Meditações: segunda-feira da XXII semana do Tempo Comum

Reflexão para meditar na segunda-feira da XXII semana do Tempo Comum. Os temas propostos são: Jesus oferece a sua salvação a todos os homens; a missão dos cristãos; quando surge a recusa.


QUANDO o Senhor começou a sua vida pública, São Lucas conta que Jesus se dirigiu a Nazaré, a aldeia onde decorreu a sua infância. Como era sábado, foi à sinagoga e levantou-se para fazer a leitura (Lc 4, 16). E, desenrolando o livro de Isaías, proclamou as seguintes palavras do profeta: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu para anunciar a boa nova aos pobres. Enviou-me a proclamar a redenção aos cativos e a vista aos cegos» (Lc 4, 18; Is 61, 1-2). Depois enrolou o livro e sentou-se. Entretanto, todos na sinagoga, expectantes, tinham fixos os olhos n’Ele (cf. Lc 4, 20). Cristo rompeu o silêncio com umas palavras que surpreenderam os que ali estavam presentes: «Cumpriu-se hoje mesmo esta passagem da Escritura que acabais de ouvir» (Lc 4, 21).

Com efeito, a vida de Cristo está marcada pelo anúncio da salvação a toda a humanidade. Os milagres que realiza – profetizados por Isaías – confirmam que o Reino de Deus está já presente, proclamam a derrota definitiva de Satanás e manifestam o seu poder de salvar o homem do mal que ameaça a alma. Por isso o Senhor não se limita a realizar esses milagres para judeus, mas os estrangeiros também são testemunhas desses sinais. Jesus não põe barreiras ao seu amor. Somente pede que nos aproximemos dele com humildade e com fé. «O ponto de partida da vida cristã não está no facto de ser dignos; com aqueles que se julgavam bons, bem pouco pôde fazer o Senhor. Quando nos consideramos melhores que os outros, é o princípio do fim. O Senhor não realiza prodígios com quem se crê justo, mas com quem sabe que é indigente. Não é atraído pela nossa habilidade, não é por isso que nos ama. Ele ama-nos como somos e procura pessoas que não se bastam a si mesmas, mas estão prontas a abrir-Lhe o coração»[1].


«O ESPÍRITO do Senhor está sobre mim, porque me ungiu» (Lc 4, 18). No Antigo Testamento, a unção consistia em derramar óleo sagrado sobre a cabeça de alguém como manifestação de que Deus tinha escolhido essa pessoa e que a acompanharia na sua missão. Nós, cristãos, fomos ungidos no Batismo, pelo que «somos libertos do pecado e regenerados como filhos de Deus, tornamo-nos membros de Cristo e somos incorporados na Igreja e tornados participantes na sua missão»[2]. Tal como a vida de Jesus, a nossa existência também pode revelar, pela graça de Deus, a misericórdia divina com todos os homens. Podemos encarnar esta missão apostólica, em primeiro lugar com as pessoas que tratamos habitualmente, já que a vida ordinária é o lugar da nossa doação diária aos outros.

«Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo. É preciso considerarmo-nos como que marcados a fogo por esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar. Nisto uma pessoa se revela enfermeira no espírito, professor no espírito, político no espírito..., ou seja, pessoas que decidiram, no mais íntimo de si mesmas estar com os outros e ser para os outros. Mas, se uma pessoa coloca a tarefa dum lado e a vida privada do outro, tudo se torna cinzento e viverá continuamente à procura de reconhecimentos ou defendendo as suas próprias exigências»[3].

Pelo Batismo fomos ungidos para colaborar na obra de amor de Jesus, para participar na sua missão redentora, que é universal. «O cristão sabe que está enxertado em Cristo pelo Batismo; habilitado a lutar por Cristo pela Confirmação; chamado a atuar no mundo pela participação que tem na função real, profética e sacerdotal de Cristo; feito uma só coisa com Cristo pela Eucaristia, Sacramento da unidade e do amor. Por isso, tal como Cristo, há de viver voltado para os outros homens, olhando com amor para todos e cada um dos que o rodeiam, para a Humanidade inteira»[4].


DEPOIS de anunciar que a profecia sobre o Messias se cumpria na sua pessoa, o Senhor antecipa-se às objeções que, por inveja ou obstinação, os da sua pátria tinham em relação às maravilhas feitas por Ele em toda a Galileia. «Em verdade vos digo: nenhum profeta é bem recebido na sua terra» (Lc 4, 24). O Senhor ilustra a universalidade do amor de Deus com dois passos da Bíblia em que o profeta Elias foi enviado a socorrer uma mulher fenícia e o profeta Eliseu foi solicitado para curar um homem sírio, antepondo-os a viúvas ou leprosos judeus. «Ao ouvirem estas palavras, todos ficaram furiosos na sinagoga. Levantaram-se, expulsaram Jesus da cidade e levaram-n’O até ao cimo da colina sobre a qual a cidade estava edificada, a fim de O precipitarem» (Lc 4, 28).

Cristo encontrou admiração e agradecimento quando começou a sua missão redentora; pessoas que se maravilharam perante as suas obras e acolheram com alegria a sua mensagem de salvação. No entanto, também encontrou resistência entre alguns judeus, sobretudo aqueles que eram mais zelosos dos seus próprios pontos de vista. Algo semelhante acontece na missão de cada cristão: juntamente com os que recebem com entusiasmo a Boa Nova, não faltam também os que a recusam. Talvez por isso pode surgir o desânimo perante a falta de frutos visíveis ou o medo da reação que iremos provocar nos outros. No entanto, São Josemaria fazia notar que mesmo nesses casos em que a nossa ação parece estéril, Deus atua na alma de cada um: «Não existe coração, por mais empedernido no pecado, que não esconda, como rescaldo no meio da cinza, um lume de nobreza. Sempre que bati à porta desses corações, a sós e com a palavra de Cristo, sempre corresponderam»[5].

Cada dia, na oração, podemos recordar a missão recebida que abarca toda a nossa vida e pedir a graça de Deus para nos lançarmos na tarefa de aliviar a dor, de servir a todos, de aproximá-los com as nossas palavras e com as nossas ações da misericórdia de Jesus. «Saiamos para oferecer a todos a vida de Jesus Cristo. (...) Prefiro uma Igreja acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas, a uma Igreja enferma pelo fechamento e a comodidade de se agarrar às próprias seguranças»[6]. Podemos pedir à Virgem Maria que nos ajude a empreender com valentia a missão de levar o amor do seu Filho às pessoas que nos rodeiam.


[1] Francisco, Homilia, 29/06/2019.

[2] Catecismo da Igreja Católica, n. 1213.

[3] Francisco, Evangelii Gaudium, n. 273.

[4] São Josemaria, Cristo que passa, n. 106.

[5] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 74.

[6] Francisco, Evangelii Gaudium, n. 49.