Porto: a imagem de Nossa Senhora no brasão da cidade

Nossa Senhora da Vandoma celebra-se a 11 de outubro. Existe uma bela imagem policromada, atribuída ao séc. XIV, na Sé do Porto, é um sinal da antiga devoção da cidade a Maria, mãe de Cristo, de que lhe valeu o título de Civitas Virginis.

Nossa Senhora da Vandoma, padroeira da cidade do Porto. A devoção tem sua origem em um episódio conhecido como Armada dos Gascões, ocorrido em Portugal no período da Reconquista Cristã da Península Ibérica. Terá surgido por volta do ano 990, na altura em que o nobre português dom Munio Viegas liderou uma armada de cavaleiros originários da Gasconha que, ao desembarcarem na foz do rio Douro, combateram os mouros que dominavam a região do Porto.

Junto com os gascões, estava Dom Nónego, bispo da localidade francesa de Vendôme e que depois o foi do Porto, que, segundo se crê, trouxera consigo uma cópia da imagem de Nossa Senhora que havia na Catedral de Vandoma (Vendôme).

tinham, como uma das saídas principais, a chamada Porta de Vandoma, onde teria sido colocada a referida imagem de Nossa Senhora de Vandoma, atualmente exposta na Sé do Porto.

Segundo a tradição, dom Munio e os franceses, após a vitória sobre os mouros e a retomada a cidade, reergueram as muralhas da cidade. Estas tinham, como uma das saídas principais, a chamada Porta de Vandoma, onde teria sido colocada a referida imagem de Nossa Senhora de Vandoma, atualmente exposta na Sé do Porto.

A cidade consagrou Nossa Senhora de Vandoma como sua padroeira, devoção que, até hoje, ilustra o brasão de armas do Porto.

Nossa Senhora da Vandoma é a padroeira da cidade do Porto

A imagem foi venerada pela população, que a levou a percorrer as suas ruas em procissão, principalmente durante os períodos de epidemias que assolaram o Porto e regiões vizinhas.

A devoção chegou ao Brasil pelos portugueses como Nossa Senhora do Porto, a qual igualmente tornou-se orago de algumas cidades como Andrelândia e Senhora do Porto, em Minas Gerais, e Morretes, no Paraná.

Uma nota pastoral na Festa da Padroeira da Cidade

Sobre o culto da Santíssima Virgem Maria, o Concílio Vaticano II deixou-nos o seguinte critério geral: “a autêntica devoção não consiste num sentimento estéril e passageiro, nem numa espécie de vã credulidade, mas procede da verdadeira fé, que nos leva a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, nos incita a um amor filial para com a nossa Mãe e nos estimula à imitação das suas virtudes” (Constituição dogmática Lumen Gentium, nº 67). – Na actual situação da nossa cidade e diocese, que deverão significar estas palavras conciliares? Entre outras coisas, tenhamos em conta o seguinte: Estamos numa situação eclesial exigente, como sempre o será a vida da Igreja, porque o Evangelho está no mundo como fermento na massa, em desproporção criativa.

Na nossa diocese, a prática dominical comunitária rondará os 20 %, se bem que a prática individual ou esporádica seja muito maior. É necessário um esforço grande, não só na actividade pastoral corrente, aliás indispensável, mas também naquela “nova evangelização”, nova “no ardor, nos métodos e na expressão”, como a propôs João Paulo II (Haiti, 1983).

Olhando à nossa volta, nós os crentes, tanto sentimos o anseio como nos pomos a pergunta: anseio de comunicar a muitos o Evangelho que recebemos, a boa nova da vitória de Cristo sobre a morte, a vida plena que n’Ele nos é oferecida; a pergunta sobre o como fazê-lo, de que modo exprimir tanta esperança. Nisto mesmo somos crentes, transportados por uma fé que se faz vida e convivência nova, quer dizer, Igreja. E estamos perto donde estaria a jovem Virgem de Nazaré, na anunciação que recebeu. Resumia toda a esperança de Israel, ali concentrada num coração juvenil e aberto. Escutou então o que nunca tinha sido ouvido e aceitou que nela o Espírito recriasse o mundo. Dela nasceu Jesus, Filho de Deus humanado, como no-Lo apresenta a bela e veneranda imagem de Nossa Senhora de Vandoma.

uma “verdadeira fé, que nos leve a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, nos incita a um amor filial para com a nossa Mãe, e nos estimula à imitação das suas virtudes”.

