O mundo foi criado por Deus?

Donde vimos? Para onde vamos? Qual a nossa origem? Qual o nosso fim? Donde vem e para onde vai tudo o que existe? As duas questões, da origem e do fim, são inseparáveis. São decisivas para o sentido e para a orientação da nossa vida e do nosso comportamento.

Sumário

  1. Donde vimos? Qual é a nossa origem?
  2. Para onde vamos? Para que foi criado o mundo?
  3. O que é a glória de Deus?
  4. Se Deus Pai Todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as suas criaturas, porque existe o mal?
  5. Porque é que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não pudesse existir nenhum mal?
  6. Uma vez criado o Mundo, Deus abandona as criaturas?
  7. Se Deus é o Senhor da história e conhece o seu fim, não somos livres? Estamos predeterminados?
  8. Que significa que “o homem está chamado a submeter a terra”?
  9. Qual é o nosso fim? De onde vem e para onde vai tudo o que existe?

1. Donde vimos? Qual é a nossa origem?

Deus criou o Mundo segundo a sua sabedoria. Não é produto de qualquer necessidade, de um destino cego ou do azar. Acreditamos que procede da vontade livre de Deus, que quis que as criaturas fizessem parte do seu ser, da sua sabedoria, da sua bondade: “Porque tu criaste todas as coisas; por tua vontade o que não existia foi criado” (Ap 4,11).

“Quão numerosas são as tuas obras, Senhor! Todas fizeste com sabedoria” (Sal, 104,24. Catecismo da Igreja Católica, 295)

Textos de S. Josemaria para meditar

Que brote dos nossos lábios o afã sincero por corresponder, com um desejo eficaz, aos convites do nosso Criador, procurando seguir os seus desígnios com uma fé inquebrantável, com a convicção de que Ele não pode falhar. Amigos de Deus, 198.


2. Para onde vamos? Para que foi criado o mundo?

A Escritura e a Tradição não param de ensinar e celebrar que “o mundo foi criado para a glória de Deus” (Concílio Vaticano I: DS 3025). Deus criou todas as coisas, explica S. Boaventura, “não para aumentar a sua glória, mas para a manifestar e comunicar”. (...) Um só verdadeiro Deus, na sua bondade e por força todo-poderosa, para manifestar a sua perfeição pelos bens que concede às suas criaturas com desígnio libérrimo, precisamente desde o começo do tempo, criou do nada uma e outra criatura. (DS 3002). Catecismo da Igreja Católica, c. 293

Textos de S. Josemaria para meditar

Para que estamos no mundo? Para amar a Deus com todo o nosso coração e com toda a nossa alma e para estender esse amor a todas as criaturas. Ou será que isto parece pouco? Deus não deixa nenhuma alma abandonada a um destino cego, mas para todas tem um desígnio, a todas chama com uma vocação pessoalíssima, intransferível. Temas Atuais do Cristianismo, 106


3. Que é a glória de Deus?

A glória de Deus consiste em que se realize esta manifestação e esta comunicação da sua bondade, para as quais o mundo foi criado. Fazer de nós “filhos adotivos por meio de Jesus Cristo, segundo o consentimento da sua vontade, para louvor e glória da sua graça” (Ef 1,5-6). O grande objetivo da criação é que Deus, «Criador de todos os seres, seja por fim “tudo em todas as coisas” (1 Co 15,28), procurando ao mesmo tempo a sua glória e a nossa felicidade.»

Textos de S. Josemaria para meditar

Todos os que aqui estamos fazemos parte da família de Cristo, porque Ele mesmo nos escolheu antes da criação do mundo, por amor, para sermos santos e imaculados diante dele, o qual nos predestinou para sermos seus filhos adotivos por meio de Jesus Cristo para sua glória, por sua livre vontade. Esta escolha gratuita de que Nosso Senhor nos fez objeto, marca-nos um fim bem determinado: a santidade pessoal, como S. Paulo nos repete insistentemente: haec est voluntas Dei: sanctificatio vestra, esta é a vontade de Deus: a vossa santificação. Portanto, não nos esqueçamos: estamos no redil do Mestre, para alcançar esse fim. Amigos de Deus, 2.


4. Se Deus Pai Todo-poderoso, Criador do mundo ordenado e bom, cuida de todas as suas criaturas, porque e existe o mal?

A esta pergunta tão urgente como inevitável, tão dolorosa como misteriosa, não se pode dar uma resposta simples. O conjunto da fé cristã constitui a resposta a esta pergunta: a bondade da criação, o drama do pecado, o amor paciente de Deus que vai ao encontro do Homem com as suas alianças, com a Encarnação redentora do seu filho, com o dom do Espírito, com a congregação da Igreja, com a força dos sacramentos, com a chamada a uma vida bem-aventurada que as criaturas são convidadas a aceitar livremente, mas à qual, também livremente, por um mistério terrível podem negar-se ou rejeitá-la. Não há um traço da mensagem cristã que não seja, em parte, uma resposta à questão do mal. Catecismo da Igreja Católica, c. 309

Textos de S. Josemaria para meditar

Nosso Senhor quer que contemos com Ele para tudo: vemos com evidência que sem Ele nada podemos e que com Ele podemos tudo. E confirma-se a nossa decisão de andar sempre na Sua presença.

