivamente escreveu um livro a pensar na minha preparação. Mas eu sentia- me mais inclinado para as Humanidades. O meu pai ajudava-me a estudar matemática. E, perante qualquer problema, explicava-me três ou quatro maneiras de o resolver. Isso mesmo me causou fastio para as matemáticas. E optei pelo Direito.-Para exercer a advocacia?
-Não. Eu queria ser agente de câmbio e bolsa, como o meu avô, para ganhar dinheiro e viver bem. Deus meteu-se na minha vida e mudei os meus planos: aqui em Roma, estudei Direito Canónico no Angélico e Direito Civil na Universidade Lateranense, as licenciaturas e os doutoramentos.
- Quantos irmãos são?
-Poderíamos ter sido onze, embora só tenhamos nascido oito. Eu sou agora o mais novo dos sete que vivemos agora. Por isso tenho quase cinquenta sobrinhos-netos. A minha família procede de Guipúzcoa, mas já a partir dos meus avós se fixou em Madrid.
-Como chegou a conhecer a Obra?
-Eu tinha um primo que era do OpusDei, mas nunca me tinha interessado em lhe fazer perguntas. Na revista Catolicismo apareceu, em 1944, uma reportagem sobre os três primeiros membros do Opus Dei -engenheiros- que se ordenaram sacerdotes. Um amigo meu viu essa revista, em sua casa, casualmente, em 1948, e mostrou-a aos seis ou sete amigos do grupo. Aquilo era de grande novidade, e aos meus amigos intrigou-os bastante. A mim não, na verdade. Um domingo pela tarde, a 6 de Junho, íamos ao cinema. O meu amigo telefonou-me, a propor-me uma mudança de plano: “apetece-te ir a uma residência, em Diego de Léon, para sabermos o que é o Opus Dei?”. E lá fomos os seis. Atenderam-nos muito bem. Não em grupo, mas cada de nós pode falar com um membro da Obra e perguntar o que nos interessava saber. Ao sair dali, eu levava no bolso uma vistosa fotografia de Isidoro Zorzano, um engenheiro do Opus Dei, cujo processo de beatificação se acabara de iniciar. Pareceu-me um “santo laico” atractivo, ao que se podia imitar. Isto sucedia na véspera da morte do meu pai. Ele estava a preparar as férias de verão familiares em San Sebastián, quando sofreu um enfarte. Como a notícia não nos foi dada de imediato, mas disseram-nos que estava muito grave, recordo que eu rezei por ele, com a pagela de Isidoro.
Esse verão ficamos em Madrid. Nunca tinha sido assim. E isso deu-me ocasião para frequentar um centro da Obra que -outra casualidade!- havia na minha mesma rua: os Echevarría tínhamos voltado para a rua Españoleto. E “Españoleto” era o nome do andar da gente jovem onde, sempre que lá ia, davam-me algum trabalhito da casa: lixar umas cadeiras velhas para voltar a pintá-las de novo; ajudar na decoração; deitar uma mão nalgum arranjo de carpintaria... Gostei de me sentir útil, e de ser tratado como alguém que pode fazer algo pelos outros. A 8 de Setembro pedi admissão na Obra. Tinha 16 anos.
- E o que é que o atraiu?
-O ambiente de alegria: estudavam e trabalhavam como loucos, mas estavam muito contentes. O que, sem mudar de estado, que cada um se pudesse santificar com a sua profissão. O horizonte imenso de poder levar Cristo a muita gente. Desde muito pequeno era muito sociável e gostava de ter muitos e bons amigos.-Como conheceu o Fundador do Opus Dei?
-O Padre vivia já em Roma desde 1946, embora viesse a Espanha com certa frequência. Numa dessas viagens, em Novembro de 1948, convidaram-nos para uma tertúlia com ele em Diego de León. O sentimento de filiação para com quem é o Padre na Obra, é um traço consubstancial ao carisma da vocação no Opus Dei. Sem que ninguém mo impusesse, eu estava desejando conhecer o Padre. Ao acabar aquela tertúlia -seríamos uns trinta e cinco-, o Padre dirigiu-se aos três que éramos mais recentes e propôs-nos ir nessa mesma tarde conhecer Molinoviejo, uma casa em pleno campo de Segovia, para convívios e retiros.Metemo-nos seis num velho Vauxhall. Atrás ia o Padre. Eu, diante, compartilhando o assento com outro. Guiava o doutor Odón Moles. Durante o trajecto fizemos de tudo: conversámos, cantamos, rimos, rezámos... O Padre falava-nos de inumeráveis apostolados que a Obra tinha que fazer por todas as partes do mundo, e que estavam à nossa espera. Com a sua voz de barítono, bem timbrada e bem modulada, cantava canções da rua, canções de amor que ele endereçava para Deus.: “tenho um amor que me enche de alegrias...”. Brincava connosco: quando numa curva da estrada se desenhava uma casota velha, feia, em ruínas dizia: olhai!... isso é Molinoviejo!” Caímos na esparrela um par de vezes: Ah, bom, eu enjoei, vomitei... e como ia de preto pelo luto do meu pai, fiquei um desastre. Ajudou-me a limpar-me, e resolveu a difícil situação, fez que viajássemos com a janela aberta apesar de estarmos em Novembro e manifestou-me tanto carinho que, realmente me senti ajudado, não já por um pai, mas por um paizinho.
Em Molinoviejo fomos ver a ermida e o oratório. Uns quantos universitários, dirigidos por um aluno de Belas Artes, estavam a decorá-lo. Nas costas de madeira dos bancos corridos do oratório tinham gravado invocações marianas da ladaínha de Nossa Senhora. Impressionou-me a ternura e a força do amor do Padre em relação à Virgem: ao ir lendo-
-as, pronunciava-as, uma a uma, com voz quente e vibrante, como se dissesse piropos a uma mulher que se ama. Aquilo era, ao mesmo tempo, muito delicado e muito enérgico, muito espiritual e muito viril. Notava-se que quando dizia essas frases, o Padre estava a rezar.