“Sentimos que é a filha que mais nos acompanha”

Maria da Natividade e Joaquim Marcelino têm quatro filhos, três deles casados, e ainda nove netos. Vivem em Lisboa, onde também reside a filha mais velha, Margarida, numerária do Opus Dei e a única dos quatro que vive na mesma cidade. Uma semana antes do marido morrer repentinamente, no termo de uma peregrinação a França, Maria da Natividade falou da sua relação com o Opus Dei.

'Os sobrinhos ficam delirantes quando a vêem'

Como conheceu o Opus Dei? Maria da Natividade: Para mim, o Opus Dei já vem de longe. Durante a juventude, fui bastante marcada pela leitura de Caminho. Era o nosso livro de meditação: um pensamento em cada dia, à noite, a sós ou com as primas com quem vivia durante o tempo de estudante em Coimbra. Depois, numa altura da nossa vida em que tínhamos os nossos filhos a entrar na adolescência, queríamos arranjar para eles companhias saudáveis e que influenciassem positivamente na sua formação. Falava-se no Opus Dei. Tivemos conhecimento do clube Darca e fomos até lá, eu e uma prima. Vimos como funcionava e inscrevemos as nossas filhas: pela nossa parte, a nossa filha mais velha no Darca e o nosso filho mais velho no clube dos rapazes, o Xénon, em Lisboa.

A vossa filha Margarida incorporou-se no Opus Dei como numerária nos últimos anos do secundário. Como reagiram quando o souberam, sendo ela tão nova, e vos manifestou o desejo de ir viver para um Centro? MN: Achávamos que faltavam poucos anos para concluir o curso e que seria melhor ingressar na Obra depois. No entanto ela insistiu e acabámos por aceitar, sem fazer violência nem contrariar a sua decisão.

Neste momento da nossa vida em que estamos já na fase final, pensamos e sentimos que é a filha que mais nos acompanha, que sempre se preocupa connosco, que está sempre a telefonar e a querer saber de nós e nos vem buscar a casa para sairmos um pouco.

Vêem-na com frequência? MN: Sim, com frequência. Neste momento da nossa vida em que estamos já na fase final, pensamos e sentimos que é a filha que mais nos acompanha, que sempre se preocupa connosco, que está sempre a telefonar e a querer saber de nós e nos vem buscar a casa para sairmos um pouco. Portanto, vemo-la com frequência e com muito interesse. E quando não nos vemos, telefonamos. Sentimos que ela está connosco e nós estamos com ela.

Compreendem que ela não possa estar sempre presente em todos os acontecimentos familiares? MN: Perfeitamente. Ela assumiu os seus compromissos e nós gostamos que ela venha, mas sempre nos limitamos a aceitar o que ela pode dar. Acho que não há desentendimento algum a esse respeito e compreendemos perfeitamente as suas obrigações, compromissos, a sua doação. E rezamos para que Nosso Senhor a acompanhe e a ajude no resto da sua vida.

O que sabem da sua vida? Consideram-na feliz? MN: (risos) Acho que isso é tão evidente que não dá possibilidade de pensar outra coisa senão que ela é mesmo muito feliz. E transmite a sua felicidade a todos. Aos pais – que por vezes estão mais murchos, mais tristes –, aos sobrinhos, que ficam delirantes quando a vêem e a abraçam até a derrubar. Ela própria suscita, cria, desenvolve a entre-ajuda familiar. Ela faz muito nesse sentido, que os irmãos estejam todos unidos, que saibamos todos uns dos outros: os pais dos filhos e os filhos dos pais. É ela o motor de arranque desta relação tão próxima entre nós e da felicidade que vivemos.

(A Margarida interrompe e diz: “eu acho que o motor é a mãe”.)

Quanto à sua vida, sabemos tudo. A Guida transmite-nos sempre quando se desloca do país para qualquer lado, em serviço do trabalho ou em serviço da Obra. Sabemos todas as passadas que dá. E as actividades que realiza nos centros da Obra onde tem vivido. Ela mesma nos chama para lá irmos e conhecermos as pessoas com quem vive. Sentimos que somos todos da mesma família, são todas muito nossas amigas, muito carinhosas, muito espontâneas. Parece que ali só há felicidade e alegria. Nós próprios ficamos felizes e saimos do nosso mundo mais isolado quando contactamos as amigas com quem ela vive. Sim, estamos dentro da vida da Guida. Acho que ela não pode ser mais feliz.

Como vêem na comunicação social algumas críticas negativas sobre o Opus Dei?

'Maria da Natividade e Joaquim Marcelino rodeados dos filhos, noras e netos'

Não compreendo. Não consigo enquadrar a minha filha nessas afirmações. Fala-se em sociedade secreta quando está tudo à vista. Enumeram a vivência dos membros da Obra e referem determinados comportamentos, mas porquê? Sabemos quantas e quantas pessoas fazem isso espontaneamente sem pertencerem ao Opus Dei: ir à Missa todos os dias, usar cilícios e sei lá quantas coisas. Não percebo porque é que o Opus Dei é atacado. Quando me parece que ele dá sobretudo formação, lembra a santificação do trabalho quotidiano, das pequenas coisas. É isso que Deus quer de nós: santificar o dia-a-dia com a nossa vivência em união com Deus.