Com a claridade de Deus no entendimento, que parece inativo, torna-se-nos indubitável que, se o Criador cuida de todos - mesmo dos inimigos -, quanto mais cuidará dos amigos! Convencemo-nos que não há mal nem contradição que não venham por bem: assim assentam com mais firmeza, no nosso espírito, a alegria e a paz que nenhum motivo humano poderá arrancar-nos, porque estas visitas deixam sempre em nós algo de Seu, algo divino. Louvaremos o Senhor Nosso Deus que efetuou em nós coisas admiráveis e compreenderemos que fomos criados com capacidade de possuir um tesouro infinito. Amigos de Deus, 305


5. Porque é que Deus não criou um mundo tão perfeito que nele não pudesse existir nenhum mal?

No seu poder infinito, Deus poderia sempre criar algo melhor (cf. São Tomás de Aquino, S. Th. Q.25, a. 26). No entanto, na sua sabedoria e bondade infinitas, Deus quis livremente criar um mundo “a caminho” da sua perfeição última. Este processo traz consigo o desígnio de Deus, juntamente com o aparecimento de alguns seres, o desaparecimento de outros; com o mais perfeito, o menos perfeito, com as construções da natureza, também as destruições. Portanto, com o bem físico, existe também o mal físico, enquanto a criação não atingir a sua perfeição. (cf. São Tomás de Aquino, Summa contra gentiles, 3, 71).

Textos de S. Josemaria para meditar

A dor entra nos planos de Deus. Ainda que nos custe entendê-la, é esta a realidade. Também Jesus, como homem, teve dificuldade em admiti-la: Pai, se é possível, afasta de Mim este cálice! Não se faça, porém, a minha vontade, mas a tua. Nesta tensão entre o sofrimento e a aceitação da vontade do Pai, Jesus vai serenamente para a morte, perdoando aos que O crucificaram.

Ora, esta aceitação sobrenatural da dor pressupõe, por outro lado, a maior conquista. Jesus, morrendo na Cruz, venceu a morte. Deus tira da morte a vida. Cristo que passa, 168


6. Uma vez criado o mundo, Deus abandona as criaturas?

Realizada a criação, Deus não abandona a sua criatura a si mesma. Não só lhe dá o ser e o existir, mas também mantém a cada instante a sua existência, dá-lhe o comportamento e leva-a até ao fim. Reconhecer esta dependência completa com respeito ao Criador é uma fonte de sabedoria e de liberdade, de alegria e de confiança: «Amas a todos os seres e nada do que fizeste Te aborrece pois, se algo odiasses, não o haverias criado. E como poderia subsistir alguma coisa que não tivesses querido? Como se conservaria se não a tivesses chamado? Mas Tu tudo perdoas porque tudo é teu, Senhor que amas a vida.» (Sb 11, 24-26). Catecismo da Igreja Católica, c. 301

Textos de S. Josemaria para meditar

É preciso reconhecer Cristo que nos sai ao encontro nos nossos irmãos, os homens. Nenhuma vida humana é uma vida isolada; entrelaça-se com as demais. Nenhuma pessoa é um verso solto; todos fazemos parte de um mesmo poema divino, que Deus escreve com o concurso da nossa liberdade. Cristo que passa, 111

Ainda que tudo se vá abaixo e se acabe; ainda que os acontecimentos se sucedam ao contrário do previsto, com tremenda adversidade; nada se ganha perturbando-se. Além disso, recorda a oração confiante do profeta: "O Senhor é o nosso Juiz; o Senhor é o nosso Legislador; o Senhor é o nosso Rei; Ele é quem nos vai salvar".

Reza-a devotamente, todos os dias, para acomodar a tua conduta aos desígnios da Providência, que nos governa para nosso bem. Sulco, 855


7. Se Deus é o Senhor da história e conhece o seu fim, não somos livres? Estamos predeterminados?

Deus é o Senhor soberano do seu desígnio. Mas para a sua realização também faz uso das criaturas. Isto não é um sinal de fraqueza, mas de grandeza e bondade de Deus Todo Poderoso. Porque Deus não dá apenas a existência às suas criaturas, dá-lhes também a dignidade de atuar por si mesmas, de ser causas e princípio umas das outras e de cooperar assim na realização do seu desígnio. Catecismo da Igreja Católica, c. 306

