José Luis Chinguel: “Cada pessoa tem o seu próprio itinerário para Deus”

José Luis Chinguel é um dos 29 fiéis do Opus Dei, provenientes de 14 países, que em 9 de novembro receberam a ordenação diaconal das mãos de D. Philippe Jourdan, administrador apostólico da Estónia, na basílica de Santo Eugénio, em Roma e será ordenado sacerdote em 5 de setembro pelo cardeal Pietro Parolin.

Economista de profissão, antes de partir para Pamplona, onde realizou os seus estudos eclesiásticos, José Luis foi professor na Universidade Nacional de Piura e na Universidade de Piura (UDEP). Antes da ordenação [diaconal], deu a entrevista que se segue.

Da Economia à Teologia, e da Teologia à receção do sacramento da Ordem – que significa para si esta mudança de vida?

Vim para Pamplona em 2015, para estudar na Faculdade de Teologia da Universidade de Navarra, depois de ter cursado Economia em Piura, trabalhado alguns meses no Banco Central e lecionado durante 13 anos na universidade, além de me dedicar, juntamente com outros colegas, à investigação e consultoria.

Decidi então dedicar-me a estudar, a tempo inteiro, a ciência teológica e a investigar no campo da Doutrina Social da Igreja. Na verdade, quase sem me aperceber, durante os anos da universidade, tinha começado a aprofundar os aspetos humanistas do desenvolvimento económico, bem como os fundamentos éticos da atuação humana.

Antes de vir para Espanha, sabia que, concluídos os estudos eclesiásticos, complementados com uma formação espiritual adequada, estaria em condições de receber do Prelado do Opus Dei o convite para aceder às ordens sagradas, ao qual respondi que sim. No final deste percurso, percebo que é isso que dá sentido a todos estes anos de preparação, com vista à cura de almas, que esperam do sacerdote doutrina certa e um interesse sincero.

Pode dizer-se, pois, que passei da Economia do desenvolvimento para outra "economia", que consiste em procurar os meios adequados para alcançar o fim que é a salvação das almas. No entanto, o tema da minha tese de doutoramento, que se enquadra no magistério social de Bento XVI e de Francisco, é um estudo sobre a possibilidade de exercitar a lógica do dom e da gratuidade no campo da Economia.

Note também que, no meu percurso até à ordenação como sacerdote de Jesus Cristo, fico com uma grande dívida de gratidão aos meus pais e irmãos, assim como aos professores e amigos que me ajudaram na minha formação pessoal.

É comum encontrar, nos homens e nas mulheres do século XXI, casos como o de Santo Agostinho, que antes da sua conversão tinha sede de Deus, de um amor verdadeiro e autêntico. Enquanto futuro sacerdote, como pensa chegar a esses novos agostinhos do mundo de hoje com esperança e amor?

Cada pessoa tem o seu próprio itinerário para Deus, e o seu tempo. Embora a conversão seja uma etapa importante, não chega. O próprio Santo Agostinho exortava os seus leitores a não se deterem no progresso da vida interior. A nossa condição é a de caminhantes para a casa do Pai.

Recordo que o meu pai foi, durante muitos anos, em peregrinação a um santuário dedicado ao Cristo Nazareno, que é mais conhecido como o Senhor Cativo de Ayabaca, na cordilheira de Piura. Não o fazia apenas por ter feito uma promessa em favor da família, mas também pela fé que tinha e o desejo de ajudar os outros peregrinos. Ou seja, para chegar a um destino é necessário percorrer um caminho e tomar a decisão de o fazer, mas também são necessárias forças para persistir. Essas forças vêm-nos de Deus nos sacramentos, especialmente a Reconciliação e a Eucaristia, e também da comunhão dos santos.

Isso que refere, a sede de Deus nos homens e nas mulheres, faz-me lembrar a passagem da samaritana que pede a Jesus que lhe dê de beber da "água viva" para nunca mais ter sede. E ocorre o milagre da sua conversão, numa altura em que Jesus estava cansado do caminho porque tinha andado a evangelizar noutra cidade; apesar do cansaço, Ele converteu a alma daquela mulher. Isso é um sinal de que, quando as pessoas vão ter com um sacerdote, o facto de este estar cansado não deve ser um impedimento para as receber. Ou seja, o sacerdote deve estar disponível, mesmo que perceba as suas limitações.

S. Josemaria ensinou os seus filhos a amar o mundo apaixonadamente. Como vai ajudar as outras pessoas a apaixonarem-se por Jesus Cristo, como o fundador do Opus Dei pedia, no seu novo estado sacerdotal?

Tive a sorte de estar na Universidade de Navarra quando foi celebrado o 50º aniversário da homilia “Amar o mundo apaixonadamente”, onde o Fundador do Opus Dei nos ensina, entre muitas outras coisas, a amar este mundo, que é bom porque saiu das mãos de Deus. Mas também nos põe de sobreaviso para os perigos da vida moderna, como o de ter uma vida dupla; perigo que se vence com uma formação e uma ajuda espiritual que consolidem a unidade de vida dos cristãos. Nesse processo, os sacerdotes desempenham um papel indispensável e insubstituível, exercendo o seu ministério em nome de Cristo e fazendo do seu estado sacerdotal uma disponibilidade permanente. Também é um desafio para o sacerdote ser instrumento de unidade, e não de divisão ou de disputas. Ele existe para servir quem precisa e quem estiver ao seu alcance ajudar.

Ao domingo à tarde, costumava praticar futsal no pavilhão desportivo da Universidade de Navarra, com outros estudantes e profissionais (o "fulbito", tão famoso no Peru). Devo dizer que muitos dos que ali se reuniam para praticar esse desporto participaram, nesse mesmo local – depois de alterado o cenário e a decoração –, na Missa por ocasião da festa do Fundador da Universidade, bem como nas missas da Novena da Imaculada.