Os mass media na família: um risco e uma riqueza

"Os mass media, em qualquer forma que seja, devem inspirar-se sempre no critério ético do respeito pela verdade e pela dignidade da pessoa humana." Mensagem de João Paulo II para o 38 Dia Mundial das Comunicações.

Na festa de S. Francisco de Sales, patrono dos jornalistas, foi publicada a mensagem de João Paulo II para o 38 Dia Mundial das Comunicações: "Os mass media na família: um risco e uma riqueza".

Apresentamos extractos da mensagem anual, que se publicou em italiano, inglês, francês, alemão, espanhol e português.

"1. O crescimento extraordinário dos meios de comunicação e a sua aumentada disponibilidade trouxeram oportunidades excepcionais para o enriquecimento da vida não apenas dos indivíduos, mas também das famílias. Ao mesmo tempo, hoje as famílias estão a enfrentar novos desafios, que derivam das mensagens, diversificadas e muitas vezes contraditórias, apresentadas pelos mass media. O tema escolhido para o Dia Mundial das Comunicações - «Os mass media na família: um risco e uma riqueza» - é um tema oportuno, dado que convida a uma reflexão sóbria sobre o uso que as famílias fazem dos meios de comunicação e, em contrapartida, do modo como os mass media tratam as famílias e as solicitudes familiares."

O tema deste ano recorda também a todos, tanto aos comunicadores como aos seus destinatários, que toda a comunicação tem uma dimensão moral. As pessoas crescem ou diminuem de estatura moral, de acordo com as palavras que elas pronunciam e com as mensagens que preferem ouvir.

Graças à expansão sem precedentes do mercado das comunicações nas últimas décadas, numerosas famílias no mundo inteiro, mesmo as que dispõem de meios bastante modestos, agora têm acesso, no seu próprio lar, a recursos mediáticos imensos e diversificados.

Não obstante, estes mesmos meios de comunicação possuem a capacidade de causar prejuízos graves às famílias, apresentando uma visão inadequada e mesmo deformada da vida, da família, da religião e da moral. Este poder, tanto para reforçar como para desprezar os valores tradicionais, como a religião, a cultura e a família, foi compreendido com clareza pelo Concílio Vaticano II. Os mass media, em qualquer forma que seja, devem inspirar-se sempre no critério ético do respeito pela verdade e pela dignidade da pessoa humana.

Estas considerações dizem respeito de forma particular à abordagem das famílias pelos meios de comunicação. Por um lado, o matrimónio e a vida familiar são frequentemente descritos de maneira sensível e realista, mas também com simpatia, de modo a exaltar virtudes como o amor, a fidelidade, o perdão e a abnegação generosa em prol dos outros. Isto é também verdade no que se refere às apresentações dos mass media que reconhecem os fracassos e as desilusões,mas, ao mesmo tempo, fazem um esforço em vista de separar o justo do injusto, de distinguir o amor verdadeiro das suas imitações e de mostrar a importância insubstituível da família como unidade fundamental da sociedade.

Por outro lado, a família e a vida familiar são também, com muita frequência, descritas de maneira inoportuna pelos meios de comunicação. A infidelidade, a actividade sexual fora do matrimónio e a ausência de uma visão moral e espiritual do vínculo matrimonial são descritas de maneira não crítica, enquanto às vezes se apresentam de modo positivo o divórcio, a contracepção, o aborto e a homossexualidade.

Não é fácil resistir às pressões comerciais ou às reivindicações de conformidade com as ideologias seculares, mas é isto que os comunidades responsáveis devem fazer.

As próprias autoridades públicas têm o sério dever de promover o matrimónio e a família, para o bem da sociedade em geral. Contudo, hoje muitas pessoas aceitam e agem segundo as argumentações libertárias efémeras dos grupos que defendem práticas que contribuem para o grave fenómeno da crise da família e para o debilitamento do próprio conceito de família. Sem recorrer à censura, é imperativo que as autoridades públicas definam políticas de regulação e procedimentos para garantir que os meios de comunicação não ajam contra o bem da família. Os representantes da família deveriam fazer parte deste empreendimento político.

Os meios de comunicação não deveriam parecer ter uma agenda hostil aos valores familiares sólidos das culturas tradicionais, ou a finalidade de substituir tais valores, como parte de um processo de globalização, com os valores secularizados da sociedade consumista.

Os pais, como os educadores primários e mais importantes dos seus filhos, são inclusivamente os primeiros a dar-lhes um ensinamento acerca dos meios de comunicação. Eles são chamados a formar os seus filhos no «uso moderato, crítico, atento e prudente dos mass media» em casa. Quando os pais o fazem de modo consistente e positivo, a vida familiar fica enormemente enriquecida.

Considerando o seu grande poder de formar ideias e de influenciar comportamentos, os comunicadores profissionais deveriam reconhecer que têm uma responsabilidade moral não apenas para dar às famílias todo o encorajamento, assistência e apoio possíveis, em vista desta finalidade, mas também para exercer a sabedoria, o bom juízo e a justiça na sua apresentação das questões que dizem respeito à sexualidade, ao matrimónio e à vida familiar.

Os meios de comunicação são recebidos diariamente como hóspedes familiares em muitos lares e famílias. Neste Dia Mundial das Comunicações, encorajo tanto os comunidades profissionais como as famílias a reconhecer o privilégio e a responsabilidade singulares que isto comporta."