Eu venho de uma família que se divide basicamente entre Evangélicos e Católicos. A minha família paterna é Evangélica e a materna é Católica, mas de “IBGE”, ou seja, não praticam a religião. Dessa forma, não tive muitos exemplos de católicos e acabei tendo mais influência da minha família paterna. Comecei a acompanhar as minhas tias na igreja e sempre que a nossa família se reunia, fazíamos um culto. Em 2010, quando eu estava com 18 anos, me batizei na Igreja Presbiteriana em Palmas e depois migrei para a Igreja Batista. Estava feliz e satisfeita com a minha fé, até que em 2012 eu comecei a namorar o Danilo, meu atual marido.
O Danilo era católico e eu protestante e, a princípio, isso não era um problema, pois nos dávamos bem e eu tinha certeza que ele ia acabar se convertendo ao protestantismo, mas, coincidentemente, ele tinha o mesmo pensamento de que eu me converteria ao catolicismo.
Com o passar do tempo foram surgindo as dificuldades, porque eu sempre levei a minha vida espiritual a sério e o Danilo também. Considerando que eu estava mais envolvida na minha igreja e ele na dele, resolvemos terminar o namoro devido à nossa incompatibilidade religiosa. Não havia condições de casarmos sendo que discordávamos em pontos fundamentais sobre como seria a condução espiritual da nossa família.
Ficamos uns quatro meses separados e no final de 2014 voltamos, mas com o mesmo problema, pois ambos continuavam com as mesmas convicções.
No início de 2015, a história começa a tomar outro sentido. Resolvi tirar uns dias de descanso depois de um período corrido com o término da faculdade e, em um desses dias, estava navegando na internet e apareceu um link do google escrito: “A jornada de um ex-Batista rumo ao Catolicismo”. Eu cliquei e comecei a ler o relato, era a história do Fábio Salgado, que é mestre em filosofia e tinha uma vida intelectual profunda. Ele veio de uma família protestante e nunca teve nenhum contato com o catolicismo. Resolveu estudar a história do cristianismo desde o princípio e relata com muita precisão sua trajetória e as referências que o acompanharam nesse percurso de dois anos de estudo, concluindo que a igreja católica é, de facto, a Igreja primitiva.
Nesse relato, ele também conta que tinha uma namorada que era protestante, ele havia se convertido e ela continuava protestante. No final, ele deixou o e-mail dele e eu fiquei instigada a escrever, mas com um interesse maior em saber como estava sendo o relacionamento, afinal de contas, eu estava vivendo algo semelhante.
Mandei um e-mail e surpreendentemente recebi a resposta dele no dia seguinte, e impressionou-me toda a atenção que ele me dispensou. Começamos a conversar e, em síntese, ele me catequisou. Depois, por meio do Fábio, eu conheci o Padre Paulo Ricardo e comecei a acompanhar seus vídeos. Além disso, passei a ter contato com as obras do Scott Hahn, um ex-pastor presbiteriano que se converteu ao catolicismo.
Um dos seus livros mais conhecidos se chama “Todos os caminhos levam a Roma”, relata a história da sua conversão. Inclusive, o Danilo tinha me dado esse livro um pouco antes de terminarmos, mas eu não me sentia preparada na época para fazer essa leitura.
Conversando com o Fábio, ele disse que o primeiro passo seria ler esse livro do Scott Hahn, mas um detalhe: quando eu comecei a conversar com ele eu não tinha a menor pretensão de me converter ao catolicismo, queria apenas saber como lidar com o relacionamento. Mas, conversando com ele, percebi que não perderia nada em estudar e ler esses livros, pois poderia servir, eventualmente, como um meio para reafirmar o meu posicionamento.
Nos três meses seguintes li diversos livros do Scott Hahn, a saber, “Todos os caminhos levam a Roma”, “O Banquete do Cordeiro”, “Salve, Santa Rainha”, bem como assisti muitas aulas do Padre Paulo Ricardo. Durante esse tempo de estudo eu não contei nada para o Danilo.
