Rezar com o Papa diante do Presépio

Publica-se uma selecção de textos extraídos das homilias de Natal de Bento XVI desde que ocupou a cátedra de S. Pedro em 2005.

Preparação

«O Menino, a quem há uns dois mil anos os pastores adoraram numa gruta na noite de Belém, não se cansa de nos visitar na vida quotidiana, enquanto como peregrinos nos encaminhamos para o Reino. Invocar o dom do nascimento do Salvador prometido significa também comprometer-se para preparar o caminho, para predispor uma digna morada não só no ambiente à nossa volta, mas sobretudo no nosso espírito» (19Dez2007). · «Chegou o momento anunciado pelo Anjo em Nazaré: “Darás à luz um filho e pôr-lhe-ás o nome de Jesus. Será grande, será chamado Filho do Altíssimo". Chegou o momento pelo qual Israel esperava desde há muitos séculos, durante tantas horas obscuras, o momento de certo modo esperado por toda a humanidade com figuras ainda confusas: que Deus se preocupasse por nós, que saísse do Seu ocultamento, que o mundo alcançasse a salvação e que Ele tudo renovasse. Podemos imaginar com quanta preparação interior, com quanto amor, esperou Maria por aquela hora.

Um breve registo, “envolveu-O em paninhos", permite-nos vislumbrar algo da santa alegria e do calado zelo daquela preparação. Os paninhos estavam dispostos, para que o Menino se encontrasse bem atendido. Mas na pousada não havia lugar. De certo modo, a humanidade espera Deus, a Sua proximidade. Mas quando chega o momento, não tem lugar para Ele.

Temos tempo disponível para o próximo que tem necessidade da nossa palavra, da minha palavra, do meu afecto? Para o que sofre e necessita de ajuda? Temos tempo e espaço para Deus? Pode Ele entrar na nossa vida? Encontra um lugar em nós ou temos todo o nosso pensamento, os nossos afazeres, a nossa vida, ocupados connosco próprios?» (19Dez2007).

«O mundo torna-se cada vez mais caótico e mesmo violento: vemo-lo todos os dias. E a luz de Deus, a luz da Verdade, apaga-se. A vida torna-se obscura e sem norte. Que importante é, portanto, sermos realmente crentes e como crentes reafirmarmos com força, com a nossa vida, o mistério da salvação que traz consigo a celebração do Natal de Cristo!» (19Dez 2007). · «Homem moderno, adulto e, no entanto, por vezes débil no pensamento e na vontade, deixa-te levar pela mão do Menino em Belém, não temas, tem confiança n'Ele!» (25Dez2005). Testemunho · «Se não se reconhece que Deus se fez homem, que sentido tem celebrar o Natal? A celebração esvazia-se. Primeiro que tudo, nós os cristãos, temos que reafirmar com convicção profunda e sentida a verdade do Natal de Cristo para testemunhar a consciência de um dom gratuito que é riqueza não só para nós, mas para todos. Daqui deriva o dever da evangelização» (19Dez2007). Esperança

«O homem da era tecnológica, se se encaminha para una atrofia espiritual e para um vazio do coração, corre o risco de ser vítima dos próprios êxitos da sua inteligência e dos resultados das suas capacidades operativas. Por isso é importante que abra a mente e o coração ao Natal de Cristo, acontecimento de salvação capaz de imprimir renovada esperança à existência de todo o ser humano.

No Natal o nosso espírito abre-se à esperança contemplando a glória divina escondida na pobreza de um Menino envolto em paninhos e deitado numa manjedoura: é o Criador do universo reduzido à impotência de um recém-nascido. Aceitar este paradoxo, o paradoxo do Natal, é descobrir a Verdade que nos faz livres e o amor que transforma a existência. Na noite de Belém, o Redentor faz-Se um de nós, para ser nosso companheiro nos caminhos insidiosos da história. Peguemos na mão que Ele nos estende, é uma mão que nada nos quer retirar, mas apenas dar» (25Dez2005). Amor

«Deus é tão grande que pode fazer-Se pequeno. Deus é tão poderoso que pode fazer-Se inerme e vir ao nosso encontro como um menino indefeso, a fim de que O possamos amar. É tão bom que pode renunciar ao Seu esplendor divino e descer a um estábulo para que O possamos encontrar e, deste modo, a Sua bondade nos toque, nos seja comunicada e continue a actuar através de nós. Isto é o Natal» (25Dez2005).

«"Tu és meu filho, Eu hoje te gerei". Deus fez-se um de nós, para que possamos estar com Ele, chegar a ser semelhantes a Ele. Escolheu como Seu sinal o Menino no presépio: Ele é assim» (25Dez2005).

«Naquele Menino deitado no presépio, Deus mostra a Sua glória, a glória do amor, que se dá como dom de si mesmo e que se priva de toda a grandeza para nos conduzir pelo caminho do amor. A luz de Belém nunca se apagou. Iluminou homens e mulheres ao longo dos séculos, "envolveu-os na Sua luz". Onde apareceu a fé naquele Menino, floresceu também a caridade, a bondade para com os outros, a atenção solícita para com os débeis e os que sofrem, a graça do perdão» (25Dez2005).

