Os 25 anos da prelatura do Opus Dei

Artigo do L’ Osservatore Romano da edição 10-11 de Março de 2008 (tradução do italiano).

Roma, 10 de Março

Uma criação do Concílio Vaticano ainda pouco conhecida. Vinte e cinco anos depois da Constituição Apostólica Ut Sit, com que João Paulo II instituiu a prelatura pessoal do Opus Dei, decorreu no dia 10 de Março na Universidade Pontifícia da Santa Cruz uma jornada de estudo e reflexão sobre o significado teológico e jurídico da prelatura. A figura da prelatura pessoal é, com efeito, relativamente recente na Igreja. Na verdade, foi pensada pelos Padres do Concílio Vaticano II, que, com esta figura, pretenderam oferecer mais um instrumento para o dinamismo pastoral da comunidade cristã. Um instrumento, foi sublinhado, que se demonstra cada vez mais actual, sobretudo numa sociedade abertamente marcada pela mobilidade das pessoas e pela multiculturalidade. O adjectivo “pessoal” vem a significar que a jurisdição do prelado não é delimitada por um território, antes afecta fiéis de várias dioceses, fiéis que pelas suas circunstâncias pessoais têm necessidade de um especial atendimento pastoral. Tais pessoas, com efeito, pertencem tanto à diocese onde residem como à prelatura pessoal.

Decorrido um quarto de século é, portanto, tempo de balanço. “Apesar de certas perplexidades iniciais, ligadas sobretudo ao tipo de coordenação pastoral com as Dioceses - afirmou Eduardo Baura, professor de direito canónico na Universidade da Santa Cruz e coordenador da jornada de estudo -, a decisão de dar vida às Prelaturas pessoais revelou ser um bem para as próprias Dioceses”. Disso deu também testemunho, durante o congresso, o cardeal vigário de Roma, Camillo Ruini, que sublinhou o importante contributo dado pela prelatura do Opus Dei para a vida pastoral da diocese que tem o Papa como bispo.

Hoje o Opus Dei é uma realidade particularmente viva e capilarmente presente em numerosos países. Fundado em 1928 por Josemaria Escrivá de Balaguer - canonizado no dia 6 de Outubro de 2002 - o Opus Dei recebeu em 1941 a aprovação do bispo de Madrid e, em 1947, da Santa Sé, e desde 1982 é uma prelatura pessoal. Pertencem-lhe - segundo os dados mais actualizados - 85.808 pessoas (dentre as quais 1.933 sacerdotes) das mais diversas categorias sociais e na maioria - 55 por cento - mulheres. Em Itália, onde os centros e a acção da Prelatura estão presentes em 27 cidades, os membros são cerca de quatro mil.

No entanto, a formação espiritual que o Opus Dei oferece é apenas complementar à acção realizada pelas Igrejas locais. As pessoas que passam a pertencer ao Opus Dei continuam a fazer parte das respectivas dioceses. Uma particularidade já presente na intuição do fundador. Esse aspecto foi posto em relevo, na sua intervenção, por D. Javier Echevarría, prelado do Opus Dei e Grão Chanceler da Universidade da Santa Cruz, que reconstruiu o percurso que conduziu ao reconhecimento jurídico da Prelatura. Antes de mais, porém, a intuição de Josemaria Escrivá de Balaguer foi a descoberta de um “horizonte apostólico”. Com efeito - disse o prelado do Opus Dei - o fundador “diante de tantos cristãos espalhados pelo mundo em cuja vida se podia constatar um divórcio entre a fé e a existência pessoal concreta, feita de trabalho e ocupações terrenas, sentiu-se chamado a promover uma instituição que tivesse por fim difundir entre as pessoas que vivem no mundo uma profunda consciência do chamamento universal à santidade, que Deus lhes dirige no baptismo. Uma instituição, pois, constituída por cristãos comuns que, conscientes das exigências que a vocação cristã comporta, se empenhassem em levá-las à prática com plena radicalidade e em transmitir aos outros essa descoberta, para difundir capilarmente a convicção de que a fé pode e deve impregnar a partir de dentro a inteira existência humana, com todas as realidades que a compõem: em primeiro lugar, as exigências do trabalho profissional e, em geral, a vida familiar e social”.

A santidade, portanto, não “apesar” do trabalho, mas “através” do trabalho, através do dar-se das realidades correntes da vida, isto constitui desde a origem o carisma da Obra. “Tratava-se - acrescentou D. Javier Echevarría - não da realização de uma actividade de apostolado limitada e restrita, exigida pelas circunstâncias dos tempos, mas de um horizonte ilimtado da santificação do mundo, da vivificação das ocupações e das realidades temporais mediante o espírito do Evangelho. Neste panorama estavam presentes o conjunto das realidades que se entrecruzam na vida comum de qualquer homem ou mulher, e atribui-se uma importância basilar ao trabalho profissional - qualquer que seja: diante de Deus não há trabalhos relevantes nem humildes - como elemento essencial da ligação do homem com o mundo”.