À medida que fui estudando, percebi que os católicos não eram tão ignorantes quanto eu pensava. Descobri que liam a Bíblia e que, ainda que eu não entendesse muito bem, havia uma explicação lógica para cada doutrina e que o ponto não estava em ler ou não a bíblia, mas a interpretação correta dela. Com o passar do tempo, de modo irresistível fui me rendendo ao fato de que existia uma interpretação que vinha da autoridade de uma igreja que existe há mais de dois mil anos. Uma instituição que tem durado mais tempo que qualquer outra e sobreviveu a períodos trágicos de sua história, sendo sempre coerente nos seus pronunciamentos de fé e moral. Apesar de tudo, a igreja nunca sofreu uma instabilidade na doutrina, o que demonstra uma unidade preservada.
Bom, após esses três meses de estudo, em uma conversa com o Danilo, eu acabei contando para ele tudo que estava acontecendo, mas pedi que agisse com o máximo de discrição possível.
Foi um período muito difícil para mim porque eu queria mesmo seguir a verdade, então eu pedia a Deus que não me deixasse enganar por um sentimento, mas que, de facto, eu estivesse onde fosse o correto. Então tomei muito cuidado para não sofrer influências do Danilo, porque eu queria ter certeza que tudo isso era por Deus. Pedi que não ficasse me convidando para ir com ele à Missa e outras coisas que tivessem relação com a Igreja.
Tudo isso aconteceu no ano de 2015 que, além do mais, foi um ano muito difícil para mim, porque já não me sentia bem na minha igreja, mas também não estava ainda muito à vontade na igreja católica. Quando chegou o final do ano, eu tive certeza que não tinha mais como voltar atrás e que o caminho era me tornar católica.
O ano de 2015 também foi importante porque nesse ano eu conheci muitos católicos praticantes, que era um ponto crucial para mim, já que eu não tive exemplos de bons católicos até então. Nesse mesmo ano, Danilo se mudou de Palmas e foi muito bom porque eu temia sofrer qualquer influência dele nessa época.
Depois, eu comecei a rezar muito pedindo por um diretor espiritual. Até que em fevereiro de 2016, nós estávamos em um retiro de carnaval e chegou no local um Frei Carmelita, vestindo o hábito em um calor de 40°c e eu fiquei impactada e com muita vontade de falar com ele. Aproximamo-nos e eu comecei a conversar com ele e fui percebendo uma empatia imediata. Minutos depois, eu perguntei a ele se frei poderia ser diretor espiritual também ou só padre e ele me disse que poderia e se dispôs a me acompanhar.
Eu ainda não tinha contado para ele a minha história, até que ele comentou que trilhou outros caminhos antes de se tornar frei, que tinha, inclusive, sido evangélico. Naquele momento, eu me senti muito querida por Deus e meus olhos começaram a se encher de lágrimas, era como se Deus estivesse mais uma vez confirmando o caminho.
Então ele começou a me acompanhar, mas, infelizmente, dois meses depois foi transferido para São Paulo. Porém, antes disso, ele me direcionou para uma turma de catequese e, providencialmente, tive um catequista muito bom e que me ajudou muito. Em 2016 fiz essa catequese. Eu já tinha sido batizada na igreja presbiteriana e a Igreja católica considera válido este batismo, então eu só precisava fazer a minha profissão pública de fé e receber a Eucaristia e a Crisma.
Foi um momento lindo e emocionante. Logo após eu recitar a minha profissão de fé, o Bispo me deu um abraço e foi como o abraço da Igreja. Hoje eu posso dizer que a riqueza espiritual da Igreja Católica me trouxe uma paz interior que eu nunca tinha sentido. O sentimento de pertença à história de uma Igreja que perdura há tantos anos é incrível. Hoje posso dizer: nós só amamos aquilo que conhecemos e isso exige muita disposição da nossa parte. Precisamos conhecer o fundamento da doutrina para amá-la e, garanto, vale muito à pena!