Publicado o segundo volume das “Cartas” de S. Josemaria

Acaba de ser publicado um novo volume de "Cartas" de S. Josemaria: o segundo, pouco mais de um ano depois de aparecer o primeiro, que foi publicado no outono de 2020.

Ediciones Rialp. Cartas II (Edición crítico-histórica)

Com este, já são dez os volumes da coleção de obras completas de S. Josemaria que vieram a público. A coleção, um projeto do Istituto Storico S. Josemaria Escrivá, com sede em Roma, está a ser publicada por Ediciones Rialp.

Luis Cano, editor deste segundo tomo de cartas e de outros volumes da coleção, é secretário do Istituto Storico S. Josemaria Escrivá (Itália) e membro da comissão coordenadora da coleção de obras completas. Nesta entrevista responde a algumas perguntas sobre este novo livro.

Que tamanho têm estas cartas e porque são relevantes?

No conjunto, as quatro Cartas ocupam 168 páginas na edição crítica: são um pouco mais breves do que as do volume anterior; a mais pequena tem 27 páginas e a maior 54. Em meu entender, o seu maior interesse reside no facto de que contêm a visão amadurecida e, por assim dizer, acabada, que S. Josemaria tinha do carisma que recebeu em 1928.

São, portanto, escritos de enorme valor para conhecer esse carisma e a sua proposta eclesial específica. Mas penso que a sua leitura também pode interessar a pessoas que não conhecem o Opus Dei, porque tratam temas que podem ajudar a seguir Jesus Cristo no mundo atual, seguindo caminhos muito distintos.

Luis Cano, Secretário do Istituto Storico São Josemaria Escrivá
Luis Cano, secretário do Istituto Storico São Josemaria Escrivá

De que temas trata cada uma?

Dois textos dedicam-se a um tema de grande importância e atualidade: os jovens. O primeiro – a Carta número 5 nesta edição –, centra-se na educação cristã da juventude. Penso que quem trabalha no mundo do ensino vai encontrar páginas muito inspiradoras. Propõe como ideais desta tarefa «ordenar toda a cultura à salvação, iluminar todo o conhecimento humano com a fé, formar cristãos cheios de otimismo e de entusiasmo, capazes de viver no mundo a sua aventura divina» (Carta n. 5, § 6).

A Carta n. 7, por outro lado, enfrenta as linhas mestras do apostolado do Opus Dei com os jovens: ajudá-los a formar a personalidade e a ser livre, proporcionar-lhes um bom conhecimento da doutrina cristã e levá-los a ter na vida uma atitude de serviço, tanto a Deus como aos outros e, por cima de tudo isto, ter intimidade com Cristo. Penso que o conteúdo desta Carta se pode resumir na seguinte exortação: «Fazei-o de tal modo que, na sua primeira juventude ou na plena adolescência, se sintam movidos por um ideal: que procurem Cristo, que encontrem Cristo, que tratem Cristo, que sigam a Cristo, que amem Cristo, que permaneçam com Cristo» (Carta n. 7, § 12).

A Carta n. 6 é como um resumo da totalidade do carisma do Opus Dei. Logo, trata de numerosos temas. Uma das chaves que, em meu entender, proporciona, é que esse espírito, esse dom específico que Deus deu à sua Igreja, leva a realizar algo que parece incompatível: ter um grande amor ao mundo e ao mesmo tempo, inseparavelmente, procurar uma intimidade intensa com Deus. Como diz, trata-se de viver «participando em todas as tarefas, em todas as atividades nobres dos homens», cultivando uma «contemplação filial simples, num constante diálogo com Deus» (Carta n. 6, §§ 9 y 15), para assim «pôr todas as coisas aos pés do Senhor, levantado sobre a Cruz» (Carta n. 6, § 12).

Outra chave é que no Opus Dei há uma «união íntima e total entre o trabalho profissional e o trabalho apostólico» (Carta n. 6, § 42). Neste campo, a sua missão é «acolher com juventude o tesouro do Evangelho, para o fazer chegar a todos os recantos da terra» (Carta n. 6, § 31).

A última Carta deste volume é a n. 8. Nela, explica a vida cristã como serviço, num exercício consciente de liberdade. Por outras palavras, tenta dar luz ao aparente paradoxo de que se é livre quando se decide servir: «a legítima liberdade dos homens – assim começa esta carta –, se são verdadeiramente honestos, com a ajuda divina, leva-os ao desejo de servir a Deus e às suas criaturas» (Carta n. 8, § 1).

Há algum motivo para S. Josemaria preferir expor o espírito do Opus Dei aos seus membros por meio de cartas e não, por exemplo, por meio de um tratado ou de um ensaio descritivo?

Sim, desejava que estes escritos fossem conversas cheias de confiança, em que o fundador fala muito livremente com os leitores, relatando acontecimentos da sua vida, contribuindo com reflexões, fazendo-os participantes das luzes que ele próprio tinha recebido na sua intimidade com Deus. Por vezes assoma a sua forte personalidade, por exemplo, quando critica o clericalismo, ou o seu bom humor; e também tem frases que tocam o coração e levam a saber-se amados por Deus.

Como fundador, Josemaria Escrivá é uma testemunha do Evangelho, uma pessoa enamorada de Jesus, que usa uma linguagem compreensível e que compartilha o que já experimentou.
A coleção de obras completas começou a ser publicada há uma vintena de anos.

Quantos volumes e quantos anos faltam, aproximadamente, para o seu termo?

Não sei dizer, mas são bastantes. Só quanto às Cartas podemos falar talvez de mais dez volumes. Depois há muitos outros escritos, como o seu epistolário, ou fragmentos da sua pregação, mais ou menos completos, que somam milhares de páginas. Estamos a trabalhar intensamente, mas, na minha opinião, temos tarefa para trinta ou quarenta anos.

Ediciones Rialp. Cartas II (Edición crítico-histórica)