"A distância entre o pastor e a ovelha desaparece quando se dá à ovelha a oportunidade de se tornar pastor de outros"

Franco Galdino é missionário e seminarista da Comunidade Shalon

1. Como nasceu o Shalom?

No Brasil, há trinta e cinco anos. O nosso fundador, Moysés Louro de Azevedo Filho, tinha então dezassete anos e foi convidado pelo bispo de Fortaleza para dar um presente ao Papa João Paulo II, que estava a efetuar uma visita pastoral ao Brasil. “Que posso dar ao Papa?”, pensou ele. Depois de ter rezado, concluiu que podia oferecer a sua vida pela evangelização de outros jovens. Entregou ao Papa uma carta com este compromisso e começou a trabalhar, juntamente com alguns amigos.

2. E por onde começaram?

Vendo como era difícil os jovens irem à Igreja, pensaram que talvez resultasse melhor convidá-los para um lugar onde pudessem tomar uma bebida. Assim nasceu o Shalom Snack Bar, para criar uma oportunidade de diálogo com os jovens. Ali, uma sanduíche chamava-se “Magnificat”, outra “Monte Sião” e a quem pede explicação sobre estes nomes, esclarece-se, informando também que atrás do bar há uma capela onde podem iniciar una experiência com Deus.

Àquele primeiro núcleo foram-se juntando outros jovens que queriam fazer parte desse bar para se encontrar com novos amigos. Assim nasceu uma comunidade que hoje está presente em trinta países. Hoje em dia, no Shalom convivem solteiros consagrados, sacerdotes e famílias, vivendo uma espiritualidade de contemplação e de evangelização.

3. Por quê o nome Shalom?

Quando o nosso fundador pensou num nome para aquele primeiro bar ocorreu-lhe apalavra Shalom (em hebraico, “paz”). A paz que anunciamos nasce de um encontro com Jesus. O seu coração cheio de paz chega até nós, que o anunciamos ao mundo. Shalom é a experiência do ressuscitado que passou pela cruz e que apareceu aos seus discípulos.

4. Em que consiste o vosso carisma?

Sobretudo na evangelização dos jovens: proporcionar-lhes a possibilidade de se aproximarem da Igreja, da qual muitos têm uma ideia negativa. Convidamo-los, por exemplo, a fazer uma experiência de voluntariado para ajudar os pobres, a trabalhar no bar, a colaborar na organização de um evento ou a compor música. Depois, vêm também com a família: pais, idosos, etc. Todos são escutados, mas o objetivo primário são os jovens e, particularmente, os que estão mais afastados da Igreja e de Deus.

5. Como acolheram a iniciativa do Papa sobre o Sínodo dos Jovens?

Sentimos uma sintonia muito profunda entre o que a Comunidade acredita e o que a Igreja confirma. Já há muito tempo, o nosso fundador disse que Shalom não se fez para os jovens, mas pelos jovens, com os jovens e para eles. O Sínodo vê a juventude não como o futuro da Igreja, mas como o presente. Cremos que durante o Sínodo se chegará à compreensão desta realidade, com um novo protagonismo dos jovens, que se reconhecem Igreja e desempenham o seu papel dentro dela.

6. Pensa que está a haver na Igreja sinais de mudança?

Sim. O encontro pré-sinodal, em que os jovens ouviram do Papa Francisco que “a Igreja precisa de os ouvir” foi muito importante. Não foram convidados a fazer algo a partir da sua casa, mas a participar, a intervir, a rezar juntos. O Papa pediu que o documento final não tivesse filtros, para conhecer tudo o que eles têm no coração, para que os jovens contribuam verdadeiramente para a mudança na Igreja.

7. Quais diria que são os temas mais relevantes deste Sínodo?

As principais hashtag são o protagonismo da juventude e a necessidade de uma experiência profunda de Deus, uma experiência que modifique a sua vida. Mais do que dizer “sou católico” e trazer uma cruz ao pescoço, os jovens procuram uma relação pessoal com Jesus, que cria uma vida nova repensando os próprios valores: a atitude perante o trabalho, a escola, os amigos... Tudo o resto é enquadramento.

8. Que papel desempenham os pastores da Igreja neste contexto que Francisco propõe?

Os bispos e sacerdotes têm de entender que não são só eles que tratam de aproximar aquele que está longe, mas que o fazem em conjunto com muitos outros que estão dispostos a contribuir. A distância entre o pastor e a ovelha desaparece quando se dá à ovelha a oportunidade de se tornar pastor de outros.

9. Acha que os jovens estão preparados para ser “pastores” de outros?

A regra do Evangelho consiste em esquecer-se de si próprio e pensar nos outros. O que é evangelizado deve pôr-se em movimento para sair de si mesmo, e passar de ser ovelha a ser pastor. O jovem deixa de ter pensamentos auto-referenciais para se colocar ao serviço dos seus amigos, daqueles que não têm fé, que estão longe de Deus, que sofrem.

10. Como pode a Igreja aproximar-se cada dia mais dos novos desafios que o presente lhe coloca?

O trabalho com jovens não consiste em fazer sociologia. Na verdade, falar da “Igreja que se aproxima do mundo dos jovens” transmite a ideia de que a Igreja é uma realidade desarticulada, mas não é assim. Os jovens já fazem parte da vida eclesial e têm, portanto, algo com que contribuir.