Textos de S. Josemaria para meditar

A Igreja, nossa Santa Mãe, sempre se pronunciou pela liberdade e rejeitou todos os fatalismos, antigos ou menos antigos. Declarou que cada alma é dona do seu destino para bem ou para mal. E os que não se afastaram do bem irão para a vida eterna; os que cometeram o mal, para o fogo eterno. Impressiona-nos sempre esta terrível capacidade humana, tua e minha, de todos, que simultaneamente é o sinal da nossa nobreza. A tal ponto o pecado é um mal voluntário, que de nenhum modo seria pecado, se não tivesse o seu princípio na vontade; esta afirmação goza de tal evidência, que estão de acordo os poucos sábios e os muitos ignorantes que habitam no mundo. Amigos de Deus, 33

A atitude de um filho de Deus não é a de quem se resigna à sua trágica desventura; é, sim, a satisfação de quem já antegoza a vitória. Em nome desse amor vitorioso de Cristo, nós, os cristãos, devemos lançar-nos por todos os caminhos da Terra, para sermos semeadores de paz e de alegria, com a nossa palavra e nossas obras. Temos de lutar - é uma luta de paz - contra o mal, contra a injustiça, contra o pecado, para proclamarmos assim que a atual condição humana não é a definitiva; o amor de Deus, manifestado no Coração de Cristo, conseguirá o glorioso triunfo espiritual dos homens. Cristo que passa, 33


8. Que significa que “o homem está chamado a submeter a terra”?

Deus dá aos homens a inteligência e a liberdade para completar a obra da criação, para aperfeiçoar a sua harmonia para o seu bem e para o bom do próximo. Os homens, cooperadores por vezes inconscientes da vontade divina, podem entrar livremente no plano divino não só pelas suas ações e orações, mas também por sofrimentos (cf Col 1, 24). Então chegam a ser plenamente “colaboradores [...] de Deus” (1 Co 1, 9; 1 Ts 3, 2) e do seu Reino (cf Col 4, 11). Catecismo da Igreja Católica, cc. 307

Deus atua nas obras das suas criaturas. É a primeira causa em que opera em e para as segundas causas: “Deus é quem trabalha em vós o querer e o agir, como lhe parece bem” (Flp 2, 13; cf 1 Co 12, 6). Esta verdade está longe de diminuir a dignidade da criatura, realça-a. Criada do nada pelo poder, a sabedoria e a vontade de Deus, não pode nada se está separada da sua origem porque “sem o Criador a criatura dilui-se” (GS 36, 3); alcança ainda menos o seu fim se não tem a ajuda da graça (cf Mt 19, 26; Jn 15, 5; Flp 4, 13). Catecismo da Igreja Católica, c. 308

Textos de S. Josemaria para meditar

Pensai o que quiserdes em tudo aquilo que a Providência confiou à livre e legítima discussão dos homens, mas a minha condição de sacerdote de Cristo impõe-me a necessidade de subir mais alto e de vos lembrar que, em qualquer caso, nunca podemos deixar de viver a justiça, com heroísmo, se for necessário. Amigos de Deus, 170


9. Qual é o nosso fim? Donde vem e para onde vai tudo o que existe?

Deus é o Senhor do mundo e da história. Mas os caminhos da sua providência são-nos, com frequência, desconhecidos. Apenas no final, quando o nosso conhecimento parcial tiver fim, quando virmos Deus “cara a cara” (1 Co 13, 12), ser-nos-ão plenamente conhecidos os caminhos pelos quais, incluindo através dos dramas do mal e do pecado, Deus terá conduzido a sua criação até ao repouso desse Sabbat (cf Gn 2, 2) definitivo, em vista do qual criou o céu e a terra. Catecismo da Igreja Católica,314

Textos de S. Josemaria para meditar

– Está completo o tempo, e aproxima-se o Reino de Deus; fazei penitência, e crede no Evangelho (Mc 1, 15).

– E vinha a Ele todo o povo, e ensinava-o (Mc 2, 13).

Jesus vê aquelas barcas na margem, e sobe para uma delas. Com que naturalidade se mete Jesus na barca de cada um de nós!

Quando te aproximares do Senhor, lembra-te de que Ele está sempre muito perto de ti, dentro de ti: Regnum Dei intra vos est (Lc 17, 21). No teu coração O encontrarás.

Cristo deve reinar, em primeiro lugar, na nossa alma. Para que Ele reine em mim, preciso da sua graça abundante, pois só assim é que o mais impercetível pulsar do meu coração, a menor respiração, o olhar menos intenso, a palavra mais corrente, a sensação mais elementar, traduzir-se-ão numa hossana ao meu Cristo Rei.

Duc in altum – Ao largo! – Repele o pessimismo que te torna cobarde. Et laxate retia vestra in capturam – e lança as redes para pescar.

Devemos confiar nessas palavras do Senhor: meter-se na barca, pegar nos remos, içar as velas e lançar-nos a esse mar do mundo que Cristo nos deixa em herança.

Et regnum ejus non erit finis. – O Seu Reino não terá fim!

Não te dá alegria trabalhar por um reinado assim? Santo Rosário, Terceiro Mistério Luminoso, O Anúncio do Reino de Deus