Se queres construir a paz, protege a Criação

Algumas passagens da Mensagem de Bento XVI para o Dia Mundial da Paz, 1 de Janeiro de 2010.

(…) Com efeito, se são numerosos os perigos que ameaçam a paz e o autêntico desenvolvimento humano integral devido à desumanidade do homem para com o seu semelhante – guerras, conflitos internacionais e regionais, actos terroristas e violações dos direitos humanos –, não são menos preocupantes os perigos que derivam do desleixo, se não mesmo do abuso, em relação à terra e aos bens naturais que Deus nos concedeu.

(…) Por isso, é indispensável que a humanidade renove e reforce «aquela aliança entre ser humano e ambiente que deve ser espelho do amor criador de Deus, de Quem provimos e para Quem estamos a caminho»

Em1990, João Paulo II falava de crise ecológica..., hoje, com o proliferar de manifestações duma crise que seria irresponsável não tomar em séria consideração, tal apelo aparece ainda mais premente. Pode porventura ficar-se indiferente perante as problemáticas que derivam de fenómenos como as alterações climáticas, a desertificação, o deterioração e a perda de produtividade de vastas áreas agrícolas, a poluição dos rios e dos lençóis de água, a perda da biodiversidade, o aumento de calamidades naturais, a desflorestação das áreas equatoriais e tropicais?

Como descurar o fenómeno crescente dos chamados «prófugos ambientais», ou seja, pessoas que, por causa da degradação do ambiente onde vivem, se vêem obrigadas a abandoná-lo – deixando lá muitas vezes também os seus bens – tendo de enfrentar os perigos e as incógnitas de uma deslocação forçada?

Com não reagir perante os conflitos, já em acto ou potenciais, relacionados com o acesso aos recursos naturais? Trata-se de um conjunto de questões que têm um impacto profundo no exercício dos direitos humanos, como, por exemplo, o direito à vida, à alimentação, à saúde, ao desenvolvimento.

Não se pode avaliar a crise ecológica prescindindo das questões com ela relacionadas…, nomeadamente o próprio conceito de desenvolvimento e a visão do homem e das suas relações com os seus semelhantes e com a criação… por isso, é decisão sensata realizar uma revisão profunda e clarividente do modelo de desenvolvimento e também reflectir sobre o sentido da economia e dos seus objectivos, para corrigir as suas disfunções e deturpações. Exige-o o estado de saúde ecológica do Planeta.

Reclama-o também e sobretudo a crise cultural e moral do homem, cujos sintomas há muito tempo se manifestam por toda a parte... As situações de crise…, no fundo são também crises morais e estão todas interligadas. Elas obrigam a projectar de novo o caminho comum dos homens. Impõem, de maneira particular, um modo de viver marcado pela sobriedade e a solidariedade, com novas regras e formas de compromisso, apostando, com confiança e coragem, nas experiências positivas realizadas e rejeitando decididamente as negativas. É o único modo de fazer com que a crise actual se torne uma ocasião para discernimento e novo planeamento .