Jovem e do Opus Dei: “Faz parte da vocação sair da própria zona de conforto”

Thomas pertence desde há pouco tempo ao Opus Dei. Nesta entrevista, revela-nos a descoberta e impressões sobre a sua vocação.

Thomas (o último à direita) com os seus amigos Francesco, Victor e Iñigo, de Munique.

Caro Thomas, com 22 anos, és agora o numerário mais novo da região da Europa Central, optaste pelo celibato e desde há uns meses, és membro do Opus Dei. Como tem sido a tua vida em Munique desde então?

Nada mudou de forma assim tão dramática. Por um lado, isso é o que é fantástico no Opus Dei: a situação de cada um em nada muda com a entrada. Por outro lado, moro desde essa altura aqui em Munique na Residência em Max Tor 95, onde vivem também outros membros do Opus Dei e estudantes universitários. A mudança de residência é uma situação, pela qual passam todos os estudantes que, para frequentar uma determinada universidade, separam-se dos pais e passam a integrar-se numa residência partilhada.

Estudas Biologia a partir deste semestre. Que dizem os teus colegas, ao saber que estás no Opus Dei e que não vais casar?

Até janeiro de 2024, frequentei uma instituição preparatória em Munique, para poder estudar na Alemanha com um Abitur [ano de acesso à Universidade] do estrangeiro. Já nessa altura, os meus colegas aperceberam-se rapidamente de que não vivia num apartamento partilhado habitual. Temos uma capela, há também alguns numerários que já são profissionais. No entanto, o conhecimento geral é tão limitado que o termo Opus Dei não lhes diz praticamente nada. Sem preconceitos, pude mostrar com muita facilidade o que me move e Quem apoia e sustenta a minha vida. As reações têm sido exclusivamente positivas.

Onde viveste, para teres acabado o ensino secundário no estrangeiro?

O meu pai é alemão e a minha mãe, equatoriana. Já nasci em Munique, os meus pais vivem atualmente em Estugarda, com o meu irmão mais novo. Por motivo da profissão do meu pai, mudámos várias vezes de cidade. Vivemos cinco anos em Abu Dhabi, cinco anos no Chile, três anos no Equador. Foi lá que acabei o ensino secundário em 2021. Estas mudanças de local têm-nos unido muito como família. O meu irmão mais velho mora agora em Madrid e, apesar disso, temos uma relação muito próxima. Quando em criança se tem que mudar tantas vezes, a família torna-se uma âncora mais forte para o desenvolvimento.

Como compreenderam os teus pais a tua vocação para o Opus Dei e como numerário?

A nossa família já tinha conhecido o Opus Dei na América Latina. Inscrevi-me cedo com os meus irmãos nos clubes juvenis e os nossos pais apreciaram muito a influência positiva sobre nós ainda novos. No Chile, o Opus Dei já está muito espalhado, o que nos ajudou como família a fazer muitas amizades. Os meus pais acabaram por discernir a sua própria vocação para o Opus Dei antes de mim. Mas mesmo assim, não é óbvio que um filho anuncie, de repente, que não vai transmitir o nome da família e que não vai ter filhos. Os meus pais sempre me deram muita liberdade. Claro que notaram que a minha vocação tinha amadurecido. Olham para ela com grande serenidade, porque veem que irradio paz interior e que estou bem.

Estavas a dizer que a tua vocação amadureceu. Então não foi como um raio que te atingiu?

Não, foi um processo. Como disse, no Chile a Obra está muito espalhada. Lá, sentia-me um entre 1000, e participei, sobretudo, em atividades. De certo modo, ia na corrente. No Equador, era diferente. Lá, a Obra ainda é muito reduzida e, rapidamente, atribuíram-me responsabilidades, organizei passeios de grupo e dei catequese juntamente com outros jovens. Assim, fui-me apercebendo como crescia, cada vez mais, o meu amor a Deus e à Igreja. Tinha uma sensação muito forte de estar em casa. As excursões que fizemos juntos e as conversas que tivemos foram particularmente importantes para me ajudar a reconhecer esta vocação na minha vida. Estou incrivelmente grato por isso. Isto também mostra muito claramente que somos uma família global. A vocação é a mesma em todo o lado.

Alguma vez tiveste dúvidas sobre a tua vocação?

Tive sobretudo um pensamento: serei capaz de me apaixonar tão profundamente por alguém que nunca vi antes, ao ponto de isso durar toda a minha vida?

Mas consegui responder a esta pergunta na oração e também ao considerar a longa história da Igreja e dos santos: sim, é possível. Rezo muito para que eu também consiga e sei que a minha família também me apoiará na oração. Por isso, nunca tive dúvidas; senti-me mais como numa aventura, numa caminhada com uma bússola, mas sem mapa – por outras palavras, um destino claro, mas um caminho desconhecido.

Thomas (ganz rechts) mit weiteren Bewohner des Hauses MaxTor 95

Agora vives em Munique numa casa moderna com quartos bonitos mesmo ao lado da Universidade e estudas Biologia. Este já não soa lá muito a caminho desconhecido.

Para começar, isso é verdade. Anseio pelo dia, em que mude para outro sítio, seja por motivos profissionais, seja porque uma tarefa do Opus Dei me espere lá. Tal como a vocação foi um salto no escuro, gostaria de viver mais algumas aventuras. Isto inclui também sair da minha zona de conforto e deixar-me guiar por Deus. Também gosto de deixar que Ele me conduza até aos limites, como diz o Papa Francisco.

Na Alemanha, o Opus Dei goza de uma reputação difícil nalguns meios de comunicação social e nalguns círculos. No entanto, decidiste dar diretamente esta entrevista e tornar pública a tua pertença ao Opus Dei. O que te moveu?

Quando a própria família é atacada, isso geralmente produz resistência. A resistência cristã é a evangelização. Isso só é possível com grande abertura. Para isso, tenho de mostrar grande abertura e não me posso esconder atrás de possíveis desvantagens. O Opus Dei é vanguardista. Temos uma imagem do leigo com um elevado grau de responsabilidade pessoal e poder de decisão. Não temos de nos esconder por isso. O cristianismo consequente foi sempre a exceção na história e causou sempre um abanar de cabeças, uma incompreensão e uma rejeição. Foi assim ao longo da história. Mas não podemos simplesmente sentar-nos no sofá e sentir-nos confortáveis. Quero que as pessoas saibam quem sou e que a minha vocação para o Opus Dei faz parte da minha personalidade.