Apostolado

«Não há nada mais formoso, urgente e importante do que voltar a dar gratuitamente aos homens o recebido gratuitamente de Deus. Não há nada que nos possa eximir ou dispensar deste exigente e fascinante compromisso. A alegria do Natal que já experimentamos, ao encher-nos de esperança, impulsiona-nos, ao mesmo tempo, a anunciar a todos a presença de Deus no meio de nós» (23Dez2007).

«Só redescobrindo o dom recebido, a Igreja pode testemunhar a todos Cristo Salvador; há que fazê-lo com entusiasmo e paixão, no pleno respeito de cada tradição cultural e religiosa; e fazê-lo com alegria, sabendo que Aquele a quem se anuncia nada se retira do que é autenticamente humano, mas antes se conduz ao seu cumprimento. Na verdade, Cristo vem destruir somente o mal, só o pecado; o resto, tudo o resto, eleva-o e aperfeiçoa-o» (25Dez2006).

«O verdadeiro mistério do Natal é o resplendor interior que vem deste Menino. Deixemos que este resplendor interior chegue até nós, que acenda no nosso coração a chispa da bondade de Deus; levemos todos, com o nosso amor, a luz ao mundo. Não permitamos que esta chama luminosa se apague pelas correntes frias do nosso tempo. Que a guardemos fielmente e a ofereçamos aos outros» (25Dez2005). Conversão

«Glória a Deus nas alturas e paz aos homens que por Deus amados», homens que põem a vontade na Sua, transformando-se em homens de Deus, homens novos, mundo novo» (25Dez2007).

«[É este] o grande mistério do amor que nunca deixa de nos surpreender. Deus fez-se Filho do homem para que nos convertêssemos em filhos de Deus» (23Dez2007).

«Deus ama a todos porque todos são Suas criaturas. Mas algumas pessoas fecharam a alma; o Seu amor não encontra nelas resquício algum por onde entrar. Crêem não necessitar de Deus; não O querem. Outros, quiçá moralmente tão pobres como pecadores, sofrem ao menos por isso. Esperam em Deus. Sabem que necessitam da Sua bondade, embora não tenham uma ideia precisa disso. No seu espírito aberto à esperança, pode entrar a luz de Deus e, com ela, a Sua paz» (25Dez2005). Humildade

«No estábulo de Belém o Céu e a terra tocam-se. O Céu veio à terra (...). O Céu não pertence à geografia do espaço, mas à geografia do coração. E o coração de Deus, na Noite Santa, desceu a um estábulo; a humildade de Deus é o Céu. E se saímos ao encontro desta humildade então tocamos o Céu. Então, renova-se também a terra. Com a humildade dos pastores, ponhamo-nos a caminho, nesta Noite Santa, em direcção ao Menino no estábulo. Toquemos a humildade de Deus, o coração de Deus. Então a Sua alegria atingir-nos-á e tornará o mundo mais luminoso» (25Dez2007).

«O Natal é o dia santo em que brilha a “grande luz" de Cristo portadora de paz. Certamente, para a reconhecer, para a acolher, é preciso fé, é preciso humildade. A humildade de Maria, que acreditou na palavra do Senhor, e que foi a primeira que, inclinada diante do presépio, adorou o Fruto do Seu ventre; a humildade de José, homem justo, que teve a valentia da fé e preferiu obedecer a Deus do que a proteger a sua própria reputação; a humildade dos pastores, dos pobres e anónimos pastores, que acolheram o anúncio do mensageiro celestial e se apressaram a ir à gruta, onde encontraram o Menino recém-nascido e, cheios de assombro, adoraram-no louvando a Deus» (25Dez2007).

Tempo

«Quem está pronto para Lhe abrir as portas do coração? Homens e mulheres de hoje, Cristo vem trazer-nos a luz também a nós, também a nós nos vem dar a paz. Mas quem vela na noite da dúvida e da incerteza com o coração desperto e orante? Quem espera a aurora do novo dia tendo acesa a chama da fé? Quem tem tempo para escutar a Sua palavra e deixar-se envolver pelo Seu amor fascinante?» (25Dez2007).

Felicidade

«À sede de sentido e de valores que hoje se nota no mundo; à busca de bem-estar e de paz que marca a vida de toda a humanidade; às expectativas dos pobres, responde Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, com o Seu Natal. Que as pessoas e as nações não temam reconhecê-Lo e acolhê-Lo».

«Terá ainda valor e sentido um "Salvador" para o homem do terceiro milénio? Como não repara que, precisamente do fundo desta humanidade prazenteira e desesperada, surge uma dilacerante petição de ajuda? (...) É precisamente na sua intimidade, naquilo que a Bíblia designa "coração", em que sempre necessita de ser salvo. E na época actual pós-moderna necessita talvez ainda mais de um Salvador, porque a sociedade em que vive se tornou mais complexa e tornaram-se mais insidiosas as ameaças à sua integridade pessoal e moral. Quem pode defendê-lo senão Aquele que o ama ao ponto de sacrificar na cruz o Seu Filho unigénito como Salvador do mundo?» (25Dez2006).

«"Desperta, homem, por ti, Deus fez-se homem" (S. Agostinho). Desperta, homem do terceiro milénio! No Natal, o Omnipotente faz-se Menino e pede ajuda e protecção; o seu modo de ser Deus põe em crise o nosso modo de ser homens; o Seu bater às nossas portas interpela-nos, interpela a nossa liberdade e pede-nos para rever a nossa relação com a vida e o nosso modo de a conceber» (25Dez2005).