Contemplá-la hoje, neste dia de celebração e acolhimento, levar-nos-á a retomar e cumprir o citado ditame conciliar: uma “verdadeira fé, que nos leve a reconhecer a excelência da Mãe de Deus, nos incita a um amor filial para com a nossa Mãe, e nos estimula à imitação das suas virtudes”. Porque imitar as suas virtudes é participar principalmente na sua fé disponível. Num mundo que tanto as contradizia, acreditou nas antigas promessas e profecias, dando-lhes realismo e um cumprimento cabal: “Eis que a Virgem conceberá e dará à luz um filho; e hão-de chamá-lo Emanuel, que quer dizer: Deus connosco” (Mt 1, 23). Para nós, filhos e devotos de Maria, a nova evangelização começa aqui. Acreditamos também num “Deus connosco”, que, dela nascido, continua a “nascer” na Igreja.

É esta a “imitação das suas virtudes”, que o Concílio nos inculca. Fé, esperança e caridade de Maria, feitas nossas para darmos Cristo ao mundo. Diz-nos outro passo do mesmo documento: “Com razão, a Igreja, também na sua actividade apostólica, olha para aquela que gerou Cristo, concebido do Espírito Santo e nascido da Virgem, precisamente para que Ele nasça e cresça também no coração dos fiéis, por meio da Igreja” (Lumen Gentium, nº 65).

neste dia de Nossa Senhora de Vandoma, motivados e disponíveis para a nova evangelização que tanto urge: fixemo-nos na sua imagem

Católicos portucalenses, neste dia de Nossa Senhora de Vandoma, motivados e disponíveis para a nova evangelização que tanto urge: fixemo-nos na sua imagem, deixando que o mesmo Espírito nos renove nos sentimentos de Maria, os únicos que dão Cristo ao mundo. E só assim, como o Espírito sabe, como Maria coopera, o mesmo mistério do Filho de Deus humanado continuará, criativo e oportuno, pela “actividade apostólica” da Igreja que somos.

Com a Senhora de Vandoma havemos de levar Cristo à escola, ao hospital, à prisão, ao trabalho e à sociedade em geral

Com a Senhora de Vandoma levaremos Cristo às famílias, com uma solicitude que não dispensará nenhum meio para lhes possibilitar condições de formação e sustento

Uma hora que seja, de oração silenciosa “diante” de Nossa Senhora de Vandoma, ensinar-nos-á mais sobre o que havemos de fazer do que muitas conjecturas que, sem tal atitude, seriam meramente nossas. A “nova evangelização” brota da primeira, a que Maria aceitou e nos ofereceu. Ela e o Espírito nos dirão como será agora. Os “sinais dos tempos” só se lêem em chave mariana. Com a Senhora de Vandoma levaremos Cristo às famílias, com uma solicitude que não dispensará nenhum meio para lhes possibilitar condições de formação e sustento, bem como a educação dos filhos e o acompanhamento dos idosos, sabendo que a comunhão familiar é a primeira e fundamental aprendizagem da vida eterna com Deus uno e trino.

Com a Senhora de Vandoma havemos de levar Cristo à escola, ao hospital, à prisão, ao trabalho e à sociedade em geral

Com a Senhora de Vandoma havemos de levar Cristo à escola, ao hospital, à prisão, ao trabalho e à sociedade em geral, pelo testemunho sereno e solidário, que dissipará por si mesmo qualquer laivo secularista que ainda alimente preconceitos serôdios em relação à dimensão religiosa da existência. Com a Senhora de Vandoma conviveremos com todos, naquela disponibilidade de coração em que o Espírito recria as vidas em qualquer momento delas: cristãos, em suma, porque à Páscoa referidos. Por isso a saudamos como “Estrela da nova evangelização”!

11 de Outubro de 2007

+ Manuel Clemente, Bispo do Porto