História da aparição de Nossa Senhora em Lurdes
Ano de 1858. Ao sul da França, no sopé dos Pirenéus centro-ocidentais, existe uma pequena localidade, cuja população ronda os quatro mil habitantes. Conta-se que Mirat, um chefe sarraceno, ocupou a fortaleza que domina a aldeia em 778. Mais tarde, acabou por se converter ao cristianismo e o seu nome de batismo, Lorus, foi dado à cidade, que mais tarde se tornaria Lurdes.
Em Lurdes vive Marie-Bernarde Soubirous – a quem chamam Bernadette – a mais velha de uma família numerosa e muito pobre; tem catorze anos e ajuda a mãe nos trabalhos domésticos. Na quinta-feira, 11 de fevereiro, um véu de névoa envolve a cidade e as montanhas em redor. O dia está muito frio e húmido. Bernadette, a sua irmã Toinette e uma amiga, Jeanne, saem à procura de lenha em Massabielle. Num determinado ponto do caminho, é preciso atravessar um pequeno canal, que desagua no rio Cave. Do outro lado, acima de uma gruta, vê-se um nicho oval esculpido na rocha. Nos arredores, muitos galhos secos. Ela mesma se lembra do que aconteceu naquele momento: “Um dia fui à margem do Rio Cave buscar lenha com outras duas raparigas. Imediatamente, ouvi um barulho. Olhei para a pradaria, mas as árvores não se moviam. Então levantei a cabeça em direção à gruta e vi uma mulher vestida de branco, com um cinto azul claro e em cada um dos pés uma rosa dourada, da mesma cor das contas do seu rosário.
Pensando que estava enganada, esfreguei os olhos. Enfiei a mão no bolso para encontrar o meu terço. Quis fazer o sinal da cruz, mas não consegui levar a mão à testa. Quando a Senhora fez o sinal da cruz, eu tentei também fazer e, embora a minha mão tremesse, consegui fazê-lo. Comecei a rezar o terço, enquanto a Senhora desenrolava as contas, embora sem separar os lábios. No final do terço, a visão desapareceu”.
A Virgem aparece-lhe dezoito vezes: doze em fevereiro, quatro em março, uma em abril e a última em 16 de julho do mesmo ano de 1858. Só Bernadette a vê. À medida que as aparições acontecem, multidões de pessoas vêm ao seu lado; notam uma grande alegria no seu rosto, mas não conseguem ver ou ouvir nada. Até à terceira aparição, em 18 de fevereiro, a Senhora não fala. Naquele dia, quando Bernadette lhe oferece papel e uma caneta para escrever o seu nome, a Senhora disse-lhe no dialeto patois local – o das províncias de Béarn e Bigorre –: “Não é necessário... Não te prometo fazer-te feliz neste mundo, mas sim no outro”. No dia 24 daquele mês, na oitava aparição, sussurra: “Penitência, penitência, penitência...” E acrescenta: “Reza pela conversão dos pecadores”. No dia seguinte, por ordem expressa da Senhora, Bernadette escava com as mãos a fonte de Lurdes, cuja água tem feito tantos milagres e continua a fazer. No dia 2 de março pediu que ali fosse erguida uma capela, para onde iriam em procissão. E finalmente, na décima sexta aparição, em 25 de março, a Senhora revela o seu nome. Bernadette pergunta-lhe três vezes seguidas. No início, Ela sorri, sem responder. “À minha terceira pergunta, a Senhora juntou as mãos e colocou-as sobre o peito... olhou para o Céu... então, separando lentamente as mãos e inclinando-se para mim, disse: Que soy éra Immaculada Councepciou, sou a Imaculada Conceição”.
Bernadette corre a contar ao pároco, o padre Peyramale, inicialmente cético e desconfiado das aparições, que fica impressionado ao ouvi-la. Conhece a ignorância religiosa da menina, que ainda não tinha feito a Primeira Comunhão – recebê-la-ia em 3 de junho daquele ano – e que não tinha ouvido falar do dogma proclamado quatro anos antes por Pio IX: que a Virgem foi concebida sem pecado.
O Bispo de Tarbes nomeia uma comissão que estuda o assunto e em 1862 aceita as aparições da Virgem como verdadeiras. Chegam também as aprovações pontifícias: em 1876, Pio IX delega ao Arcebispo de Paris a consagração do templo; Leão XIII aprovou em 1891 a festa da Aparição da Imaculada em Lurdes, é em 11 de fevereiro que Pio X a torna festa universal; e Pio XI beatifica e canoniza Bernadette.
A presença da Senhora em Massabielle também se manifesta pelos milagres, espirituais e materiais, que ali acontecem.
Em tempos difíceis
Nossa Senhora de Lurdes está especialmente ligada a uma página cativante da história do Opus Dei: o fim da travessia dos Pirenéus que S. Josemaria fez em 1937, com vários dos seus filhos e outras pessoas, durante a guerra em Espanha.
10 de dezembro era o dia designado para deixar o Principado de Andorra e passar para França, donde entrariam novamente em Espanha pela fronteira de Hendaia. Para S. Josemaria ficavam para trás dias inesquecíveis e intensos, marcados por forte cansaço físico e, nas primeiras fases, por um profundo desassossego interior, perante a incerteza sobre se a decisão tomada tinha sido a adequada; depois, uma carícia de Santa Maria nos bosques de Rialp confirmou-lhe o acerto da viagem empreendida.
Em Andorra, conseguiram uma licença de passagem por terra francesa que durava vinte e quatro horas. O tempo pressionava, as estradas não eram seguras, a neve era abundante, o frio era intenso e o esgotamento físico de todos era evidente.
“No entanto, não fomos diretamente para Hendaia – escreve Pedro Casciaro, um dos acompanhantes de S. Josemaria –: o Padre queria fazer escala em Lurdes para agradecer a Nossa Senhora. O vento era cortante e estávamos todos molhados até aos ossos, mortos de frio e a tiritar. Partimos para Lurdes muito cedo. O Padre ia em silêncio, muito recolhido, preparando a Santa Missa. Fizemos um tempo de oração e rezámos o terço. Ao chegar, depois de superar algumas dificuldades na sacristia do Santuário – o Padre não tinha conseguido uma batina e não queriam deixá-lo celebrar a Missa –, pôde celebrar, devidamente vestido com uma casula de corte francês branca, no segundo altar lateral da direita da nave, bastante próximo da porta de entrada da cripta. Eu ajudei-o. Em Lurdes não estivemos mais de duas horas. ...” (Pedro Casciaro, Sonhai e ficareis aquém).
Por volta das nove e meia, o Fundador do Opus Dei celebrou a Santa Missa a poucos metros da Gruta de Massabielle. É fácil imaginar a intensidade desses momentos, a força com que S. Josemaria rezaria pelos seus filhos, pela paz em Espanha e no mundo, pela expansão do Opus Dei.