Santo Agostinho de Hipona: biografia e textos do santo de quem Leão XIV é filho espiritual

28 de Agosto é dia de Santo Agostinho de Hipona (354-430). Nascido em Tagaste (Numídia), o chamado «Doutor da Graça» foi um dos maiores pensadores do cristianismo no primeiro milénio. O novo Papa, Leão XIV, é agostiniano.

Leão XIV, Robert Francis Prevost, é membro da Ordem de Santo Agostinho, e citou o Doutor da Igreja nas suas primeiras palavras:

«Sou um filho de Santo Agostinho – um agostiniano –, que disse: “Convosco sou cristão, para vós sou bispo”. Nesse sentido, podemos caminhar juntos rumo à pátria que Deus nos preparou».


Neste artigo, disponibilizamos uma série de textos de Santo Agostinho, bem como a sua biografia:

  1. Quando Cristo passa: sobre a cura dos cegos de Jericó
  2. A tempestade na barca: comentário à passagem do Evangelho de São Mateus.
  3. Elogio de Maria: colaboradora de Cristo na Redenção.
  4. As pescas milagrosas: figuras da Igreja no tempo presente e na vida eterna.
  5. O serviço dos pastores: sobre a missão ministerial dos bispos.
  6. Elogio da caridade: segundo a doutrina do Apóstolo São Paulo.

Biografia de Santo Agostinho de Hipona

Depois da sua conversão e Batismo, enquanto ensinava Retórica em Milão, decidiu regressar à sua pátria com o desejo de servir melhor a Igreja. Aí foi ordenado presbítero no ano 391 para ajudar o velho bispo de Hipona, a que sucederia na sede episcopal pouco tempo depois. A sua atividade de Bispo foi, em grande parte, dirigida a defender a fé contra diversas heresias, como o maniqueísmo, o donatismo, o pelagianismo, o arianismo, etc.

Santo Agostinho tem uma personalidade complexa e profunda: é filósofo, teólogo, místico, poeta, orador, polemista, escritor, pastor. Qualidades que se complementam entre si e que convertem o Bispo de Hipona – com palavras de Pio XI – num homem “ao qual quase ninguém, ou apenas uns poucos, de quantos viveram desde o início do género humano até hoje, se podem comparar”.

Santo Agostinho tem uma personalidade complexa e profunda: é filósofo, teólogo, místico, poeta, orador, polemista, escritor, pastor

Santo Agostinho, no entanto, é antes de mais nada um Pastor que se sente e se define como “servo de Cristo e servo dos servos de Cristo”, e vive-o nas suas consequências extremas: plena disponibilidade aos desejos dos fiéis; desejo de não alcançar a salvação sem os seus (“não quero ser salvo sem vós”); roga a Deus para estar sempre pronto a morrer por eles; amor para com aqueles que estão à sua volta, embora não gostem dele, ou mesmo que o ofendam. Enfim, é Pastor no pleno sentido da palavra.

A pregação de Santo Agostinho foi abundantíssima. Chegaram até nós mais de quinhentas homilias suas, pregadas de viva voz, entre as quais se incluem o seu Comentário aos Salmos (Enarrationes in Psalmos), ao Evangelho de São João (In Ioannis Evangelium tractatus), e os Sermões, título com que os estudiosos agruparam os 363 discursos isolados, considerados autênticos.

O público que escutava os seus sermões é do mais heterogéneo. Patrícios e escravos, pobres e ricos, homens do povo com a sua cultura rudimentar e letrados, bons cristãos, hereges e indiferentes juntam-se para escutar o grande orador. O Bispo de Hipona esforça-se por apresentar com clareza e, ao mesmo tempo, com simplicidade a Palavra divina, entabulando com os seus ouvintes um diálogo de amor e de fé.

Para Santo Agostinho, que expôs a sua teoria da pregação no livro IV De doctrina christiana, o pregador é em primeiro lugar o doutor e entendido na Sagrada Escritura, que sabe expor ao povo de modo que o entendam. Daí o seu profundo conhecimento da palavra de Deus revelada, com que está sazonada toda a sua pregação.

Na sua pregação, entretecida de textos bíblicos, serve-se dos mais usados na liturgia do norte de África. As citações do Evangelho correspondem à versão da Vulgata, embora retoque algumas passagens quando a ocasião o requeira ou quando, depois de consultar o texto original, a tradução o não convence.