Meditação do Prelado (11 de abril): A Luz que o mundo precisa

Quarto áudio do Prelado sobre a Páscoa. O tema central é a Luz e a alegria da Páscoa que nos “anuncia que não estamos atados pelos nossos pecados passados, pelo peso dos nossos erros anteriores, pelos limites que percebemos na nossa vida”.

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«Lumen Christi!». A Luz de Cristo! Estas são as palavras que a Igreja faz ressoar aos nossos ouvidos no início da Vigília Pascal, que começa na escuridão da noite.

«Lumen Christi!». Repete-se três vezes, enquanto se vão acendendo as velas dos participantes na celebração litúrgica. A luz de Cristo rompe as trevas do pecado e da morte! Jesus ressuscitou! É a mensagem de alegria que daqui por alguns dias, voltaremos a receber.

As santas mulheres, que souberam acompanhar o Senhor na altura da Paixão, abrem-nos caminho para a luz da Ressurreição.

Nestes dias anteriores, meditámos na entrega total de Jesus por nós: desde a instituição da Eucaristia na Última Ceia, até a morte na Cruz. Agora, vemos como a escuridão do Calvário não é a última palavra. As santas mulheres, que souberam acompanhar o Senhor na altura da Paixão, abrem-nos caminho para a luz da Ressurreição. Jesus premeia o carinho que as impulsionou a quererem embalsamar o Seu corpo e converte-as nas primeiras portadoras da alegria da Páscoa.

Como às santas mulheres, também a nós a notícia da ressurreição nos dá uma nova luz para as nossas vidas, nestes momentos tão dolorosos da humanidade. S. Paulo recorda aos Romanos que nós, cristãos, nos unimos à morte do Senhor" para que, assim como Cristo ressuscitou de entre os mortos pela glória do Pai, assim também nós caminhemos numa vida nova " (Rm 6, 4).

A Páscoa anuncia-nos que não estamos atados pelos nossos pecados passados, pelo peso dos nossos erros anteriores, pelos limites que percebemos na nossa vida.

A Páscoa anuncia-nos que não estamos atados pelos nossos pecados passados, pelo peso dos nossos erros anteriores, pelos limites que percebemos na nossa vida, pelas circunstâncias mais ou menos difíceis de um tempo como o de agora. Por isso o Apóstolo volta a dizer: "considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus em Cristo Jesus" (Rm 6, 11).

Ao comemorarmos a Ressurreição de Jesus, queremos responder ao convite do Senhor para caminharmos numa vida nova. Mas de que novidade se trata? O ritmo da nossa vida é geralmente marcado pelas mesmas coisas, que se repetem: o trabalho, o lugar, as pessoas de sempre. Talvez tenhamos notado isso, sobretudo os que nestes dias estamos obrigados a não sair de casa por causa da pandemia.

Em que consiste o sentido de novidade da Páscoa? Consiste na luz da fé que se projeta na nossa existência, e que é vivificada pela caridade e sustentada pela esperança.

"Esta certeza que a Fé nos dá faz-nos olhar para o que nos cerca com uma luz nova e, permanecendo tudo igual, leva-nos a ver que tudo é diferente, porque tudo é expressão do Amor de Deus"

S. Josemaria refere-o a assim: "Esta certeza que a Fé nos dá faz-nos olhar para o que nos cerca com uma luz nova e, permanecendo tudo igual, leva-nos a ver que tudo é diferente, porque tudo é expressão do Amor de Deus". [1]

Sim, pela fé sabemos que Jesus caminha ao nosso lado na vida quotidiana, fazendo-nos descobrir o seu verdadeiro sentido e valor. A fé leva-nos a encontrar Jesus, que talvez nos espere no pedido que outra pessoa da família nos faz, no favor que podemos prestar a um vizinho, no telefonema que fazemos a alguém que se sente sozinho ...

Pela fé, sabemos que o trabalho feito por amor é sempre valioso, porque se torna uma oferta ao nosso Pai Deus. Talvez agora estejamos a aperceber-nos de quantas coisas escapam ao nosso controlo, e de que não podemos apenas confiar só nas nossas forças para alcançarmos o que nos propusemos fazer.

Talvez se insinue a tentação do desânimo. Ajudar-nos-á o facto de nos lembrarmos que Jesus ressuscitado está ao nosso lado enquanto nos esforçamos para trabalhar em circunstâncias adversas

Talvez se insinue a tentação do desânimo. Ajudar-nos-á o facto de nos lembrarmos que Jesus ressuscitado está ao nosso lado enquanto nos esforçamos para trabalhar em circunstâncias adversas, pensando na nossa família e em todo o mundo. Se trabalhamos com Cristo, todos os nossos esforços fazem sentido, mesmo quando os resultados que esperamos não chegam, porque o eco das obras que se fazem por amor chega sempre ao Céu.

Depois de anunciar às santas mulheres a notícia da ressurreição de Jesus, o anjo acrescenta: "Mas ide e dizei aos Seus discípulos e a Pedro que Ele vai adiante de vós para a Galileia: lá O vereis, como Ele vos disse" (Mc 16, 7). E os discípulos terão de voltar à Galileia, ao lugar onde tudo começou, à terra que diariamente percorreram com o Mestre, durante os anos da Sua pregação. Também a nós nos é feito o mesmo apelo: voltar à nossa Galileia, à nossa vida quotidiana, mas levando-lhe a luz e a alegria da Páscoa.

O Papa Francisco recordou-o há alguns anos: “Voltar à Galileia significa, sobretudo, voltar aí, a esse ponto incandescente em que a graça de Deus me tocou, no início do caminho. Com esta chispa, eu posso acender o fogo para hoje, para cada dia, e levar calor e luz aos meus irmãos e irmãs” [2]. Quanto nos ajuda, nos momentos de dificuldades, recordar aquelas vezes em que o Senhor se fez presente na nossa vida, e renovar a confiança n’Ele.

Recorramos assim à intercessão de Nossa Senhora. No dia da Ressurreição, contemplamo-la, radiante de alegria pelo regresso do seu Filho

Acolhamos o convite do Senhor. Consideremos muitas vezes o significado da alegria da Páscoa - uma alegria compatível com o sofrimento -, recebamos a luz que Ele nos quer dar e partilhemos essa alegria no nosso ambiente.

Como as santas mulheres, vamos anunciar com alegria a realidade de que Cristo vive. Que esta certeza se reflita nas nossas vidas: na serenidade, na esperança, na caridade com que queremos encher os nossos dias. Recorramos assim à intercessão de Nossa Senhora. No dia da Ressurreição, contemplamo-la, radiante de alegria pelo regresso do seu Filho. Também para cada um de nós chegará esse momento, e pelo poder de Deus, se somos fiéis, viveremos para sempre em Cristo Jesus.


[1] Cristo que passa, nº 144.
[2] Homilia na Vigília Pascal, 19-4-2014

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